The Crow - Fear


Aberto este momento nerd com a perspectiva de discorrer sobre o assunto do remake em estudo a partir desse emblemático filme de 1994 e a banda desenhada de James O'Barr e as influências musicais deste tópico, peço aos estimados clientes deste estaminé que não tenham paciência ou nem gostem lá muito do assunto, que tenham a bondade de esperar pelo próximo post.

Antes de mais nada...

Stan Lee, "pai" do Spider Man, Iron Man, Daredevil e Thor, anda com o coração descompassado e está hospitalizado; com 95 anos de idade e com uma longa carreira nestas andanças de fazer heróis, uma pessoa que acompanhou desde tenra idade e torrou a mesada nessas revistas que custavam um mês todinho a sair...sente também o coração a descompassar.  E eu cá nunca tive dessas merdas de "ai que isso é da Marvel" ou "ahhh mas isso é D.C e nem se compara", eu cá lia tudo e fazia por trocar revistas com quem comprava diferente. Digamos que dei muito a ganhar à estes senhores, quando a maioria das meninas pensava em batons e pulseiras. Eu torrava em outras coisas não tão femininas, despertando para esse mundo muito mais tarde do que o convencional e, mesmo assim, não sendo uma acérrima militante.

Mas vamos lá debruçar-nos um bocadinho sobre a notícia de um remake do The Crow.

A banda desenhada deste chamado anti-herói que vive numa distópica sociedade, que infelizmente, a nossa não fica muito distante, foi idealizada e desenhada por James O'Barr, um tipo que apostou a sério naquilo que é o âmago do mundo gótico. O casal que pelas injustas circunstâncias vê-se atacado por um gang, que brutaliza a rapariga e atira o noivo para a morte com um tiro na cabeça; enquanto está paralisado pela bala e a morte iminente tem como última imagem que fica na retina o ver a sua amada a ser violada, espancada e também a levar com tiro na cabeça. Dado o pontapé de saída com este argumento e pegando em velhas lendas xamânicas um pouco por todo mundo, ressurge da cova um Eric guiado por um corvo e com uma única missão: vingar a sua amada e a morte de ambos.



O'Barr pegou no conjunto todos os instrumentos daquilo que faz parte a cultura gótica: o enredo trágico, o amor que ultrapassa os limites da morte, a vingança, a tristeza e a solidão. Colocando a história nesses parâmetros e juntando um gosto musical particular, já que em algumas tiras apareciam letras de músicas do Joy Division e dos Cure, o ambiente e a construção do enredo ganhou cunho.
Na história original que tem um começo que dista um bocado do filme, Eric faz a sua vingança de forma sistemática e sofrendo das lembranças da vida feliz e de um futuro que não chegou a viver. E voltando a usar como "quartel general" o antigo apartamento que partilhava coma noiva, Shelly, a coisa é ainda pior. O sofrimento do tipo é indescritível.

O filme em si pega num Brandon Lee, que há muito tentava despegar-se do nome do pai, uma coisa que mais vezes atrapalha do que ajuda, que embora não fosse um actor de primeira água, conseguiu dar um bom Eric e pegar no roteiro (que nem foi assim tão bem trabalhado) e fazer o melhor. Perdoem-me os fãs, mas temos que ser francos, nem Bruce Lee era grande actor, embora fosse um excelente lutador, nem o Brando era assim tão bom, mas... ainda o vejo melhor que o pai. Poderia o filme ter sido melhor? Sem dúvida que sim. Se o Brandon Lee não tivesse morrido, a repercussão do culto ao filme teria sido menor?É assunto a discutir. Por acaso até tenho um DVD de um filme dos anos 80, com um Brandon Lee a dar pancada em modo de detective da polícia e que, perdoem-me, apesar de ser bom na pancada era um bocado como o pai: canastrão. Mas no The Crow mostrou ser capaz de melhor.



Voltando à vaca fria...

De certa forma, o "ambiente" no filme foi conseguido; a par de uma banda sonora brutal havia toda a carga que a banda desenhada já tinha emprestado. Tínhamos muitos heróis certinhos, virados para o bem e para fazer bem, nunca usando motivos egoístas e pessoais para fazer a sua justiça. Era sempre aquela coisa do bem da humanidade e só faltava a coroa e a faixa de Miss para vir aquela tal frase: "para a paz do mundo". Um Eric completamente passado da corneta, abrutalhado, sádico, depressivo quando só, em permanente sofrimento ao ponto de se auto-mutilar com cortes, não passou obviamente para o filme, mas apenas de forma leve. Mas mesmo assim, saiu dessa fasquia do bom rapaz, cheio de boas intenções que vinha ajudar o mundo, que ficava pendurado numa teia ou que martelava pelas agruras da humanidade e fazia de um tudo pelo certo.

Com o The Crow vale tudo, inclusive arrancar olhos; no entanto, os inocentes que cruzavam pelo caminho dele, além de terem a sua compaixão tinham também um pouco da sua ajuda já que, pelo facto de andar a exterminar o gang, também ajudava àqueles que sofriam indirectamente por causa desse gang.

A bem dizer, como apreciadora do mundo da BD e da música fora do círculo comercial, ler que há uma grande possibilidade de um The Crow Reborn  tendo Jason Mamoa como Eric e um Nick Cave como autor do enredo, dá-me cá por dentro alguns arrepios. Embora o filme inicial de 1994 com o Brandon Lee não fosse perfeito, aproximou-se tanto quanto foi possível, da BD. É daqueles que se gosta sem saber bem a razão, mais não seja por um Nine Inch Nails a fazer o cover dos Joy Division ou por ter os Cure com o incontornável Burn.

Ok, Jason Mamoa é daqueles tipos de gajos que lavam a vista; gostei do Connan feito por ele, até por que nunca fui muito com a cara do então muito jovem Arnold Schwarzenerger (santinho!) e que, felizmente, dizia muito pouco e só mostrava os peitorais, no máximos dos máximos lá soltava um "Crom!!". O Jason e o argumento levou uma volta para melhor e até teve a sua piada. Mas sendo que a imagem da BD do Eric faz alguma semelhança com os personagens dos mangás, assim um ar mais estlizado e menos força bruta, tenho as minhas reservas pela escolha do actor embora, lá está, mesmo não sendo uma maravilha, sempre lava-se os olhos.

Nick Cave que é tido por alguns como avô do movimento gótico, embora seja sem dúvida nenhuma, um bom letrista no que toca às canções e um iminente no mundo dos amores perdidos e não exercidos, foi chamado para ser a "pena" do enredo. Escrever o roteiro desta estória já de si emblemática, dá-me algum receio que fuja um pouco do conceito em si daquilo que é o mundo do The Crow. É ver no que vai dar e esperar que consigam suplantar o original.

E com isto tudo, e com todos os receios próprios de apreciadora das obras originais, das chacinas que muitas vezes fazem ao transpor para as grandes telas estes anti-heróis e as suas estórias, fico-me por continuar a cruzar dedos para que não se lembrem de pegar no Matrix e fazer uma sequela ou remake. Não se mexe no que está perfeito.


Rakel.

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