Tenho visto com uma certa diversão, alguns valores culturais a serem colocados em causa, umas por questões de pura sensibilidade pessoal, outras por motivos óbvios de equilíbrio. Andamos sempre a vogar entre um extremo e outro nunca sentido o a vontade do meio termo...
Se há coisa complicada de gerir são as sensibilidades pessoais. Cada um tem a sua, mais ou menos formada por si mesmo ou pelas necessidades e "modelos" sociais aceites. E nas diferentes épocas da nossa passagem pelo tempo, cada forma estética e de expressão das nossas sensibilidades foram diferentes. Será interessante de frisar, que em todas as linguagens artísticas, a mulher era o alvo favorito. Esculpida, pintada, desenhada, declamada e cantada, a mulher era o alvo primordial das artes e expressões sensíveis. E aí chegamos na parte estética pura e simples...
A beleza ou conceitos de beleza variavam conforme a sociedade e local no nicho histórico, porque enquanto a mulher bela do clássico passa por Botticelli, completamente descorada, de ar meio famélico, no barroco era praí um festival de celulite e regueifas mil nas mãos de Rubens... A mulher delicada então, tanto poderia ser uma diáfama haste de papoila ao vento, como poderia ser um pujante girassol na palheta da estética. Talvez aí me faça pensar que a estética seja apenas uma questão mais pessoal que a imposta. Ou não? Sei lá, há uns anos foi criado o conceito Mulher Dove, que cada qual do seu jeito tinha o seu encanto...mas é mesmo assim?
Essa pergunta andou a vagar aqui pelo meu T-Zero por simples visualização de várias tendências correntes no LivrodaTromba. Uma rapariga colocou esta foto e perguntou qual dessas mulheres agradava mais ao público masculino.
Por incrível que pareça, a nº 3 teve uma boa cotação e bastante renhida com a nº2, a mulher cheinha e com algo onde se agarrar é um preferência bastante interessante. Porque embora nas propagandas nos façam questão de dizer que se pode emagrecer fazendo vibrar as massas adiposas, ou tomando comprimidos que funcionam enquanto estamos a dormir...nada como se agarrar a algo fofo né?
Mas do ponto de vista estético de uma certa faixa "conhecedora" ainda prevalece que o bonito é a mulher cabide. Me pergunto se não será um tique de alguém que se vê sem mamas e rabo e que almeja um corpo que a natureza lhe negou a dar... e sem sair do armário, prefere colocar como aceite a mulher escanzelada, sem formas e nada saudável.
Daí que por mais que nos imponham modelos ditos "correctos" de beleza, a verdade que não é bem isso que cai no gosto da sensibilidade geral. Daí que faz todo sentido esta matéria do Henrique Raposo, onde num apelo sentido sugere que se volte a colocar na publicidade... mulheres normais, aliás, achei fascinante pedir que sejam mulheres e não meninas acabadas de sair da infância. Sintomático que embora a pedofilia seja um dos grandes males sociais, onde se debate ainda a idade para sexo consensual, na verdade a publicidade de lingeries está pejadinha de ninfetas a cheirar a leite. Oferece pra todo marmanjo babão a figura da menina...sexy e provocante. Mas deviam esperar ela chegar a ser mulher pra isso né??
Então vamos ver.. o conceito de Mulher Dove, que muita gente fez piada, no final das contas fica valendo mais do que nunca. A malta cansou nas mulheres photoshop, retocadas e sem defeitos, bonecas de porcelana apenas pra ver. Se há uma mudança de mentalidade, se ela for para que as pessoas deixem de sonhar com algo que não existe na realidade... seja bem vida essa mudança. Melhor ainda quando essa mudança chega pelas mãos de uma das revistas de moda e conceito estético mais conhecidas do mundo. As mulheres a Fellini... cheias, portentosas e muito femininas...na Vogue. Leiam a matéria colocada lá dentro...
Escolhas daquilo que são gostos e sensibilidades, deveria ser algo que não careceria ter modelo ou conceito. Deveria ser tão livre como as vontades e precisões. E que isso saia desta esquadria e vá para outras... que se acabe com os outros tiques socialmente correctos e sejam mais genuínos. Porque isso de ser igual a manada...não tem piada nenhuma...
... e o mais giro disto tudo, é que quando se encontra alguém que esteticamente se encaixa no nosso conceito de belo, muitas vezes foge do que todos aceitam como belo. Ou então quando é aceite por todos.. torna-se uma verdadeira desilusão para nós...
...engraçado né?
Apareçam
Rakel.
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