Possibilidades



Ando a prestar mais atenção ao que me dizem, talvez esteja a sentir a chegada do Outono, a minha época mais introspectiva e meditativa...portanto, me pego a pensar me pequenas frases.
São coisas que assim, vendo por alto, nem é nada que valha um post, mas depois, pensei bem, matutei um bocado nelas e aqui vai o que neste conturbado T-Zero se passou.

Há um par de dias publiquei um comentário de um post mais antigo, onde falava da paixão da minha amiga Stela pelo popó novo. Disse que tamanha paixão seria justificável (no meu ponto de vista) se fosse um Porsche ou um Lotus. E como coloquei a foto de um Lotus Exige (o popó mais giro que conheço) o comentário que surgiu foi: se teu carro é assim eu sou o Pai Natal. Tá devidamente respondida a questão por mim.

Em conversas de chat, houve um pequeno debate sobre a Anarquia e todas as coisas que envolve esta filosofia de vida (não vejo e não aceito como partido ou visão política) e saiu a frase dos costume : isso é uma utopia. Ok, aceito, sendo que a maior base da Anarquia é o facto que cada um seja responsável pelos seus actos e pelas decisões que toma... num momento em que a humanidade se mostra mais interessada no seu próprio umbigo... é realmente uma utopia.

Depois, em outras conversas também de assuntos profundos, eis que se concentrou o facto do orgulho em ser português e a tentativa de resgatar o lugar de Portugal no mundo. De momento, as estatísticas mostram que Portugal na maior parte das coisas... ganhas os lugares mais em baixo. Mas há quem veja nisso um sonho, uma coisa de loucos.

Aí fiquei pensando...

Se todos pensassem dessa forma, o homem nunca tiraria o pé do chão. Desde Ícaro que o sonho da malta é voar...olhar lá de cima o que apenas vemos sempre na mesma perspectiva. De Ícaro pra cá, outros loucos, utópicos como Bartolomeu de Gusmão (com a Passarola, o primeiro protótipo de um engenho voador), Leonardo da Vinci e os seus desenhos de máquinas voadoras, passando por Santos Dumont e os irmãos Wright... nunca fariam nada com essa torcida derrotista. Ontem eram loucos, hoje visionários. Mas arriscaram.

Se um punhado de portugueses tivessem ouvido os Velhos do Restelo, não sairiam mar afora, não arriscariam a vida e nem teria feito deste país dono de mais de metade do mundo. Enfrentaram os medos e o desconhecido... mas foram em frente.

Jucelino Kubichek sonhou com uma cidade feita do nada, bem no modelo dos pioneiros americanos que se afundavam cada vez mais à Leste do país... Ele sonhou, arregaçou as mangas e colocou em marcha um sonho chamado Brasília. Chamou outro louco visionário chamado Oscar Niemeyer, um arquitecto que viu a futura Capital do país de uma forma que ninguém pensou ser possível. E apesar de tudo, Brasília continua a ser uma marco histórico/mundial. 

Poderia encher este post com inúmeras coisas parecidas: Christian Bernard e os seus transplantes de coração, Marie Curie, uma das pioneiras no campo científico (imaginam quantas vezes ela não ouviu que o lugar dela era em casa e a ter filhos??), Thomas Edison, Graham Bell,  Martin Luther King... e o seu grande sonho...que se reflectiu em Obama.

A única coisa que todas essas pessoas tem em comum é apenas uma: sonhar com algo e acreditar sempre na possibilidade que esse sonho se realize. Trabalhar por ele, acreditando que, apesar de todas as vozes contra, de todos os que dizem que tudo não passa de uma utopia...fazer dele algo que beneficie à todos.

É verdade... eu ainda não tenho um Porsche. Friso bem o AINDA, porque eu não sei o que me reserva o futuro, mas acho que a única coisa mais difícil desse sonho do popó giro é este: eu quero um Porsch sim, mas movido a Bio- Diesel. Porque um dos meus sonhos maiores é que na cidade onde vivo seja criada uma rede de abastecimento usando este combustível, aproveitando os óleos domésticos usados. É uma mais valia para o ambiente, economia e bem estar. Mas ninguém ainda aposta muito nessa vertente, apesar de ser a mais razoável e possível. 

Da mesma forma, acredito que as pessoas são capazes de mais e melhor, que falta um bocado de acreditar que um sonho, por mais pequeno que seja, vale a pena lutar por ele. E não se envergonhar com os comentários, com as risadas e aquele olhar paternalista. Lembrem-se dessas pessoas todas que falei antes. Eram loucos na época, hoje são marcos, exemplos de tenacidade e inteligência.

Estou fartinha de ouvir que : "coitados dos miúdos... o futuro deles será bem pior!!" Escutar isso de pessoas de idade, que já não tem muito no que acreditar...tudo bem aceito. Comparam vidas e condições sociais e tiram os nove fora disso. Agora, gente nova, que ainda tem muito para dar... Isso é aceitar a derrota sem luta, até porque é mais fácil desistir que lutar. É mais fácil aceitar o facto que tudo é uma merda e não vai passar disso.

Portanto, no dia que eu tiver o meu Porsche preto movido a Bio-Diesel (e cheirando a batatas fritas como diz o meu filho mais velho) vou aproveitar esse sonho realizado e me sentir satisfeita de apostar no que acredito, sem culpar o azar ou dizer que foi sorte. Lutei e mereci. E isso quer dizer também que a minha cidade se tornou ainda mais verde. Porque acho que sonhar e acreditar nas possibilidades...é que faz este mundo girar e andar pra frente. Mesmo que durante todo o processo hajam derrotas e dissabores, vale sempre a pena. Nunca nada se conseguiu sem muita luta, sem dedicação.


Apareça

Rakel

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