O Teorema de Pitágoras



Se você que me lê neste momento sofreu tanto como eu com a Matemática.... certamente pensará o mesmo que eu pensei sempre: "Porque raios tive eu que me angustiar com a Trigonometria ou com Teoremas e demais coisas que hoje não tem qualquer utilidade na minha vida?" Mas que raios tinha o Pitágoras na cabeça, que charro estranho havia fumado, para se lembrar de fazer tamanho embrulho com o as hipotenusas e catetos???

Sinceramente, eu que sempre tive mais inclinação para a área das letras e artes tive que, obrigatoriamente, gramar com essa cena toda e ainda por cima com a Química e Física, o trio dos meus horrores. Pensava eu, na minha santa ingenuidade, que meu mundo seria pior com aquele nervoso miudinho no estômago antes de cada teste, de cada nota que recebia e cada nota baixa que ia coleccionando. Pensava eu no fracasso de queimar as pestanas, nas directas e nas resmas de papéis gastos em exercícios. Uma luta inglória certamente.

Durante a vida toda, a gente vai apanhando pelo nosso trajecto pessoal, uma data de lutas; umas inglórias e outras vitórias suadas e feitas de muito sacrifício. Então, cada vez que aparecia na minha vida uma embrulhada enorme e sem sentido, cá pros meus botões encarava sempre como a Teoria de Pitágoras. Uma inutilidade tamanha na minha vida, mas que está lá, por resolver de qualquer maneira que fosse possível de cabeça erguida.

Depois de décadas de incúria governativa, partilhada por todos os partidos coniventes com as suas mordomias, o país chegou ao que chegou: um estrangulamento total da economia das pessoas comuns e de uma dívida que não comprou, é certo, mas viu a acumular sem perder o sono com isso. Um tipo de técnica a la Sócrates (não o filósofo, mas sim o EX- PM) que nas suas palavras dizia que "Uma dívida não se paga.... gere-se". Quando um Almeida Santos chorava pitangas pelos salários baixos dos pobres Deputados, não me pareceu ouvir da parte dos "camaradas do avante" sequer uma posição contra. No tempo que não havia ponto para marcar, mas apenas um livro por assinar como presença, houve uma reportagem gira sobre um Louçã que ia assinar o livro e depois ia pro aeroporto rumo à Londres pra umas compritas. Assinava o livro, ganhava o dia e se divertia.

Sem contar com as imagens giras de deputados a dormir, a tirar macacos do nariz e a ler jornal...ou ler os murais no LivrodaTromba. E fez-se um país que engordou bolsos de alguns pelintras que se penduraram em partidos e conseguiram trepar por aí acima a custa de amizades convenientes. Não é só o moço Relvas não... há muito mais gente nas mesmas condições.

Hoje, um povo indignado saiu às ruas para mostrar o seu descontentamento com as actuais medidas de austeridade que o Governo implantou, sem que eles próprios tenham aberto mão seja do que for. Um Presidente da República que se mantém como os 3 macaquinhos e uma oposição que apenas ameaça uma monção de censura. Na TV o actual PM disse que estava tranquilo quanto à mega Manifestação.... e com razão; no fim de contas, apesar dos pesares e tal qual aconteceu na Grécia, o povo estrebuchou, bufou, rosnou e levou na mesma com a austeridade.

Na Segunda Feira, a semana começará da mesma forma que começa todas as semanas: quem tem ainda a sorte de ter emprego, vai trabalhar; quem não tem, vai ao Centro de Emprego outra vez para a Procura Activa de Emprego e volta desiludido. Muitos vão deixar de andar de carro e vão enfrentar os transportes públicos pois na mira... vem outro aumento de combustíveis. A marmita veio para ficar e já poucos comem no restaurante ao lado do trabalho...empobrecendo ainda mais um sector já de si bem massacrado.

E como dizia eu, o povo saiu em manifestação, gente que era catraio na época do 25 de Abril, que se pela por uma movimento popular e essa "experiencia única", gente que espera de alguma forma, participar numa mudança (que convenhamos não há de ser assim que vai acontecer) e outros, liricamente, pensam que incomodam um PM ou Deputados assim. Um verdadeiro Teorema de Pitágoras. Um grande problema sim senhores, mas sem uma solução a vista. Se o Governo cai, já nos coíbem ao dizer que isso pode levar à uma catástrofe a nível internacional, na insegurança total da política do país pode levar ao caos.... mas a gente já não está no caos há mais ou menos uns 30 anos??

Os velhos dinossauros que começaram esta baderna toda, acordaram da sua santa hibernação e resolveram dar pitacos e abébias contra a actual conjunctura, o que calha bem à memória provisória do povo. Só faltava ali o Almeida Santos a falar mal da conduta dos Deputados...

Olha, com o andar deste carrossel doido, não sei bem como vamos conseguir ter alguma dignidade e cumprir com o básico da vida diária... e quando digo o básico é andando a pé, comprando marca branca, gastando o menos possível e perdendo cada vez mais as possibilidades. É ouvir os filhos a dizerem que não sabem que opções hão de tomar na vida, que área de trabalho pode ser uma escapatória... e é vê-los a fazer as malas e meterem o pé no mundo.

Enquanto a manifestação decorria, actos ousados, estúpidos ou desesperados, uma reunião de gente importante ficava à margem (será?) dessa bagunça e um Presidente refugiado num silêncio perturbante... marcaram o dia de hoje...

Mas na Segunda Feira, o dia começa igual, com a mesma perspectiva de uma oposição acovardada, um povo que vai comentar a sua participação na Manif, os telejornais a falarem de estatísticas projecções e... aumentos, descontentamento e desemprego. Não fui à manifestação, não numa que é um Teorema de Pitágoras,  e que no bom português, há de ficar em águas de bacalhau. Nem a minha ciática deixou, nem a minha pachorra para ouvir algum jornalista pergunta se estaria descontente com o Governo.... é que uma pessoa vai à uma manifestação contra o Governo se calhar pra mostrar o modelito novo.... ou então mais tarde, quem sabe, dizer aos filhos que foram na Manif de 15 de Setembro...mesmo que não tenha dado em nada.

Apareçam

Rakel.

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