Se a lógica é a ciência do raciocínio, então precisamos que o Tico e Teco que passeiam-se pela nossa cabeça façam o seu serviço: raciocinar. O tio Aristóteles dizia que, os pontos pelos quais a lógica funciona são o conceito, razão e juízo; então a lógica funciona partido desse ménage a trois entre estes três conceitos aparentemente simples e que toda gente conhece. Mas tem dificuldade em exercitar. Mas pensando bem e separadamente cada um desses três elementos, podemos ter também uma interpretação muito pessoal, estudada ou não, do que significa ou aquilo que percebem de cada um dos elementos.
A razão é daquelas coisas que toda gente pensa não só ter como a versão pessoal ser a mais correcta; não chegamos a idade adulta sem ter recolhido, escolhido e discorrido sobre as razões do eu e do mundo. Sustentamos as nossas razões pelos percursos mais ou menos sinuosos da nossa vida e experiências. Mas a minha visão de razão, a sua visão de razão podem bater certo em alguns pontos, mas vão divergir em determinado ponto. Temos que aceitar o facto de que as razões podem chegar ao ponto de estarem ultrapassadas, de estarem desajustadas às nossas necessidades. Aprendemos com isso.
Se o conceito é a forma como pensamos sobre algo, aí também entrarão as nossas próprias definições, a nossa interpretação mais um vez baseada naquilo que experimentamos na vida. Se vamos enxergar pela óptica filosófica, isso nos leva pela representação mental ou linguística de algo concreto ou abstracto, podendo sofrer assim das mesmas influências pessoais ou externas.
O juízo será então o avaliar e retirar uma conclusão depois de colocar em prática a razão, o conceito e é dado o veredicto final: aquilo que decidimos que é o mais correcto, o mais lógico. A equação aparentemente resolvida depois deste exercício filosófico e de um intrincado florescer racionalizado e estudado, pode parecer que é a forma de vida mais simplificada, que detém as solução perfeita e que apazigua a nossa alma conturbada.
Seria efectivamente muito mais simples e descomplicado viver assim, racionalizando tudo, analisando peça por peça e emitindo um juízo simples e escorreito.
Mas, contra toda a lógica, aos estudos mais estafados e reformulados por eminentes filósofos e pensadores, há sempre o lado incontrolável, primordial, que escapa de qualquer conceito, lado racional, de juízo ponderado, mas nem por isso menos verdadeiro.
Há em mim e em toda gente, aquele pequeno mas persistente pedaço indomável e avassalado que vai contra todas as fórmulas, contra todas as explicações possíveis. E muitas vezes me pego a validar, a dar como tão importante aquilo que não se explica, que não é simples, como tão verdadeiro e necessário como a mais pura das lógicas, logísticas e estratégias.
Neste mundo em que muito se gasta em encontrar razões, significados e juízos, há também aquilo que nem sequer carece de explicação da sua existência. Existe por si, com vida própria, até que se perceba que a sua identidade não tem tempo ou espaço. Desafia até mesmo a nossa perspectiva de conforto. Mas é ao mesmo tempo incontornável. Não acontece com tudo, nem com todos, mas quando acontece... é a descoberta mais intrigante e perturbadora. Está lá, mesmo que eu desvie o olhar.
Rakel.
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