Oásis Mentais


Sempre tive uma grande admiração por pessoas com a capacidade de serem originais, aquela originalidade que quase raia aquele meio fio entre a genialidade e a loucura. Nem sempre a época e a mentalidade social está a altura de perceber o rasgo de originalidade e genialidade. Mesmo que muitas vezes nem sequer compreenda muito bem o que aquilo, seja ideia ou acto, possa ser, admiro quem tenha a coragem de mostrar esse lado fora do comum.

Gostava de poder ser mais assim: descartar as bocas foleiras que seguem sempre depois de alguma teoria ou ideia original (sempre sinónimo de coisa louca) e curtir apenas o facto de ter saído assim tão simplesmente. É bem verdade que nos dias que correm, as preocupações maiores sejam modos de combater a crise e de sobreviver no actual sistema social. A maior parte das pessoas remoem os seus rancores e dores existenciais, num "síndroma do umbigo". Cada qual é uma ilha de dissabores e desesperanças e mais nada, como se tudo fosse irremediavelmente um facto consumado e destinado a seguir o seu percurso sem qualquer tipo de intromissão nossa.

Portanto, quando as minha duas neurónias conferenciam aspectos gerais e chegam à uma conclusão original e bastante dispare da factual e aceitável... fica-se mesmo pelas assoalhadas cá do meu apartamento e pouco mais dividido entre uma mão mal cheia de amigos... que me entendem. Talvez o facto de andar sempre a partilhar cá em casa esses meus Eurekas fora da banheira, tenha levado a uma conversa absurdamente deliciosa entre esta que vos escreve e o rebento mais velho. A conversa surge num sábado, na paragem do autocarro...depois de perguntar ao rapaz se estava a ir às aulas de código...

- Não tenho tido tempo... disse assim em jeito de desculpa esfarrapada
- Mas então não tinhas tanta pressa de tirar a carta pra poder ter um carro e tal e coisa??
- Pois, isso é verdade, mas tem tempo...agora nem dá pra pensar em carro...
- Bom , realmente, se ainda pensas no Mazda RX7...bem podes ir comprando primeiro um banquinho pra esperar sentado...

Depois desta frase certeira e bastante realista, ficou o silencio normal que não há retórica que contradiga né? Pensei eu...


- Sabes o que eu gramava mesmo poder fazer? Ir pras aulas num tractor...
- Mas por que raios num tractor?? Isso só dá no máximo 50Km/h... 
- Ehhhh pah.. mas gramo imenso isso, tem mais força que velocidade, é verdade, mas podes crer que ia ter mesmo uma grande pinta...

Até poderia dizer-se que a culpa é minha...tanta conversa aqui em casa com eles a falar de tudo e mais alguma coisa, deixando a minha imaginação correr feito doida e valendo muitos risos... mas não. É mal de família e sem desagravo. Um dos meus dois irmão era conhecidíssimo pelas suas ideias estapafúrdicas. Uma delas foi transformar um chaço num descapotável. A solução encontrada por ele e mais dois amigos, foi de serrar e tirar fora o tecto do carro. Obviamente o chassis entortou, o carro ficou assim pro lado do estranho e nos dias de chuva, aqueles 3 anormais arranjaram como capota uma cortina de duche...

Já o meu irmão mais novo, faltando uns escassos 2 centímetros para chegar aos 2 metros de altura, num dia de grande chuvada e depois de ter apanhado uma molha valente, voltou pra casa com as calças da namorada... uma moça que mede os normais 1,60mts. E com um gosto assim pro lado do blasé... calça aos quadrados... E lá veio o caçula da família de Metro pra casa... nessa figura mas se borrifando pro mundo.
Portanto, descarto a minha influencia directa, mas acato a indirecta e genética. Não há como fugir disso né?

Escapando ou não pela tangente, a verdade é que nessas conversas gosto de ver e ouvir pensamentos que muitas vezes temos e não descobrimos vontade ou coragem pra assumir. Partilhar essas ideias fora do comum, originais, geniais ou não, faz pensar que, o ser humano quando quer tem muito pra além do que imagina. Só é pena a perda de tempo em se enrodilhar pelo que não tem, não encontrar "oásis mentais" que façam pelo menos ter vontade de rir um bocado. Porque coisas ruins existem, coisas que nos pegam pelos pés e nos chateiam.. bem existem sim. Mas ficar presos nisso e não encontrar mais nada senão lamentar.. é triste.

E são os "oásis mentais" que me fazem rir a bom rir, são eles que puxo nos dias de aporrinhamento total, em que parece que o mundo escolheu esse dia pra nos fazer amargurados e sem vontade. E tenho uma data de paisagens guardadas e que valem mais do que tudo...

...já agora... alguém cultiva e cuida bem dos seus oásis mentais??  :)

Apareçam

Rakel.


Comentários

  1. Adorei a ideia do teu rebento, embora no dia de hoje (2 de Novembro) não fosse muito boa ou chegaria a casa como o teu irmão mais novo.

    Agora o k eu me ri com a história do chaço!!!

    Oh mulher, nessa família não acontecia nada, chiça!!!

    Jinho

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  2. ...é que não se salva ninguém miga...cada um pior do que outro.

    Cabeça presas entre o lavatório da casa de banho e a parede, dedos entalados em gargalos de garrafas, botões no nariz (por duas vezes no mesmo dia) cabeças partidas, estourar fichas com chaves de parafusos...liberdade artística com tintas spray nas paredes da sala e cabelos...ter que ir pra escola com a pior orupa, porque o santo do meus irmão levou a chave do armário com ele como vingança por ter colado todas as páginas do livro de química dele, que foi uma vingança por ele colocado um maço de cigarros na minha gaveta... nada falta na história desta família...

    ...sem contar com um avoengo lá beeeem longe (o espanholês) que ajudou um rei e depois se virou contra ele, bem ao estilo do pêlo na venta, inconformado e meio rebelde... como poderia eu, baptizada por um padre que fumava, usa jeans, andava de moto, nascida em ano de revolução no meu país, no mesmo ano que Sarte recusa o Prémio Nobel da literatura, acusando-o de "movimento burguês".. como minha amiga, esta que te responde poderia ser outra coisa do que aquilo que sou?? Tanto antecedente assim?? :)

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