Do Contra? É Livre Escolha



Não, não gosto de lampreia, sim sim,  já experimentei e não gostei. Ok, ok... eu tenho as papilas gustativas desarranjadas, palato mal ensinado e tudo e tudo. Mas não gosto de lampreia, de cabidela de lampreia ou o raio que seja. Prefiro comer túbaros, bem arranjadinhos são supimpa e com molhinho para encharcar o pão caseiro...é fantástico.

Não, não... não gosto dos filmes do Truffaut, nem do Godard...valhamesantagrelância, nem Manuel de Oliveira. Tá bem, tá certo...quem tem dois dedos de testa e um bocadinho de bagagem intelectual aprecia as obras cinematográficas destes senhores. Então eu sou burra feito um armário, não sei distinguir o bom do mau, embora aprecie no conjunto o facto de terem revirado o panorama cinematográfico da altura, mas acho-os uma seca. Daquelas que mais me parece um castigo que outra coisa qualquer ao que se refere a arte na tela. Perguntei noutra noite destas, depois de um jantar, a razão pela qual toda gente aclama Manuel de Oliveira, e disseram-me que era por ser o único realizador do mundo a passar os 100 anos de idade no activo. Ok, ficou a dica.

Não gosto do Nicholas Cage, acho-o canastrão, ok, ok, gostei de ver o filme 8mm, um filme denso, um enredo que nos pega. Mas não era por causa do Cage, era a história. Cidade dos anjos, com Meg Ryan e Cage, a dupla que dispenso. Ai Meg...da geração de actrizes dos anos 80, tu não foste mais além dos romances... mas toda gente gosta do sobrinho do Coppola, da menina, embora já nem tanto, dos filmes de tarde de sábado. E vou dizer uma enormidade, com direito a veto e exclusão; eu não gosto de Pulp Fiction. Pronto, já disse.  Tarantino, meu amigo, antes prefiro Kill Bill que é mais ou menos uma paródia ao mundo dos filmes de acção do que o rol de asneirada entre Travolta e o Samuel. Mas parece que tenho que gostar do Pulp Fiction...por que toda gente gosta. Mas eu não gosto. Aproveitando a onda... eu não gosto de Il Divo, nem do Leonard Choen, desculpem os fãs, aceito que o senhor seja um excelente compositor, mas dá-me nervos ouvi-lo cantar. Nem de Alboran, nem Buble, nem dos Carreira. A Stela há de colocar Choen no carro só pra atazanar-me a cabeça e castigar-me por não gostar da "voz sensual" do senhor. Sacrifícios que uma pessoa faz pela amizade...

Recuso-me a aceitar que andar o dia todo em cima de uns saltos de 10 cms seja confortável, que dá bom andar e por aí vai. Apoiar o dia todo o peso do corpo em cima só dos dedos dos pés e da parte mais carnudinha perto deles, não é confortável de todo. Dá-te uma silhueta mais esguia? Dá elegância? Pergunto, é prático andar com elas nas calçadas nacionais? Na escolha entre conforto e elegância elejo o conforto como meta. Salto, no máximo, com uns 5 cms, mais do que isso descontrola-me a sensação de bem estar; não preciso de mais altura, tenho o que chegue, ando mais a pé do que de carro, portanto, saltos não são opção.

Não me apetece emagrecer, não acho que a diferença de 5 quilos vão fazer a minha felicidade; aceito que a meta de muita gente seja livrar-se dos indesejáveis 2 quilos que ganharam. Que contem calorias, que fechem a boca e que vivam só de sopas. Já fui muito magra, não por qualquer imposição, mas sim uma cenazita endócrina, e não agradou, fui criticada. Ganhei peso e consegui parecer mais ajeitada... e agora sou "gorda", e quem me chamou de gorda foi uma gaja, eu cá acho que estou bem, mas pra ela não. A balança diz que peso e altura estão correctos, mal distribuídos, mas dentro da tabela do saudável. Portanto falem... que eu cá não me incomodo. E como bombocas sim, e rancho.. e molho o pão no fim da salada. E só por causa disso não ando de mau humor.

