É A Banana ou Fazendo de Deus




Há uns tempos atrás, andou-me a roer o juízo a tal obra de arte vendida por 108 mil euros da banana com fita adesiva.
Segundo o autor da obra, a banana supostamente deveria ser entendida como... uma banana. Embora míope, e já com alguma dificuldade nas letras pequenas ao de perto, sem dúvida quando vi a obra entendi que era uma banana. Acho que até a macaca Chita, se fosse ainda viva, também entenderia que era uma banana.

A questão realmente é perceber quem define como arte e quem sente-se disposto a largar tamanha quantia pela obra em si; uma obra, diga-se de passagem, perecível. No entanto, o acto de pespegar uma banana com fita adesiva e reconhecer como arte...ultrapassa-me.

Quem decide o quê e a razão para isso continua, no meu entender, entre as brumas do desconhecido; quase que um tema dogmático de uma certa elite entendida, entediada, que pronuncia-se, escolhe, decide e espalha o conceito de arte.

E como vem sendo apanágio, um pouco de cada coisa que vivemos e conceitos que até há uns anos era da nossa exclusiva escolha, estão a ser revistos e re-catalogados segundo os critérios dessa elite dogmática, escondida e absurda.

Há uns tempos, li uma matéria, primeiro duma colunista de um jornal britânico, mais tarde de uma matéria num site americano e agora aparece na língua de Camões, mais ou menos como uma mensagem a passar. Na primeira, até se falava de uma moderada aceitação, inclusive direito. Nas terras do Tio Sam, balançava entre ok, tudo bem, mas algum nojinho. Aqui é mesmo repúdio.

O assunto em questão no que está em português é sobre as mulheres que escolhem ficar em casa e serem mães e donas de casa e que isso é um retrocesso à década de 50. Ó o drama... ó o horror. Elas gostam de estar em casa e só isso. E vou sublinhar "escolhem estar em casa e só isso".

Parece que esta elite pensadora e que dita o certo ou errado, quase um preceito das religiões abraâmicas e monoteístas do pecado e das leis a seguir, não vê com bons olhos que as pessoas tenham preferências. E que exerçam estas preferências num mundo dito livre e democrático.

Longe de mim dizer o que é certo ou errado; ou se a banana com fita adesiva é ou não arte. Mas aquilo que eu sei e tenho a certeza absoluta, é que as pessoas devem fazer as coisas que mais lhes agradam, que as deixam felizes. Essa será talvez a missão mais importante na nossa vida, aquela que deveria ser a mais respeitada. E talvez o grande mistério, que não é assim tão grande, é perceber no aqui e agora, o que nos faz feliz.

Houve quem decidisse que o certo, o aceitável e o melhor é ser a mulher maravilha que trabalha 8 horas por dia, vai buscar os filhos à escola, leva-os à natação/judo/aula de balé/ de inglês/ de música (a escolha é do freguês e pode ser múltipla), volte para casa, faça o melhor jantar, trate da roupa, ajude os filhos a fazer os trabalhos, de um tapa na casa, e depois com o que sobra de energia  esteja a mais sexy bomb na cama. OK, meus parabéns às que acham que isso é felicidade e símbolo da sua eficácia como mulher assumidamente independente e completa. Dou-vos a minha completa admiração por isso.

No entanto, escarnecer e até menosprezar as que decidem, que preferem ser donas de casa e cuidar dos filhos e dizer que isso é pouco, só isso, e que isso seja regressivo, é no mínimo uma atitude machista da década de 40. Daqueles gajos que diziam que a mulher ficava em casa e não trabalhava, não fazia nada.

E palavra de honra, cada vez mais vejo as mulheres a sabotarem elas mesmas.

Não vangloriando, mas vendo as coisas pelo lado que cada um vivencia: estar em casa é muito trabalho; estar em casa com os filhos é muitas vezes saber mais sobre a Pepa Pig do que os últimos lançamentos de livros ou música. É fazer e nunca estar feito e todas aquelas coisas associadas; ir coloca-los na escola, busca-los tratar da casa, muitas vezes até ser cuidador de um membro da família mais idoso ou doente. Passa por não ter horário e sem remuneração ou reconhecimento duma reforma. Mas isso é pouco, nada...para algumas cabecitas pensadoras que elegem os que estão in e os que são out.

As bananas com fita adesiva da vida.

Não percebem , não enxergam que países mais à Norte da Europa, a braços também com o fraco crescimento de natalidade, que fomentam que os casais que tenham crianças pequenas trabalhem menos tempo e em casa, dando assim assistência e tendo mais conforto no que toca aos primeiros anos duma criança. Pagam o salário por inteiro, e não são raros os homens que decidem ser pais em casa a cuidar dos filhos e deixam a mãe deles a perserverar na carreira. Eles são também retrógrados? São uns "não fazem nada"?

Diga-me aí quem me lê, quantas vezes teve que pegar a sua criança no infantário ou na escola por que estava com febre (e na primeira pontinha dela é logo telefonema) e depois a ter que deixar com avós, tias, vizinhas, por que o trabalho não perdoa. E lá vai, fazer noite de trabalho, deixando o filho com outra pessoa que não é você, com noites mal dormidas, com a preocupação normal de qualquer mãe e com os seus medos a reboque... é bom?? Faz de si uma mulher melhor?

Tenho cá as minhas dúvidas sinceras de que isso tudo seja plausível. Mas lá está, o que eu acho, de certo ou menos certo, não pode nem deve ser encarado como uma verdade absoluta e que toda gente que discorda comigo está errada e é alienado. Respeito por escolhas. Esse não é o maior paradigma daqueles que proclamam o direito de ser o que querem, do "fluído" ao "furry"? Ou há um menu que desconheço e que só prevê uma selecção condicionada de aquilo que eu posso ser ou escolher?

Há gente largando os seus cargos de CEO e indo viver em pequenas comunidades que vivem de trocas e do mais simples possível; há pessoas que aos 18 foram obrigados a decidir aquilo que teriam que ser no resto da vida adulta e que agora deixaram isso de lado e decidiram fazer aquilo que gostam.

Há pessoas, que decidiram parar de correr e estancaram a maratona. Por doença, por cansaço, por desilusão. E começaram a pensar naquilo que realmente traz a felicidade.  Um propósito, alguma paz e aquilo que realmente interessa : ser feliz.

Mesmo que isso torne-se um ultraje aos cânones da cultura e do socialmente correcto, que proclamam liberdade e mesmo assim, ditam o que é ou não é aceitável.

E esta gente, toda alvoraçada por causa de um deputado só e que pensam que virá a ser um ditador, mal alcançam que estão bradando por liberdade numa cultura de ditadores...que ainda ponderam se o povo pode ou não referendar a sua vida. Mas pelo que parece, para uma deputada do actual desGoverno, diz que : "A vida humana não é um direito absoluto".  Isto sim é que é razoável?
A minha vida, a minha felicidade não é meu direito???? Desde quando?

Parece-me que quando eu mando aquelas bocas a dizer que isto anda a precisar duma pandemia ou dum meteoro em cheio...pandemia já aí anda, falta mas é o meteoro. Ou uma Perestroika...


Sejam felizes e menos ressabiados.

Comentários