Se podemos definir a humanidade numa acção, aquela que avança e progride, é a capacidade de questionar, que não aceita de chofre logo a primeira explicação. Todo o avanço da humanidade está baseado em colocar em causa as leis estabelecidas e procurar uma nova explicação. No começo, poderíamos dizer que aquilo que era questionado era o mundo físico, palpável e que fornecia diversas possibilidades de questionar. O dom da palavra, a vocalização e posteriormente a escrita, possibilitou que estas "verdades" fossem aceites ou não, questionadas ou não e recicladas.
Conforme as explicações do mundo físico foram explicadas de forma simples, depois mais avançada e cientifica, a filosofia meteu o seu proeminente narigão e começou a fazer mais e mais perguntas. Saltou directamente do físico para mergulhar na piscina sem fundo da metafísica: o que está para lá do mundo físico. Podemos pensar que tudo isso é meramente um exercício mental sem um conclusão útil; mas no que toca ao pensamento humano, nada do que pensamos é inútil, já que, por erro e tentativa, chegamos à lugares bastante interessantes.
A metafísica consegue questionar o nada, o vazio, a existência e todas essas coisas que, a princípio, parecem a "cultura da batata" ou "o ovo e a galinha".
O nada existe? O vazio existe? O que resta no lugar do que não está ou daquilo que nunca esteve? Perguntas interessantes das quais já tive horas e horas de debate, de exemplos estranhos, possibilidades interessantes e o melhor, ninguém perde ou ganha.
Nessa conversa metafísica do nada e vazio, e foi uma loooonga noite a discutir sobre isso, o nada já por ter uma palavra que o defina e um conceito do que é, por si já existe. E o nada é diferente do vazio, pois o vazio é aquilo que está cheio de nada e quando algo ocupa o lugar do nada, o nada deixa de existir e o vazio transforma-se em completo ou com aquilo que o encheu, existe algo que substitui o vazio. Confusos? Muitas vezes é mais fácil entender do que explicar, realmente é.
Se por exemplo eu agora invento a palavra xungafifaconkla, em princípio ou é o gato passeando em cima do teclado enquanto fui fumar um cigarro, ou é o nome de algo ou de algum conceito que descobri ou defini. Pode não ser visível, pode não ser palpável, mas existe por A+B. Essa lenda chamada Bruce Lee, quando dizia que "devemos de ser água" que preenchia o vazio de uma garrafa, como de um copo, de um lago ou de uma caixa, queria dizer que independentemente da forma que a água tomasse ao vazio do objecto, continuava a ser água, apenas adaptava-se ao envoltório disponível. Portanto, o nada deixa um vazio para que a água entre e adapte-se a garrafa, copo ou balão. Simples, não é?
Então pegando nessa questão tão metafísica de modo sério e analítico que se coloca de "O que fica daquilo que nunca fica?" a resposta é simples. Fica o vazio ou o nada. Será mais ou menos como alguns rios deste nosso mundinho que só existem quando chove copiosamente; isso nos climas mais áridos é comum. O Grand Canyon é exemplo disso; na maior parte do tempo é apenas um sítio de formações rochosas e arenosas que, em determinadas condições atmosféricas, fica com rios rápidos e frondosos e que depois desaparecem na mesma velocidade que surgem.
Pegando nisso e colocando em linguagem mais fácil, aquilo que por si tem a natureza de não ficar, deixa apenas o nada ou o vazio. Durante um pequeno espaço limitado de tempo permanece e depois, fiel à sua natureza, desaparece. Obviamente deixa a mesma lembrança que um cometa riscando o céu nocturno que percorre uma órbita de décadas, indo e voltando e deixando apenas, por algumas noites, a sua ténue luz, sem forma, distante do nosso toque e de tudo aquilo que é físico, existindo como foi criado. Mas nem por isso muda alguma coisa, os dias nascem e fenecem como há milhões de anos, acordamos e vivemos como sempre vivemos e os vazios vão sendo preenchidos pelas coisas que decidem ficar. A vida continua nesse equilíbrio, espaços sendo preenchidos ou esvaziados, cometas riscando o Universo e desaparecendo. É aquela alternância que nem percebemos, isso só acontece quando paramos e gastamos uns minutos em questões aparentemente inúteis.
E para um domingo de sol, acho que já filosofei quanto baste.
Rakel.
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