Sou míope, de verdade, e agora uso óculos o que tornou a minha vida bastante diferente, digamos que abriram-se outros horizontes e deu-me uma perspectiva interessante das pessoas. Antes, quem passasse por mim há uns 3 mts de distância... era escusado perguntar quem era. Não distinguia feições, detalhes faciais e nem se estava bem ou não. Digamos que foi a época mais democrática: toda gente era igual, a aparência contava menos e deu-me tempo para conhecer pelas acções e palavras as pessoas. Em ambientes escuros ser míope é... andar mesmo à deriva. O que tomavam o meu olhar como misterioso, era a minha necessidade de focar durante mais tempo alguma cara que me parecia familiar. Em locais de diversão... só coloco óculos se for caso de interesse público.

E dentro dessa coisa do olhar, sim, gosto de olhar para um homem bonito, embora o meu conjunto de avaliação estética não seja a mesma que a de outras, ou até seja. Brad Pitt é bonito, queiram ou não, é sim senhor. É o rascunho do homem ideal? Não sei, não o conheço, não sei como ele é, o que pensa, se pensa, do que o motiva no mundo. Sim, gosto de olhar um homem bonito, mas isso não quer dizer que isso me encante.  E aí bate a diferença de tudo que importa: pode ter o corpo de um deus, a cara de um ano caído... mas se não encanta... náááá... não vai.

Eu não gosto de novelas de TV, toda gente acompanha alguma, menos eu. Não por ser do contra, mas gaita, é sempre a mesma coisa: a mocinha, a vilã, o mocinho que emprenha pelos ouvidos; os ricos e os pobres. Os ricos são infelizes e os pobres lutam mas são felizes, mesmo ceguinha, coxa, na prisão... arre.

Não sei se para quem me lê neste momento ache de algum interesse este rol de gostos e desmandos. Não é isso que interessa no assunto. Na verdade o que realmente importa é este direito que todos nós temos de dizer, escolher o que realmente queremos e gostamos. Não vejo e não percebo a vantagem de continuamente seguir o caminho de todos os outros. Dizer que sim só para ficar bem visto, para ter uma imagem mais interessante como intelectual. Estas listas de coisas boas que toda gente acha que é o correcto não coloca ninguém em melhor situação. Se fosse assim, Hitler seria o homem dos sonhos de muitas mulheres: ele era vegetariano e fazia desporto, entre caminhadas e escaladas sentia-se bem; não bebia bebida alcoólicas; não fumava, era defensor da vida animal, daí o vegetarianismo; escreveu um livro e foi um líder nato. Chanfrado, megalómano, carismático, maluco de todo.  E foi o que foi. Mas na maior parte dos casos, as qualidades podem ser muito boas, aquilo que TODA gente acha o melhor nem sempre alcança resultado positivo.

Então, se faz favor, embora não seja muito popular, nem seja muito fácil de conviver, admita que não gosta de comer bolachinhas secas com ovas de esturjão, o famoso caviar, ou que detesta caracoletas que chamam de escargot. Mesmo que num restaurante de 12 estrelas seja o rei dos pratos. Admita que acha uma palermice gastar 50€ num jantar em que cada prato parece uma caganita entre dois risquinhos de cor verde. Admita que ser magro ou magra é mais para os outros do que para si mesmo, ou para conseguir enfiar-se nos números que cada marca acha que seja aceitável para uma mulher adulta, saudável e que já teve filhos. Recuso-me a passar fome voluntariamente, quando há gente demais a passar fome por que não tem o que comer. Recuso-me a passar a noite com dores nas costas e joelhos por causa de uns saltos altos, que ficaram muito bem aos olhos dos outros, mas que foderam-me os pés e a coluna.  E se há tantos a precisarem de saltos e demais motivações para sentirem-se atraídos às mulheres, se fazem o favor, comecem a ficar também vocês homens assim algo do tipo Brad Pitt, ou Xavier Barden e por aí vai. Olhem a pancinha, os bracinhos flácidos, as entradas nos cabelos... se exigem, sejam aquilo que vos motive.

Apareçam

Rakel.


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