A Paixão É Feita De Suspiro



A razão que me leva a voltar a tocar no assunto é uma certa osmose amorosa que pulula por aí e que me faz uma certa confusão. Perdoem-me se por acaso me repetir, mas penso que o ditado água mole em pedra dura, ainda tem o seu quê de certo... e vale para quem não anda a vasculhar os primeiros posts do blog.

Há uns anos atrás, o meu filho mais velho ainda na adolescência, teve uma fase para ouvir Tony Carreira... não foi de graça nem para me aporrinhar os ouvidos em modo de rebeldia. Não era nada disso, era porque a namoradinha que vivia na aldeia gostava das músicas do delicodoce do topete. O rapaz até já se via a casar na igreja lá da parvalheira como manda o figurino, com direito a copo d'água de dois dias. Eu aguentei as músicas dor de corno, os livros dos Morangos (ahhh pois é, ele que nem rótulo de lata lia devorou toda aquela trampa) e depois aguentei a queda de tudo, já que o pai da moça era contra e ela não lutou pelo amori juvenil. Mas foi amori ou paixão assolapada?

Isso foi um caso adolescente, aquelas coisas que acontecem e ficam na história pessoal de cada um; da fase mórbida do pós rompimento, ficou um rapaz que gosta de Jazz (mais pros lados dos Blues), de Pink Floyd, do Rui Veloso, Scorpions e que taxativamente detesta ler um livro, mas devora todos os artigos sobre astronomia na internet e vasculha o site da NASA sempre que pode. Cresceu, entendeu que uma pessoa precisa ser o que é e aceite como tal, que mesmo fazendo tudo pra agradar, nem sempre dá certo.

Por outro lado, e dando uma de Margarida Rebelo Pinto, venho me repetir e bater na mesma tecla: amor pode ser uma descaracterização pessoal,  uma perda de personalidade em prol de.... amor?  Esse sacrifício pessoal será mesmo necessário para o amori?  Será paixão sem dúvida essa cegueira que pega de estaca no coração de muita gente. O que me perturba realmente é ver isso acontecer na idade adulta. Ela que sempre foi adepta da Briosa desde os tempos da faculdade, agora por amori, é do Sporting e vai aos jogos com namorido. É, tou a falar contigo mesmo!

Da mesma forma acho caricato e um bocado... estranho essa aglutinação de palavras e gírias que muitos pegam por namorar com alguém de uma nacionalidade diferente. E como me deixa apardalada ao ler, de maneira quase que corriqueira,escreverem como se fossem nacionais lá do país dele ou dela. Quim Azeitona, tu que me alertaste para o meu português abrasileirado (mesmos sendo realmente brasileira, paulistana de gema) havias de te sentir envergonhado ao ler passagens de Tugas a usarem termos que não são deles ou delas... mas dos amados.

E lá vem a mesma coisa de novo: ela não sai porque ele não quer ir (ela até quer ir, sair um bocado, rir com os amigos e amigas) e ficam os dois no sofá, ela a ver um filme e ele olhando pra dentro. Ela deixou de beber vinho porque o fofuxo dela disse que a cerveja fazia melhor que o vinho. Por outro lado conheço uma que deu um ultimato : ou ela ou o rancho folclórico... e isso seria a prova de amori da parte dele, deixar de andar de viagem em viagem e ficar juntinho dela. Credo... isso é amori?

Olha, já me rogaram muitas pragas, uma delas diz justamente respeito a este tipo de crítica que faço, que na minha modesta opinião é construtiva. Dizem as más línguas, que mais dia menos dia hão de me ver a fazer estas figuras tristes. Quer dizer, uma pessoa vem aqui  dar por antecipação os apontamentos necessários que mais tarde, na idade da razão, hão de fazer luz nessas cabeças... e acham que eu vou cair na esparrela. Definitivamente, não me conhecem.
Não há felicidade em anulação pessoal, em compor personagem para agradar outro protagonista. Ou os dois são protagonistas e amam ou um é protagonista e o secundário apenas vive cego na paixão. E eu não nasci pra ser secundária em coisa nenhuma, nunca gostei de papel secundário na minha própria vida e não há de ser agora, já crescidita e madura (cota como dizem os filhos) que vou repetir um erro que vejo constantemente por aí.

A Paixão cega, desconstrói a personalidade de uma pessoa, descompassa o pensamento e bebe das águas da ilusão. Dura o tempo que durar, deixa apenas a certeza que perdeu um tempo medonho em ser o que não era e, mesmo assim, longe do ideal desejado. Caem as máscaras, despe-se o fato alegórico e diante do espelho está... quem? A pessoa em si? O que sobrou da anterior? Ou o personagem que não deu certo?

Continuo na minha, amor a sério, no duro... não é isso. E não sou só eu que penso assim, o Sr. Pipoco Mais  Salgado, um homem que anda nisto dos blogs há mais de 50 anos, pegou no seu alter-ego e teve um tu cá tu lá, em jeito de explicação. Paixão... é giro, mas feito suspiro, mal metemos na boca é de uma doçura extrema... mas desaparece logo da boca e não deixa nada.

O giro de ser adulto e ter passado pelas paixões que até vendem o anel de rubi, mesmo sabendo que ela era doutro mundo, é depois saber que não é por aí. Nem pela procura em todos os corpos e camas da pessoa certa que mantenha durante muito tempo a tesão emocional. Tesão emocional é algo transcendental e quase mágico e não aparece com frequência. A física, mesmo quando falha... há comprimidos que ajudam a resolver.
A gente chega num ponto, que só a idade da razão oferece, que conseguimos perceber aquilo que nos faz bem e o que não nos faz, do que realmente sentimos ou não e do que realmente queremos e precisamos.
Mas sem deixar de ser quem é, sem perder a personalidade, o seu espaço pessoal e, o mais importante de tudo, o seu respeito pessoal.

Porque deixar-se pegar e deixar-se guiar e ser moldado... é coisa de criança.

Apareçam

Rakel.

Comentários