Na Calada Da Noite




É um post para a posteridade

Uma pessoa que passou pela fase das otites infantis, dentes a nascer, febres e bronqueolites, sabe perfeitamente o que é uma noite insone, de levantar da cama umas 300 vezes e no dia seguinte ficar meio zombie.  Eles crescem e deixam de dar más noites, felizmente.

Aí uma pessoa é acordada às três da manhã com a chinfrineira de uma gata eléctrica a brincar com uma bola saltitona, fazendo com ela ricochete para continuar a persegui-la e tornar a brincadeira mais divertida. Três da manhã numa cidade pacata e onde todo som na calada da noite reverbera em dobro.

E uma pessoa levanta-se e vai tirar a bola da criaturinha, ralha com ela e manda-a deitar. Nem quinze minutos depois ouve-se o mesmo estardalhaço e nota-se a diferença duma cabeçada na porta (e a dela já não é lá essas coisas) do rebatido da bolinha... outra bolinha. E vou outra vez buscar a @!!!|ª da bola, ralho de novo e ela olhando-me com olhos tristes de quem não está a fazer nada de errado. E não está, se não fossem as horas inapropriadas para o jogo.

Nem tinha aquecido o lugar na cama e escuto dessa vez a bola marcar golo na porta da rua... e já nos cascos vou dar com outra dessas bolinhas infames.

Passados uns dez minutos, escuta-se em alto e bom som um carretel de linhas de madeira a rolar pelo corredor... e uma pessoa desiste.

O X da questão é: onde ela encontrou as bolinhas? Onde ela encontrou o carretel? Onde ela esconde toda essa tranqueira? Após aturada análise na manhã seguinte, chego à conclusão que durante esta época de despejo de inutilidades, e no monte daquilo que estava catalogado como "de saída" ela foi retirando itens que achava interessantes. E esconde-os muito bem, porque uma pessoa no dia seguinte não encontra nada de nada. Quando toda gente está a dormir e ninguém com quem brincar e fazer asneiras, ela vai aos esconderijos (e se ela sabe esconder, catano!) retira os brinquedos novos e distrai-se sozinha fazendo o barulho que lhe dá na pequena e tresloucada cabecita.

Em 1º plano de olhos vermelhos de capeta e M de malandra e meliante na testa a louca por bolas saltitonas. Em 2º plano o tipo que tem fixação por caixas e não perturba ninguém. Dia de deitar fora inutildades.

Esta noite, dada por vencida pelo sono, ficou outro insone a catar bolinhas; disse-me hoje de manhã que calhou de serem as saltitonas primeiro e depois uma de plástico com guizos dentro. Só mais tarde lembrei-me de que tinha uma caixa plástica... cheia de bolinhas saltitonas que tinham sido coleccionadas durante anos pelos rapazes. E parece que ela não só roubou todas, como vamos passar noites a fazer colheita delas até acabar. Muitas e muitas noites... felizmente, as de guizos são só três e uma já cá canta.


Rakel.



Comentários