É fascinante perceber como repetem-se as chamadas argoladas, vá lá as cagadas, que continuam a fazer sem que sintam qualquer peso na consciência. Um dos factores mais influentes desse fenómeno da vida, a mão humana é aquela que perturba a ordem das coisas.
Há uns anos atrás, uma senhora cheia de boa vontade e muita fé, resolve de pegar nos pincéis e tintas e faz o "restauro" da imagem de Jesus, deixando-o grotescamente parecido com uma daquelas bonecas de soprar pelo pipo (salve seja) e que deu origem à um post aqui no estaminé. Não bastando essa enormidade houve quem, não resistindo ao chamamento da boa intenção e muito tempo por preencher, resolve pintar de forma irreparável uma imagem do século XVI de S. Jorge, na Igreja de São Miguel em Navarra. E eu olho para aquilo e só vejo a cara do Buster Keaton, o homem que não ria; fico a pensar em quem é o responsável por dar a permissão dessa calamidade à quem não tem competência para tal.
Pois o/a "artista" em questão conseguiu ser manchete nos jornais digitais de todo mundo e não pelas melhores razões. Acho que realmente há-que fazer-se algo por todos estes séniors desocupados, fartos de bancos de jardim e demasiado tempo a olhar para nada. E quem já teve oportunidade de vê-los em alguns centros de dia, que os colocam em frente duma televisão nas tarde aparvalhadas de programas de mundo cão e de artistas pimba, acredita que há algo melhor a fazer com eles.
Acredito que aqueles dotados de vontade e veia artística deveriam fazer como a vovó Anezka
Kasparkova, com 90 anos e vivendo na República Checa, que dedica seus dias a pintar casas com uma delicadeza e revivendo motivos regionais, fazendo valer ao mesmo tempo um gosto e uma ocupação.
Como é óbvio, a intenção dessa paroquiana era dar uma ajuda para que o santo matador de dragões ficasse de cara lavada. Mas nem as tintas nem os processos são os mais adequados, e por muita boa vontade e fé que tenha demonstrado, acabou por estragar mais do que ajudado.
É daquelas coisas que uma pessoa pensa, que mais vale estar quieto do que fazer caca. Por outro é simplesmente desconcertante notar que afinal, os mesmos erros vão sendo cometidos, fazendo apanágio dessa tendência irritante de não aprender nada com as experiências, sejam nossas ou alheias.
Assim sendo, é esperar pelas cenas dos próximos capítulos para perceber até que ponto poderão estragar mais uma bela obra de arte, seja sacra ou profana...é só dar umas tintas e pincéis e permissão à quem não devem.
Rakel.
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