O Bom, O Belo, O Estranho E O Diferente



A mente humana é realmente fantástica; a forma como entende e descodifica o que cerca esta nossa vidinha mais ou menos pacata é fenomenal. Somos os animais que mais nos dedicamos a perceber as formas, as cores, a estética e até definimos aquilo que é esteticamente aceitável ou não.

De formas de arte, esticamos as cordas ao máximo: das telas aos tachos e panelas, servimos-nos da grandiosidade da imaginação para elevar os paladares, as formas. as cores e os sons e vamos percebendo que...

...lá que seja inventado um gelado de sardinhas assadas, e que sendo diferente, merece o seu espaço, não significa por isso que toda gente deve aceitar e achar bom, dar vivas e deixar lá o inventor em paz, que uma pessoa não pode fazer nada diferente que é logo criticado.

E há uma certa tendência em pensar que, ser artista, criador, pintor ou... whatever, dá direito a fazer qualquer merd@ e vamos dar vivas por isso. Essa coisa de que... ahhhh, sou artista, sou performancer e por isso sou excêntrico e vivo numa outra realidade, pergunto-me:

Não pagam renda, não comem? O vosso IVA é mais baixo do que o meu quando fazem compras? Quando pegam o Metro apinhado, sente-se menos pressionado e pisado do que outras pessoas? Ou o Criador fez um Éden especial para vocês?

Diferente é o tal do problema. Debater estética? Outro ainda maior. Mas...

Quando é associado o diferente ao bom ou até mesmo de intelectualizado ou "de conceito" , acaba por cair na mesma esparrela do Rei Vai Nu. Só os de gosto mais apurados poderiam ver o tecido e só os mais inteligentes entenderiam a arte de tecer ar e fazer roupa nenhuma que ninguém se atrevia a contestar. Por ser uma arte de altíssima categoria, de que só seria visível para os "escolhidos" que aplaudiam e davam vivas dessa maravilha... feita de nada.

A arte provoca emoções que extrapolam, na maior parte dos casos, até as palavras, na descrição das sensações que passam, das memórias que evocam e das associações que fazemos. Não tem o certinho, o bonitinho. Nem sequer será comparável com outros. É algo que atravessa-nos, é algo que nos acorda para outra visão do mundo.

E por que este blá blá todo?

Bom, noutra página minha expressei o meu desconcerto pelo facto de haver gente que provoca reacções com a arte... e temos o moço das colheres na cara que, sem desprimor ao "conceito" da diferença, não chega para provocar nada a não ser uma certa pena por... ser isso? Em comparação com outras vozes que provocam emoções diversas, surpresa! boas emoções, e praticamente o rebate foi: ahhh, pois, não se pode fazer nada diferente e ficam todos contra. E ainda por cima, colocam como "vejam lá este que foi tão criticado" o Variações como, sei lá, forma de comparar com o moço das colheres?

Zé Cabra é diferente e é manifestamente mau; a Leal é diferente...mas tão mau; o Punk era diferente, mas é bom. Blasted Mechanism é diferente, mas é bom; Variações apareceu quando a música portuguesa ia do Rui Veloso ao Já Fumega e os  Tarantula bombavam assim como os Hérois do Mar, banda fortemente criticada pelo visual retro e quiçá nacionalista. Havia espaço para tudo e mais um par de botas, sendo o tempo a peneira certa de separação daquilo que permanece e aquilo que se esquece. Eram um tempo de escolha em abundância. Não da actual  imposição do modelo que temos que ser Pan qualquer coisa para sermos admitidos como civilizados, jogando às urtigas o direito de escolha...que parece que só pertence  a um grupo selecto  e hermético. Eu como toda gente temos o direito de dizer que não gosta e que o Rei vai NU.

Ser diferente não é de todo mau; pode ser mesmo um avanço ou um separar águas. Mas depois dessa diferença grotesca que foi mandar os Homens da Luta (mais valia que fossem os Ena Pá 2000) para nos representar e afinfar que a sendo diferente é já metade do bom... há pra aqui qualquer coisa que não bate certo.

Mas percebo que o meio artístico, andando na corda bamba das motivações do público, e este é volúvel e facilmente manipulável, acaba por tecer este tipo de comentários à favor do moço das colheres, por ser como a segurança de não ser criticado mais tarde pela estética (ou falta dela) do público.

...e asseguro, que não será o bonito, o certinho ou o estranho que provocam emoções. É aquilo que mexe cá dentro. E nos termos de comparação, não façam isso. Quem nasceu para cópia, nunca será original, É ver o nosso Primeiro a usar de "Obanismos" que caem tão mal nele...não é fato que lhe fique bem e completamente desnecessário.


Inté





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