O tipo estava mesmo em mó de baixo: espirro atrás de espirro, boca aberta para conseguir respirar e por causa disso, babando-se como quiabo ao sol. Embora não tenha afectado o apetite tinha aquele ar miserável de quem não suporta dar mais um espirro. Não tive outra alternativa senão leva-lo à uma consulta. E a gente sabe como são os gajos quando ficam doentes e queremos levá-los ao médico; dizem que não é preciso e que apesar da sensação de estar às portas da morte com ébola, é apenas uma constipação. Não querem ir e ponto final. Mas ficam ali desconsolados e a exigir o dobro da atenção costumeira.
E o tipo assim que viu o transporte meteu-se atrás do sofá e foi na base do arrasto e perseverança que conseguimos coloca-lo, acomodado entre mantinhas na dita caixa de transporte. Pois, o gato constipou-se e fomos à consulta. Gato não se assoa, quando espirra vai tudo a eito: nossa roupa, chão, e com a agravante de babar, a coisa fica ainda pior. Até fazia bolhinhas no nariz com a ranhoca.
Gosto do veterinário que tem sido o salva vidas desde o começo: é daqueles que dizem umas piadas secas, conversa sobre tudo e mais alguma coisa e não fica com aquele olhar condescendente para nós, donos destes amores de quatro patas e não falam connosco como se fossemos retardados. Ele diz na lata o que é preciso ou não.
Foi durante a conversa e enquanto ia colocando na ficha os assuntos do meu bebé felino que ele me diz:
"No dia que eu entrar num restaurante e estiver lá um cão, eu saio"
Isto pela simples razão que entrou em vigor a lei mais cretina, a que permite a entrada e permanência de animais de estimação em restaurantes. Isto leva à uma data de considerações e discrepâncias no que se refere aos locais que devem ou não entrar com os canitos. Se formos a ver bem, nesse caso a ASAE nem pode dizer nada dos ratos na cozinha, já que rato pode ser animal de estimação. E um chichi de ocasião numa perna de mesa ou cliente será talvez um assunto corriqueiro.
Que fosse aberto licenciamento para estabelecimentos exclusivos para animais e donos, aí só frequentariam aqueles que gostam dessa fusão e tudo ficaria bem. Agora imagine só que está num jantar romântico e que só tem olhos e atenção para a pessoa que está consigo e um labrador de 30 quilos engraça consigo e resolve requerer a sua atenção, tomando o seu colo, lambendo, latindo e todas aquelas coisas interessantes que costumam fazer, vai ser lindo. Já agora, se eu detesto que hajam televisões em restaurantes, quanto mais um chiuaua nervoso a latir por que está nervoso dos nervos!
E gato quando resolve subir na mesa e encarar a pessoa, naquela análise do movimento do garfo saindo do prato e indo para a boca, constrangendo a nossa pacata refeição? Ou quando resolve subtrair aquela posta de salmão que está no seu prato numa patada rápida e certeira,? É giro, não é?
Tanto eu como o veterinário gostamos de animais, a única diferença é que ele fez da afeição dele uma profissão; mas sabemos que, apesar dessa nossa afeição pelos bichos, temos a perfeita consciência que cada coisa deve estar no seu lugar. Que se na minha casa, à mesa não é permitido que a gataria se acomode, qual então a razão que me leva a ter que, e lá vem a palavra que eu detesto, TOLERAR o canídeo de alguma afectada e armada em madame dos anos 50 com a sua Fifi a tiracolo no restaurante? Há legislação para os cães guia, algo que ultrapassa em treino às manias do nosso bulldog mimento e teimoso.
O resto é de uma afectação sem tamanho; no entanto acredito que dentro de uns tempos, o assunto vai evoluir mesmo para estabelecimentos exclusivos para donos e animais. Pois não acredito que os restaurantes vão aceitar bem a quebra de clientes com esta medida de "tudo ao molho e fé em deus".
Quer dizer, eu não posso fumar num restaurante pelo facto que afecta a saúde dos restantes comensais, mas um cão aflito pode largar uma poia no meio da sala de um restaurante ou um gato vomitar a sua bolinha de pêlo sem qualquer constrangimento.
Que o PAN fizesse uma lei efectiva que permitisse a esterilização dos animais domésticos gratuita, como modo de prevenção de abandono de ninhadas e de controle de população animal, aí eu até encaixaria e daria o meu total apoio. Mas não, vamos mas é agradar meia dúzia de lerpados que vão ao restaurante com o seu bebé animal, fazer gala dessa companhia que se enerva com sons, cheiros e coisas que desconhecem e que tem que ficar ali a seca enquanto os donos passam tempos infinitos sentados a comer e a usufruir do seu "direito".
Só uma coisa:
Entrei em contacto com a APA daqui do burgo para ver se me dão apoio na esterilização da gata, e nem uma resposta negativa foram capazes de me dar. No entanto, e enquanto não convenço o veterinário a baixar o preço dessa intervenção, vou aturando os ciclos de cio da desgraçada, que fica à nora sem quem lhe arrefeça os calores e olhando para o companheiro...que é capado e nem sabe o que há de fazer.
A conclusão que eu e o veterinário chegamos, é que anda tudo com o juízo a arder...
Rakel.
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