No Fundo do Mar


Fui ao dicionário para ter a certeza absoluta do que pretendia saber, embora não tarde nada e fique completamente desactualizado, sempre é uma boa fonte de sabedoria e um tira-dúvidas fabuloso.

Minha amiga Ana colocou a seguinte frase :


"Não há artifício que possa restabelecer a inocência ofendida; ela só se perde uma vez." (Ovídio)


A inocência é um assunto interessante de se debater, pensar ou reformular. A maior parte das palavras que conhecemos, e principalmente na língua portuguesa, ganham mais que um significado. Chamem de dinâmica, chamem de deturpação, corrupção... há uma base sólida da raiz da palavra.

Quando se fala em inocência a primeira imagem ou palavra que nos ocorre é "criança", porque toda criança é inocente desde o seu nascimento. Ora, a palavra inocência significa aquele que não conhece o mal, que não tem culpa. Até aqui bate certo, uma pessoa nasce sem qualquer conhecimento do que é bom ou mau, daí que cabe aos pais e educadores formarem essa coisinha pequenina nos caminhos correctos para fazer dele um bom cidadão. Vamos crescendo, conhecendo as coisas, fazendo umas asneiritas, mesmo sabendo que depois é castigo na certa e portanto já não temos desculpa que "eu não sabia que era errado".

Continuamos na senda do crescimento e sabendo  e conhecendo cada vez mais as faixas cinzentas entre o o bom e o mau, sabendo lidar com essa dualidade de vida e perdendo a inocência. Há quem a perca de vez, há quem pense que nada mais pode derrubar os seus alicerces, que nada mais é novo e fascinante porque "são muitos anos a virar frangos". Mas há lá bem no fundo de cada um, uma parte inocente, uma coisinha bem protegida que vem dos tempos em que não haviam culpas e que, no momento menos oportuno dá seu ar da graça. Para alguns, será talvez aquela parte de nós que acredita que as pessoas podem ser melhores do que são. Como adultos, não chamarão certamente de inocência, mas sim de uma visão romântica da vida. Um tipo de faz de conta cor de rosa e muito alegórico.

Por outro lado há uma confusão muito grande entre inocência e ignorância. Na ignorância, a pessoa sabe o que é bom e mau, mas coloca de lado, não quer ver, ignora a existência e constrói pra si uma inocência fictícia. São os Peter Pans da vida, os meninos (e meninas) que não querem crescer. E quando digo que não querem crescer é porque decidiram pôr de lado tudo aquilo que lhes agride a sensibilidade estética ou moral. Mais ou menos aquela coisa que: se eu  nem olhar e falar a respeito... isso não existe na minha vida.

Mas a gaita é que existe, podem tapar olhos e ouvidos, mas está lá: bem na nossa frente: fome, violência, injustiça, tristeza, dor e doença. Vivem então nesse limbo existencial, ignorando tudo como forma...de quê?
Talvez de auto protecção, uma bolha de conforto onde se deixam ficar vendo apenas o lado giro e divertido da vida. E isso não é inocência... isso é uma forma de fuga.

Aquela visão lá em cima de inocência/romântica, não vejo como uma forma de ignorância, mas sim um acreditar que, apesar de tudo, apesar de todas as coisas menos boas, há a esperança de algo melhor em cada um de nós. O pior é quando esse tipo de inocência que depositamos e investimos na vida é constantemente agredida. Não há como compensar e reparar tal agressão. Mas, mesmo que fique com umas amolgadelas, mesmo que, injuriada e mal interpretada... a gente leva pra frente. Porque temos consciência de que não é fácil, não cai no colo, tem que se lutar pelo que se quer. Porque se mesmo entre milhares de decepções existir uma única prova da nossa certeza... valeu a pena acreditar.



Porque na vida, a gente encontra verdadeiras pérolas escondidas lá no fundo do mar, dentro de uma concha fechada e difícil de abrir. As coisas boas da vida (e lá vem a minha inocência romântica), nem sempre é um diamante encontrado no chão. Há que mergulhar, arriscar um bocado a vida, chegar lá bem no fundo, encontrar a concha certa e tirar de lá a pérola. E entre muitas conchas, muitas delas estão vazias e nada mais resta fazer do que deitar de novo ao mar e esperar que o tempo lhe dê a oportunidade para fazer a sua própria pérola.

Tenho um punhado de pérolas, não são muitas, são de cores e formas diferentes, cada uma com a sua própria beleza, todas elas, apesar de tudo, ainda tem uma centelha de inocência romântica, aquela que acredita em algo melhor e maior. E isso lhes dá um brilho incomparável. Não são perfeitas, redondinhas e braquinhas e talvez por isso... goste mais delas assim. Cada uma é única.

Apareçam

Rakel


Comentários

  1. Eu costumo dizer "kem me dera voltar a ter a inocência de uma criança", mas não como o peter pan k pensa k se ignorar ... não existe.
    A inocência real, aquela k não sabe mesmo k é bom ou mau.
    Já k não podemos voltar para trás, estou como tu, vou conservando as minhas pérolas.
    Com muito cuidado para não as perder, porque são elas k dão colorido à vida e k dão forças para seguir.

    Jinho

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  2. Catekista...agora vou fazer uma coisa muito pirosa e muito gaja. Não precisas chamar o 112, acredita.

    As pérolas são as coisas boas que as pessoas me dão, seja a sua amizade, o seu sorriso e saber que posso contar com elas. E lá está, não são bonitinhas e perfeitinhas, porque nada é perfeito a 100% e talvez daí o seu encanto né?

    Mas não queria voltar aos tempos de infância não... aquele velho gordo e barbudo vestido de vermelho nunca acertava com as minhas prendas pá!!! :P

    Bjos

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  3. Pois, eu nesse campo estava melhor!!!!

    Quando tinha três anos finquei o pé e disse: "só me vou deitar quando o pai natal chegar com as prendas, e escusam de estar com coisas k eu não saio do pé da árvore."
    Ora, como o meu pai sempre trabalhou por turnos e a média do pessoal se deitar (para não fazer barulho para ele dormir) era às 21:00h (uma vez fiquei até às 22:00h e já me julgava uma senhora muito importante), imagina o desespero da senhora minha mãe quando eu disse k ficava até à meia noite. Até porque a àrvore estava ao lado do meu quarto.

    Por isso, eu desde os três anos, k não há cá nada de "velho gordo e barbudo vestido de vermelho", e peço os presentes a kem de direito.

    Sabes k a teimosia k ela agora tem, já está a ser treinada há muitos anos.

    Jinho

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  4. Catekista... isso não é estratégia ou teimosia... é benesse de quem é filha única e pode se dar ao luxo de fazer birra. No meu caso podia bater pé, a vontade... o resultado era o mesmo, um par de palmadas e cama, eu e meu mano tranqeuira

    jocas

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  5. E de quem tem uma casa com escadas!!!
    É k por muito pouco k corresse (e tu sabes porquê, pelos problemas k não são agora para aqui chamados), um chinelo k saísse do alto da escada, nunca acertava o alvo.

    Jinho e bfds

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