WTF?



As pessoas que povoam este nosso mundinho são sem dúvida surpreendentes: são as que acreditam que a Terra é plana, são as que usam as borlas dos cortinados da avó Matilde como brincos ou então as que querem por força fazer dos animais de estimação novos engajados do veganismo. Tenta-se a todo custo marcar a diferença, retorcer a natureza e fazer dela ao nosso gosto.

Talvez seja por isso que, vez por outra, ande tudo revirado em vendavais, enchentes, neve fora de estação; mais ou menos ao estilo de "quem manda nesta merda sou eu e não vocês, pobres mortais".

No entanto, vou assistindo com grande surpresa e alguma apreensão coisas que são sem dúvida fantásticas (e somos, quando queremos, capazes de coisas fantásticas) e outra que ficam entre o wtf? e o tristemente ou vergonhoso.

Tal como a maioria das pessoas, andei naquela dança do guarda roupa de inverno e tira a de verão e voltando aos casacos e botas em determinados dias deste mês de abril. Uma amplitude que vai dos 8º aos 30º em coisa de par de dias, troca as voltas de qualquer um. E num desses dias entre cabides e gavetas dei de caras com as minhas velhinhas e resistentes Lois de 1900 e qualquer coisa. Rasgada nos joelhos, na linha baixa do rabiosque, clarinhas do uso excessivo e compulsivo de anos e anos... a bem dizer nem me atrevi a tentar vesti-la já que tenho a consciência de uns quilitos a mais e que aqueles jeans são do tempo que não haviam cá elasticidade. Mas bateu um certo saudosismo da cintura subida, corte recto sem esta ditadura do slim e que ficavam a matar com umas Converse.

E como por um mera coincidência leio a notícia de uma nova moda em jeans para este verão; assim num estilo arejado...muito arejado e que custam a módica quantia de 139 euros. Uma marca norte americana que pretende "revolucionar" o mundo dos jeans vendendo...costuras, fecho e botões. E francamente, não entendi os bolsos...




Lá arejado deve ser e poupa imenso no detergente e tira nódoas... Isto vai fazer com toda certeza um bonito conjunto juntamente com as borlas de cortinado aka brincos da moda.

Mas voltando para coisas sérias. Surpreendente foi o  pedido público de desculpas dos elementos da ETA; no seu jeito peculiar (de cara tapada com fronhas) vieram pedir desculpas pelos atentados, pelas vidas tiradas e destroçadas dos anos de luta separatista. O meu queixo caiu com estrondo no chão perante as imagens do gnomo badocha da Coreia do Norte de mãos dadas com o presidente da do Sul passando de um lado para outro da linha de fronteira, sorridentes (aquele sorriso tenso e salve seja, amarelo) num anunciado fim de guerra entre os dois lados. Putz! na mesma semana duas de uma assentada não é brincadeira! Chego no fim desta semana e leio sobre o encerramento do estaminé ETA (estavam assim meio como o PCTP-MRPP, algo meio esquecido e anacrónico) e que os prisioneiros americanos na Coreia do Norte estão a ser libertados. Ainda hoje me pergunto o que raios aquele agente da CIA falou para o gnomo badocha Norte coreano para ter dado essa volta de 180º do bate boca de "a minha bomba é maior que a tua".

E enquanto o mundo gira, e como diria Galileu, "E pur si muove!", ainda decorrem estudos apaixonantes sobre as novas descobertas sobre Parkinson e Alzeimer, novas técnicas menos agressivas de cirurgias e vacinas que podem prevenir os mais agressivos dos cancros. Um avançar e olhar para o futuro com algum optimismo. :)

Continua a pedra no sapato que é o ambiente. Para alguns é já um caso perdido. É o caso do comentário feito por um cientista, Mayer Hillman, que vê todos os nossos esforços como nulos perante aquilo que ele vê como inevitável.

"Com o abismo diante de nós, defender a utilização de bicicletas como principal meio de transporte é quase irrelevante. Temos que parar de queimar combustíveis fósseis. Há muitos aspectos da vida que dependem dos combustíveis fósseis, excepto a música, o amor, a educação e a felicidade. Essas coisa, que dificilmente precisam de combustíveis fósseis, são aquilo em que nos devemos focar."

Parei uns momentos para pensar no assunto. Em suma, ou deixamos de vez de depender do petróleo e carvão, reduzindo drásticamente as emissões de CO2 ou estamos lixados com F grande. Uma vez que fingir felicidade é um dos modos de vida actual, ser realmente feliz com aquilo que é  e que tem será talvez, a mais dura tarefa de quem ficar pedente dum fim anunciado da humanidade.

Já tem sido uma questão de raridade visitar redes sociais, não há tempo, não pachorra. Ando empenhada noutras questões mais produtivas e desafiadoras do que ficar gastando o meu tempo em ler o mesmo post a ser repassado vezes sem conta ou as azias clubistas. E há certas coisas que eu vejo que realmente entristecem-me nesse "faz de conta que sou feliz". Passa sempre pela selfie de fingir que está acompanhado, sem estar, e que está a ser fotografado num momento de distracção por essa inexistente companhia: bebendo um copo de vinho na esplanada ou num barzinho de charme.




Já foi muito mau, mesmo mau, aquele surto de fotos inspirado num casal a viajar em que ela era fotografada de costas enquanto ele segurava-lhe a mão. Os mais diversos propósitos e traduções foram tiradas à partir dessa moda que pegou de estaca e que só perdeu lugar pelo chamado selfie stick, um cabo extensor que permite tirar fotos ao estilo "pareço estar acompanhada/o sem estar"; ou a capacidade de engenho da pessoa em questão.

Realmente o Prof. Mayer tem razão: há coisas simples como a música, a educação e o amor para ser um foco importante na nossa vida e aquilo que devemos investir. Viver as coisas realmente e não fingir e depender dos likes alheios de supostos "amigos" para sentir alguma felicidade passageira. Talvez, a felicidade também seja a aceitação  de que, num mundo imperfeito como este, passa por saber e entender que não podemos ter tudo o que queremos e como queremos. E que aquilo que temos agora (a nossa saúde, os nossos amores de todos os feitios e jeitos, o nosso trabalho e amigos do peito) deve ser não só valorizado como também vividos em loco.

Para muita gente, a meta inatingível do grande amor, da grande casa e do pináculo do sucesso seja frustrante. E gastam a vida toda correndo atrás disso quando, agora mesmo, já tem muitos motivos de sorrir pelas coisas que tem. É verdade que custa um bocado abandonar as coisas em que acreditamos, que investimos emocionalmente e ou financeiramente. Mas custa muito mais ficar marcando passo na espera de que venha a ser uma realidade aquilo que já sabemos, cá dentro, que nunca vai chegar.

No resumo de fim de página, o mundo gira sem dar cúnfia às calças de 139 euros feito de costuras e bolsos, nem aos defensores da Terra plana, ao campeonato nacional de futebol ou se ele ou ela vai telefonar. E a noite chega e vai como sempre fez há milénios e sempre trazendo um novo dia que, supostamente, deveríamos de viver coisas novas. Verdadeiras e surpreendentes.


Rakel.


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