Banda Sonora Oficial


Gene, não, não foste tu o tipo que inventou este gesto para ser patenteado, ok?


Por princípio, a música para mim é um vício, coisa difícil de explicar sendo que nem sei tocar ferrinhos. Mas no que chega-me aos ouvidos, tanto se me dá se é de pequena elite ou grandes massas; se agrada-me ou diz-me alguma coisa eu gosto e fica. É certo que com o passar do tempo, aquelas bandas e músicos que foram nossas referências, mudam de som, género ou desaparecem. No entanto, continuam a ter um lugar privilegiado nos nossos corações e vez por outra vamos lá busca-los da prateleira para relembra-los.

Outro dia, numa discussão sem nexo num tal grupo de heavy metal, um fundamentalista que se queixou de, naquele espaço onde as cuecas de couro e o cabelo com ar de esfregona ao sol é que é, vinha queixar-se daquelas amostras de pesar pelo Chester naquele espaço. Felizmente, a maior parte das pessoas que frequentam aquele grupo não limitam-se, como os burros, a andar com palas, a gostar e ouvir das mesmas coisas. A conversa acabou por dividir-se e começou-se a partilhar-se conhecimentos no campo musical enquanto uns discutiam se Linkin Park era Nu Metal, Pop Metal e por aí vai, pra justificar começos de musicalidade. Uma pessoa, por assim dizer, não gosta de comer a vida toda sempre a mesma coisa e há que experimentar novas sensações.

Não quero dizer com isso que os "clássicos" não tenham o seu devido valor, pois tem sim senhores; a questão é quando acomodam-se ao jogo que deu certo e passam décadas a fazer cada vez mais do mesmo. Ainda me lembro dessas hostes puristas terem-se mandando aos arames com o Lulu dos Metallica. A casa ia vindo abaixo com as discussões e já a costurarem nos peitos dos Metallica, a letra escarlate. Aquela que nos primeiros tempos da América era colocada naquelas senhoras muito dadas. Os Metallica, na opinião avalizada desse grupo de aiatolás do Metal, eram uns vendidos ao consumo e com um disco com um nome apaneleirado. Onde já se viu...Lulu????

Ao meu ver, em boa hora fizeram o álbum com a participação do Lou Reed, e quem sabe daqui umas décadas, não seja visto e tido como um trabalho cult. É que cá dentro, eu ainda acho que uma nova geração será menos cavernícola do que esta que deambula disfarçada de civilizada e aberta. No entanto, é fatídico o sentido de que ser puro é fazer sempre a mesma coisa. Ou ouvir sempre a mesma coisa. Talvez por isso embirro e evito de prestar muita atenção às bandas que continuam, não só no seu formato original a produzir com a mesma receita, como ainda por cima, passados tantos anos e envelhecendo, é vero calha a todos, continuam com os mesmos atavios e presença de palco. Parece que a palavra evolução não faz sentido com a palavra continuidade para esses senhores. O que realmente é uma pena. O AC/DC é uma das minhas embirrações militantes e ver o uniforme escolar e sempre o mesmo som (1º e último disco são tudo a mesma coisa) penaliza-me e faz-me pensar que seja mais o revivalismo que vale do que o real talento.

Por outro lado, temos aqueles que estão sabendo envelhecer e procurar não ficar naquela faixa de areia morna e calma, ousando, assustando (às vezes eu fico meio apalermada com algumas ousadias) os fãs e desmistificando a aura de assinatura feita a ferro e fogo. Mudam sons, imagem e espaçam, felizmente, a saída dos trabalhos (uma atitude inteligente e não fazendo as honras das fábricas de chouriços) e sempre deitando cá pra fora trabalhos que, embora não agradem em todas as músicas, marcam pela diferença.

Depeche Mode tem sobrevivido às tormentas e marés há 37 anos e é uma das bandas que me tocam cá fundo, embora Black Celebration seja e será sempre o meu álbum favorito. Queen, o meu começo dos começos, embora tenham sido compatíveis na altura, com Alice Cooper e Bowie, Yes, Pink Floyd, Doors e Led Zeppelin, estancou com a morte do Fred e não mais é do que uma banda revivalista, mesmo tendo o Brian e o Roger que poderiam voltar a compor e editar. São escolhas.

Dessa conversa pós discussão entre fundamentalismos e pró-evolucionismo, ficou a troca de músicas e de opiniões. Continuo a não achar piada certas bandas, continuo a ter ouvido duro para Rap e Hip-Hop (e deram-me a a ouvir uma que faz fusão com Jazz), algumas coisas no estilo, "mata galinhas" (traduzido do vernáculo de quem desconhece os géneros: Black Metal, Doom e Hardcore Metal) e o Prog Metal. Trocou-se vídeos de bandas nacionais, com bons trabalhos, mas completamente postos de lado pela essa mal fadada mania do vendável. E Moonspell continuam uns senhores nesse campo, trabalhando com qualidade, humildade e evolução. Falou-se dos grupos que estão já na fase de subir em palco, debitar as músicas e goodbye Maria Ivone.

A única coisa que continua para mim a ser um tema complicado é na publicação dos vídeos de lançamento; na maior parte das vezes é aquela coisa de ver as ventoinhas de cabeleiras com a banda a tocar ou num lugar abandonado ou no meio de uma mata, floresta ou caverna. Poderiam deixar o enredo fazer a história, e não, pelo amor de santo pacotinho, não ponham os gajos de cuecas de couro com espadas nas mãos e a fingir que são Connan o Bárbaro, num vídeo qualquer. Embora que, foi um comentário meu mais ou menos assim, que fez com que uma tipa que é uma devota fã do Joey De Maio, deixasse de falar comigo e sumisse do mapa. Enfim, pouca gente percebe o meu ponto de vista e o meu sentido de humor.

A idade não me fez ver no Leonard Cohen tudo aquilo que enxergam; vejo-o mais como poeta, tipo Abrunhosa, que escreve bem e declama como sabe. Percebo que as grandes paixões que foram os meus começos musicais, chegam aos dias de hoje como aquelas grandes amizades que ficam quando a paixão queimou tudo e mais nada resta do fascínio inicial. Aqueles que vamos, vez por outra, ver como estão, matando saudades e revivendo lembranças, que ficam cá dentro, e não deixam de ganhar voz. E vamos conhecendo e nos fascinando com novas propostas, novos sons e renovando, achando coincidências em estilos formas e palavras. E voltamos, vez por outras aos nossos grandes amigos. No final das contas, tudo faz parte e tudo isso existe, nessas estranhas formas de vida, como parte nossa, permanecendo, indo e voltando. Mas...

Querendo ou não, mudam-se os tempos e mudam-se as vontades; quem permanece dinossauro, por muito grande que seja, percebe que um dia, sem evoluir, vai extinguir-se e ficar apenas uma boa memória. E neste momento em que há os "devagarinhos" a atormentar quem não merece, precisamos de bons sons e boas letras para cravar cá dentro e fazer história pessoal, a nossa banda sonora oficial.


Rakel.


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