Vou arriscar, vou mesmo arriscar a ficar colada à algum rótulo neste mundo aberto, Pan ou Fluído qualquer coisa em que temos o sagrado direito de ser quem somos (desde que isso não vá colidir com um determinado despotismo que nos iguala aos fascistas, anarquistas, xeno-homo-fóbicos e detestáveis). Tirei contudo o termo racista, pois esse escolher de pedegree não assenta bem, já que a raça é uma só, a humana, o resto é uma questão de etnia que nem por isso nos deixa órfãos da mamã Lucy*...
Então cá vai...
Eu não percebo algumas coisas; por sentido lógico ou pelo senso comum, há coisas que realmente ultrapassam-me completamente. Umas, dedico algum tempo a pensar seriamente, num ponto de vista até científico, mas... há algo de podre no reino das caixas de eco.
Hoje não há lugar nenhum que não se esbarre com uma "nova consciência ecológica" e do grande perigo que representa a nossa indiferença, chegando ao ponto de quase sentirmos-nos culpados de pedir uma palhinha para beber um sumo. As palhinhas hoje são o vilão ecológico.
Por mais que eu recicle, e agora aqui no burgo, finalmente lembraram de colocar mais ecopontos, nem por isso a minha conta da água ficou mais baixa (o custo da recolha dos ecopontos é 3 vezes maior que o meu consumo de água), nem os olhares de esguelha ficam mais brandos quando peço uma palhinha. Tanto quanto sei e pesquisei, as manchas de plástico no Oceano vem lá daqueles lados onde nadam, vivem e trabalham no lixo. Ou que qualquer cargueiro menos escrupuloso está-se nas tintas e deita a carga poluente no verdadeiro pulmão da terra: o mar. Não, não é a Amazónia.
O grande problema que ninguém quer, ou não convém falar, é do consumo. Isso continua tudo na mesma. Compre, paguem em X vezes sem juros ou peça um crédito àquela firma da senhora com Transtorno Dissociativo de Identidade, que fala com a outra ela e que discutem se pedem empréstimo para renovar a sala ou viajar. Aumentem a dívida e o consumo, isso sim, é que é de mestre!
Ou então façam como aquela cadeia de supermercados que dá selos a juntar para um boneco de pano da patrulha ecologista. Com X de euros em compras, tem direito à um selo, que vai ser colado numa cartela e que depois é trocado pelo tal boneco. A cadeia de sucessivos desgastes ecológicos não contam, mas sim...o espírito de ensinar aos mais novos que o boneco de pano é um símbolo do planeta verde (embora seja azul) isso faz com que a tal firma durma melhor ao dar o seu contributo. Gastamos para ser mais conscientes dos problemas do planeta; mas é a minha palhinha, que coloco no ecoponto respectivo, o grande mal da humanidade e por minha causa morre a fauna marinha.
Citando um filósofo actual, Pondé, "Sem hipocrisia não há civilização; e isso é a prova de que somos desgraçados: precisamos de falta de caráter como cimento da vida colectiva" e é ver que tudo que gira à volta do chamado movimento verde, da pegada verde é no seu tutano o mais hipócrita que há. Coberto com uma simpática e fina camada de verdade, no seu modo real será tal e qual as receitas que hoje propagam-se onde o rei é o queijo derretido. Não me entendam mal, eu até sou uma grande apreciadora de queijos. Os regionais e de sabor mais acentuado. Mas agora parece que, para ser bom e apelativo, há que puxar a fatia de qualquer coisa, pejada de queijo e fazendo fio. A arte de cozinhar e o nosso paladar fica embotado pelo queijo ralado as mãozadas, e pouco da arte de saber fazer um bom prato. Mas apela aos sentidos, espicaça a nossa curiosidade, e não levam em conta até que ponto as pedras nos rins se acumulam. Gastar para ter consciência ecológica é o queijo da civilização que, acredita que comprando tudo quanto não precisa, há-de juntar selos suficientes dum boneco feito num desses países onde largam o lixo nos rios e no mar...
Pode parecer uma má ou até forçada associação de queijo ralado as mãozadas e esta moda, esta hipocrisia generalizada.Mas não
É ver como um tipo aqui da região, que até há um par de anos vendia via site, chicotes e mascarilhas do estilo "quanto mais me bates, mais gosto de ti, em 50 sombras" e agora, por oportunismo político, é o Diácono Remédios... que num dos seus posts nas redes sociais escreve " que é uma falsa mentira"; aqui pode caber duas coisas: ou falhou no contexto do que queria dizer ou então queria tanto falar bonito que acabou por dizer que é verdade, pois uma falsa mentira é uma verdade...vá ler senhor, aprimore um bocadinho a cultura geral que faz falta.
É ver que de livre escolha e expressão não temos nada, e que quando precisam de votos, quando a chamada campanha chega, o alvo apontado, a bófia, acaba por ser chamada para sua protecção, impedindo que a incomodem com perguntas (incómodas, é certo, mas necessárias) e que exerça o seu direito (mais ou menos, pelo jeito) de escolher e dizer o que pensa.
Já agora, o nosso Parlamento ao fazer um voto de condenação à Israel é efectivo no quê exactamente? É para ficar bem na foto? Israel vai ficar assustado ou preocupado? Nop, não me parece. Perde-se tempo em minúcias sem qualquer relevo e depois usam isso como modo de condenação? Onde fica então o direito consagrado de livre escolha? E funcionando pela lógica... se temos que ser contra o poder vigente e visto que a mudança é sempre boa, por que não posso ser contra o poder actual, nem contra os ditames de político e socialmente correcto? Hã? Então, como ficamos?
A realização dos afectados está neste momento completamente subjugada as redes sociais. O que elas definem e propagam é na sua justa medida repetidas nas caixas de eco desses afectados; repetem sem ponderar um bocado; os olhos brilham em cada simulação de correcto, do certo e comprem, mudem tudo aquilo que fazem e têm pelo novo e "verde" modo de vida... que tem os seus custos. Pelos bordões usados em campanha que falecem assim que chegam ao poder, tornando-se cada vez mais distantes de quem apostou ou votou neles. Mas...
...neste momento, em que trocam-se as fotos das salsichas na praia pelas dos jantares de firma, dos gorros vermelhos de pompom branco e tantos desejos de paz e união e tal e couves, que depois ficam preocupados e fazem oráculos feitos na tecla Enter para saber a frase do ano, a cor, ou o que vai se realizar no próximo ano, se esquecem logo depois que chega a época de escolher o que vai vestir no Carnaval.
E assim vamos, de ano para ano, a emprenhar pelas orelhas (esquecendo que entre elas...há um cérebro feito para pensar), a seguir o que toda gente faz (até posso ouvir a minha mãe dizer: e tu te chamas toda gente? Se toda gente se atirar de uma ponte tu também te atiras?) mas sentindo-se sempre tão diferente, tão mais consciente e tão mais aberta/o ao mundo.
Isto... está mesmo a precisar de uma pandemia ou dum meteoro em cheio... e de começar tudo de novo da pedra lascada e ir melhorando.
Rakel.
Ps: Lucy* Segundo os estudos científicos, Lucy, foi a primeira mãe da humanidade, que viveu há 3,2 milhões de anos atrás na região que agora chamamos de Etiópia e descoberta em 1974. Para os criacionistas, não é nada disso e foi deus que fez Eva e banana do Adão e daí descendemos, sem remissão dos pecados.
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