Não muito longe do tempo, mas certamente da memória de estilo peixe de aquário do cidadão acarneirado, tivemos o fenómeno "Je suis Charlie". Depois do massacre na redacção dessa revista e da visível falta de sentido de humor e falta de auto crítica dos atacantes, eis que nos vemos perante uma nova forma de censura: os memes estão a ser alvo daquilo que será o começo da perda da liberdade de expressão e opinião na Internet.
Os artigos 13 e 11, recentemente aprovados, irão "regulamentar" os direitos de autor e servirão de base para tentar controlar a opinião e o direito de livre expressão. Isso quererá dizer que, mais uma vez, dizer aquilo que pensamos e expressamos será alvo de censura. Isto num modo mais subtil, mas no fundo é isso mesmo.
Mais uma vez assisto a opinião a expressa e o livre pensamento a ser um acto de rebeldia.
É sempre um risco expressarmos aquilo que pensamos; podemos indirectamente ofender alguém sensível ao conteúdo, embora a intenção seja generalizada. Quando fenómenos sociais, e friso o sociais, são aceites ou criticados, há sempre a chance de ser também, e no seu real direito, dessas críticas ou opiniões também virem ser aceites ou criticados. É esse o movimento de linguagem e livre expressão que faz, dos mundos livres e culturalmente avançados, aquilo que chamamos de um mundo justo diante da diferença. Eu não sou obrigada a aceitar tudo o que cada pessoa aceita como certo. Da mesma forma que entendo que sei que nem toda gente, e se calhar cada vez menos, concordem com aquilo que penso e a forma como o expresso. A moda ou o mais seguro pelos vistos, é seguir o padrão de uma convivência baseada numa certa dose de hipocrisia e uma fingida benevolência aos padrões estipulados.
Pensar fora da caixa, é no entanto quase que um crime comparável ao assassinato.
Agora Dalai Lama expressou a sua opinião perante os imigrantes que debandam para a Europa e tornou-se alvo de duras críticas da opinião pública, aquela versada na aceitação cega de um padrão estipulado, totalmente hipócrita e mal informada. Mas é essa massa informe que estipula agora aquilo que é certo dizer e pensar. Tio Dalai, deixa estar, as pessoas esquecem a forma como o Tibet está a ser, a pouco e pouco, desfeito na sua raiz cultural e nas suas liberdades pela China, que vê o Tibet como uma Disney Land e não como uma cultura milenar e única. Nisso, são poucos que o ajudam a defender, já que o dinheiro e o poder da China pesam mais na balança. E não prevêem a possibilidade, que aliás muitos observadores no âmbito da sociologia já expressaram sobre essa migração massiva actual na Europa.
E veja bem, Tio Dalai, o senhor será duramente criticado pela sua opinião; no entanto, os grupos e esse enorme movimento pós-modernista que dita o certo e o errado sem diálogo e lógica, não diz uma única palavra sobre a activista dos direitos humanos na Arábia Saudita, que está presa e, a ser verdade, poderá vir a ser condenada à morte. Nem um ai, nem nada. Isso, esse novo fenómeno político e social que anda a varrer o mundo (e graças a ele, fazendo, para meu horror, a direita a ganhar terreno a olhos vistos) que faz com que eu, na minha pobre opinião, veja que no auge da hipocrisia seja melhor para esse movimento ser "amigo do meu inimigo" do que defender o que é correcto. No caso, esse país que só agora, em pleno século XXI, permite que as mulheres conduzam, mas no resto continuem restritas, é um modelo antagónico do Ocidente. E como o modelo ocidental é para esta vaga pós-modernista, podre, misógina e patriarcal (eles não, os sauditas são um povinho aberto como sabemos), é melhor não criticar e deixá-los a fazer o que bem entenderem.
E isso a ser expresso, a ser colocado em memes ou posts em blogs pelo mundo, pode vir a ser alvo de uma censura tamanha e desqualificada e injustificada, que me pergunto se o George Orwell não se enganou na data; deveria ser 2018 e não 1984. Nasce um novo Grande Irmão e a direcção feita pelas vias das redes sociais que conduzem os pensamentos e os movimentos de livre escolha e pensamento.
Já para não falar dos meios jornalísticos penhorados pelo poder e pelo dinheiro. Quem manda pode mais, sem dúvida.
Mas acredito que, por muito mal amados e isolados que venhamos a ser, aqueles que ainda expressam aquilo que pensam e acham do que lhes rodeia, vão vingar; como em cada tentativa de censura e repressão contra o sistema, arranjamos forma de fazer aquilo que a própria constituição do país, da União Europeia e dos Direitos Humanos prevê: livre pensamento e expressão. As consequências... bom, as birras podem ser muitas, o isolamento também, a perseguição pura e simples idem aspas. Mas é um preço que estamos dispostos a pagar, pelo simples facto de também sabermos aceitar que não podemos agradar toda gente, a toda hora e que a diferença de opinião e de todo movimento filosófico de questionar o mundo é o que faz um mundo livre e justo.
A ironia é que num mundo que nos força a aceitar a diferença e a inclusão e o mesmo excluem tudo que faça parte da borda que não concorda. Os que defendem a inclusão excluem.
Rakel.
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