O Último Domínio





" A imaginação é mais importante que o conhecimento." Esta frase curta e de efeito revolucionário do tio Albert, o Eistein, coloca a nossa mente no parquinho de diversões do imaginário e tira das salas de aula com matéria chata, massuda e repetitiva; dos empoeirados pergaminhos obscuros e de linguagem hermética e pede que se coloque a moleira ao sol, de calções e óculos escuros a bebericar sumo e deitados na espreguiçadeira.

Sou daquelas pessoas que acreditam que usar a caixa dos pirolitos apenas para encontrar as verdades absolutas nos colocam num lugar limitado e com os mesmos problemas que o desgraçado do Ariel teve.

Todas as verdades são questionáveis e colocar o conhecimento e o intelecto num patamar superior acaba por ser uma bela desculpa para escapar do inevitável problema das nossas vidas: ganhar ou perder faz parte. A vida não é só trabalho, casa e obrigações, nem será também gajas e copos como disse aquele senhor que não bate bem da pinha e que representa a U.E. Meio termo, bom senso...se faz favor.

Então, permitam-me esclarecer, eu não percebo essa história que tantas vezes colocam, de várias e coloridas maneiras, de que há uma briga entre o cérebro e o coração, numa simbologia que se traduz naquilo que sabemos e aquilo que sentimos. Sabemos perfeitamente o que sentimos e sentimos que faz toda lógica, mesmo contra todas as teorias e hipóteses. Talvez o que crie realmente problemas é querer que haja uma lógica linear nos sentimentos e ao mesmo tempo pedir que esses sentimentos ganhem o estatuto de espontâneo, natural.

Eu sei que é muito mais fácil de gerir e de viver com várias leis pessoais de seguir à risca, um caminho conhecido de percorrer nunca trará surpresas desagradáveis, mas também não encontrará agradáveis. Nem sequer surpresas. Não fazem amolgadelas nem nos vão tirar horas de sono, nem trará questões de múltiplas respostas ou a velha questão: o que falhou? Lamento profundamente que hoje seja cada vez mais difícil arriscar, ou melhor dizendo, permitir-se arriscar em algumas situações que parecem, assim na primeira olhada, um gesto de alto risco.

Se a cabeça conhece o risco, se está escarrapachado nos olhos de qualquer cidadão que é algo que escapa do controle e mesmo assim a pessoa atira-se, não culpem sentimentos ou emoções se já sabia de antemão ao que iam. Sabiam, arriscaram. Duas hipóteses: será a melhor coisa que aconteceu ou a pior. E nas duas alternativas há sempre algo a retirar de experiência que valem todas as dores de cotovelo, lenços de papel ou a devastação do fígado em afogamento de mágoas. Pelo menos permitiu-se perceber que apesar de tudo, foi de alma aberta.

Por outro lado, dar rédea solta à imaginação é viver como que num livro escrito e reeditado várias vezes sem revezes, controlado pelo que queremos que seja e de que seja mais seguro do que viver as incógnitas futuras: idealiza-se, imagina-se o enredo, controlam-se danos e o mundo dos unicórnios e chapeleiros loucos torna-se o lugar de refúgio e uma incubadora com tudo certinho, desde a temperatura ao alimento e rabinho seco.

O registo fácil será esse equilíbrio natural, de que todas as coisas precisam, no fio bambo da nossa natureza torta.

O que realmente me mete uma certa impressão é esta colecção de controlados zombies que estão vegetando dentro das suas limitadas paredes de conhecimento e desse controle de régua e esquadro medindo cada cada acção, cada reacção no reduto do último domínio.  Estamos num mundo de zombies que se arrastam por aí, querendo comer conhecimento e sem fazer uso de nada do que conhece e sentem.



Vi este filme, que talvez possam achar menor, sem jeito. Aceito qualquer tipo de crítica. Eu consegui encontrar um paralelo em muitas coisas que vejo (a cena de recordar como as pessoas sabiam comunicar entre si é daquele tipo de ironia que acho piada) e que acho que também conhecem. Digamos que em determinada altura, o coração adormecido do zombie R começa a saber voltar a bater, e que contra todas as teorias e hipóteses, o que fez isso acontecer, era a menos razoável e melhor opção. Mas funcionou. Achei que mesmo sendo um risco chamar de alegoria, cabe bem dentro do estado actual que muita gente está: vivendo sem viver, jogando culpas entre guerras interiores e sobrevalorizando um lado sobre outro. Ele permitiu-se imaginar,sonhar e arriscar no que acreditava.

Estas coisas não tem tem resposta mágica, nem equações irrefutáveis; tudo muda de um momento para outro, fora dos limites esconsos e regulados;  não precisam que hajam grandes revoluções exteriores.

Apenas acontecem.


Apareçam

Rakel.


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