The Journey - Momento Nerd #324




 Já é mais que sabido que, quando falamos de jogos, inevitavelmente muita gente que desconhece o assunto, não só associa à violência gratuita como também à uma arte menor.
No meu caso, que se perde no tempo a minha relação entre jogos, consolas e afins, o assunto sempre ficou em aberto; é verdade que tenho preferência por um determinado tipo de jogos , no caso os RPGs, mas já passei pelas mais antigas plataformas como também tipos de jogos, portanto não é caso de apenas andar para aqui a mandar bitaites ao ar.

Há um par de semanas atrás fui apresentada à um jogo que segundo me dizia o "apresentador" do mesmo, que eu iria gostar... e que era a minha cara. Aproveitando o facto de que na loja virtual estaria gratuito até 6 de Maio, aproveitei a deixa e ... encantei-me por completo.

A estética do jogo é não só simples como de bom gosto; a música que acompanha todo o jogo é delicada e linda... o enredo em si é não só tocante como aberto aos nossos pontos de vista particulares. De curta duração, mas completo e com um fundo, digamos, espiritual tocante.

Longe de mim armar-me em "especialista" ou "comentadora de jogos", mas vou deixar aqui a minha experiência no Journey.

O que destaca no jogo? Não há diálogos, não há legendas ou um narrador em off a dizer aquilo que temos que fazer; não temos uma identidade definida por nome, embora seja um jogo online. Tudo o que temos são um conjunto de traços e pontos que definem o nosso personagem, vestido com uma capa e capuz que quando "vocaliza" por assim dizer, é por meio de sons. Os objectivos é fazer com que o lenço que levamos ao pescoço aumente conforme a nossa experiência durante o jogo. Conhecemos o enredo pelos murais que vamos descobrindo pelo caminho com ou sem ajuda de outro jogadores que aparecem durante a jornada. Tal como a nossa personagem, apenas se diferenciam através  dos seus símbolos. Não sabemos com quem jogamos, nem de onde são, que língua falam ou idade.

Podemos fazer a jornada, que tem como objectivo final chegar ao topo da montanha iluminada, com a ajuda de outros jogadores. Uns... como acontece na vida real, aparecem, ficam um tempo e depois desaparecem. Outros não só nos ajudam, como nos acompanham até ao fim. Em cada nova etapa, antes de entrar num novo ambiente, temos a visita dos "capas brancas", como que seres que nos mostram não só um pouco mais do que se passou, mas como também uma preparação do que está por vir.

As simbologias são muitas. O lenço que levamos ao pescoço e que vamos aumentando de cada vez que conseguimos alcançar um símbolo brilhante, nem sempre visível ou fácil de alcançar, pode ser o mesmo que aquilo que vamos aprendendo durante a nossa vida. Os diferentes níveis de jogo, serão as diferentes etapas da nossa vida: nascer, a juventude, a vida adulta, a velhice e finalmente a morte.

Cada etapa apresenta, junto com os murais,  uma ambiência própria que, intuitivamente, nos leva a reconhecer se estamos na fase despreocupada da adolescência ou já com os percalços da vida adulta. Na penúltima etapa, quando estamos na neve e gelo, com dificuldade de movimentos, com o lenço congelado, não é difícil de estabelecer uma comparação com a velhice e a inevitável degradação do corpo, da memória e da mobilidade. E é nesse lugar frio e difícil que encontramos a morte, onde então os capas brancas nos guiam para a o nível superior, perto da montanha iluminada. A dúvida que tenho é, serão estes seres os que sucumbiram na antiga civilização e que agora guiam os novos seres? Ou apenas o produto mágico da montanha?

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O que é certo é que a moral, se é assim que podemos ver no final do jogo é que, a vida... é uma jornada. A maneira como a fazemos, independentemente, da nossa idade, credo, etnia ou língua é sempre a mesma. Nascemos, vivemos e morremos. Não há no jogo todo uma arma, escudo ou pedra fantástica ou magia que levamos connosco. Apenas a experiência vivida (o lenço) em cada vida que escolhemos ou não retomar. Por que no fim de tudo, somos uma estrela cadente que percorre os vários lugares por onde a jornada se fez, voltando ao ponto de partida. E nesse momento temos então uma lista dos "companheiros de jornada", com os seus símbolos e "nomes de guerra" de gamer. E as máquinas que aparecem, já no estágio de vida adulta, poderá ser uma referência de como elas podem tirar-nos capacidades.
Todas as escolhas são nossas: se decidimos ser ajudados ou se decidimos ser orgulhosamente sós e ter uma dificuldade tremenda de superar os desafios, ou se nós aprendemos em cada recomeço e a dividir essa sabedoria. Podemos até ir escolher fazer e refazer a jornada econseguir alcançar a capa branca, depois de conseguir todos os símbolos, provando que somos capazes de evoluir e chegar a transcendência.

Dificilmente um jogo pode ser tão simples na sua jogabilidade e tão complexo no seu conteúdo; a forma como os companheiros ocasionais e anónimos ficam ou vão, é um reflexo das nossas atitudes como ser humano, que chega a ser contundente.

Eu não vou dizer ao leitor deste post, que vá a correr comprar o jogo, nem que esta minha pequena análise seja uma verdade absoluta. Mas se por um acaso der de caras com o jogo, aconselho vivamente a fazer uma comparação com o modo de vida que tem hoje.

Precisa assim de tantas coisas materiais para ser feliz? Esta fase de confinamento... já deu para perceber quem realmente nos acompanha ou quem aparece apenas quando precisa de ajuda? Sabe ter paciência ou vontade de dividir aquilo que aprendeu por erro ou pela ajuda de outros com os vossos companheiros de jornada? Ou sai em correria desatada para saber qual é a recompensa de chegar ao fim do jogo?


São perguntas pertinentes, mas não menos importantes, dependendo certamente do grau de consciência que cada um tem da sua própria existência. Existimos por mero acaso, ou temos uma missão?

É tudo quanto precisamos para começar cada jornada.


Rakel.




Comentários

  1. Há um erro no iframe, Rakel.

    Este jogo desde o Ps3 é por si só, fascinante. Ótimo!

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  2. Sem dúvida, apareceu na PS3, mas foi agora que o conheci. No entanto, o facto de estar na Play4 e na store dela, justifica dizer que, embora já não seja novo, tornou-se intemporal.
    O resto são detalhes ínfimos em comparação com o jogo em si...Aliás, nem disse que tinha sido lançado agora quando o vídeo promocional o coloca em 2015, mas sim, esteve gratuito na store da PS4 até dia 6 deste mês.

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