A Arte da Sedução ou "Manda-me Nudes"



Século XXI e a liberdade sexual que foi conquistada no século passado, mais precisamente na década de 60, chega aos dias de hoje ainda balançando entre a total desinibição ou um puritanismo digno da época vitoriana, em que um tornozelo ao léu era provocação e má fama para qualquer dama. No estilo, uma menina de uma marca de moda e perfume a segurar/tapar os seios para evidenciar uns jeans num outdoor pode, mas uma mãe a dar de mamar ao filho em público choca a sensibilidade mais frágil e conota tudo para a sexualização dum acto natural e milenar. Os hipócritas, como sabemos, aparecem em todas formas e cores...

Das cartas pingando versos mal amanhados mas cheios de paixão e amor, das serenatas desafinadas mas sentidas e baptizadas com baldes de água, dos ramos de flores e um olhar fazendo promessas de beijos roubados, a humanidade percorreu um logo caminho até chegar ao que hoje chamo o "homo-photograficus" e ao poético acto do "manda-me nudes". Esta espécie que conhecemos tão bem, o homo-phograficus, que regista todos e quaisquer momentos da vida, desde a desvitalização do pré molar inferior ao funeral da tia-avó Carminda, o prato de comida, os sapatos que usa hoje ou a visita ao ginecologista, usa também desse instrumento colado à mão que é o smartphone, para seduzir . É o tira e publica num piscar de olhos, imortalizando e dando um aspecto espectacular aos momentos mais sem graça da vida e sendo motor de arranque para os relacionamentos.  Vale tudo. Mesmo tudo.

Foto ideal para o pedido: "mostra-me as tuas cuequinhas"

É então uma consequência básica e numa perspectiva quase previsível, que os ditames da sedução passem também pelo campo visual e imediatista que as redes sociais e que os telelés inteligentes oferecem; aí o romantismo ganhou uma nova perspectiva e uma geração de românticos com uma visão muito peculiar.

Que atire a primeira pedra a mulher que nunca recebeu uma foto de um pirilau em grande plano e como forma de seduzir e mostrar até que ponto sente-se animado e esperançoso perante a vossa genial presença. O problema é que, como para os homens o aspecto visual conta em grande parte naquilo que  é a...digamos,"motivação", pensam que as mulheres são equivalentes. São os primeiros a mandar o Sr. Pirilau em pose de hastear da bandeira e de engodo (fazendo então um paralelo interessante entre minhoca, anzol e peixe) incentivando o mesmo à elas. E nisso, acabam por perder logo de caras 80 pontos. Essa foto certamente já foi vista por muitas outras mulheres, nessa tentativa de minhoca no anzol, e realmente...não seduz.

A segunda coisa que derruba qualquer tipo de sedução são os erros ortográficos, daqueles que uma pessoa pensa que nada mais pode ser tão criativo ou tão assombrosamente doloroso. Numa nova perspectiva evolutiva, tiram o H do hoje, o ontem ganha H ou então é aquela confusão entre futuro e passado verbal, em que eles "forão no último domingo ver a bola no estádio". Enquanto estão preocupados a tirar duzentas e vinte e cinco fotos do corpo trabalhado no ginásio e o novo corte de cabelo, esquecem de pegar num livro e, parafrasenado aquela sumidade, "estasse bem" assim. O que interessa é o visual e como a T-shirt justinha mostra o corpo torneado.

Não muito longe ficam as moçoilas que tem como profissão a de viver dos dividendos do Instagram, fazendo beicinhos, mostrando o rabiosque, as unhas, o decote e fazendo... mais nada na vida do que viver dessa imagem aparentemente de moça livre, leve e solta. Que depois reclamam dos homens que só as querem para a cama e não encontrando o companheiro de vida. É vero, mas que mais podem esperar?

Honestamente, toda gente é livre de fazer o que bem lhe passa pela caixa dos pirolitos, cada um "vende" o seu peixe e o seu "faz de conta". E como toda gente sabe, a Internet é um meio 100% fidedigno e que podemos colocar a nossa mão no fogo por tudo e todos que lá passam e deixam a sua pegada. Portanto, vejam lá se põe-se ao jeito...e não reclamem das consequências.

O que a malta deixou de perceber é que o acto da sedução é algo que leva tempo, conhecer como cada cabeça funciona e quais as cordas para tocar a música perfeita. Requer a dose exacta do dom da palavra, erotismo e inteligência; toda gente diz, pelo menos fica bem, que a inteligência é sedutora e que não há pachorra para gente burra. E realmente é muito sedutor alguém inteligente e que saiba escrever e falar bem. Não é perda de tempo e pode ser mais interessante do que dúzias de fotos; o flerte, a sedução poderão ser uma distracção e um pouco de tempero na vida. E como toda gente sabe, não se deve abusar dos temperos. É na dose certa.

Para ti, que dizes que "por vezes, a provocação, a sedução e o erotismo é que me fazem respirar e sentir-me vivo..." nunca mandes e peças nudes, e que nunca te chegue à tola o rolo da massa.  :)

Rakel.


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