On The Rocks



Não, não é sobre o melhor whisky ou bourbon do mundo refrescados por umas pedras de gelo; nem será uma visão panorâmica do mundo musical. É sobre gelo e as mudanças climáticas e todo alarmismo em volta disso. Há mais aldeões assustados  e já de forquilha em riste para atacar, do que gente informada.

Primeiro que tudo, este planetinha azul boiando no espaço, na ponta mais distante do centro da nossa galáxia é um planeta vivo. Isso quer dizer que o seu núcleo quente e turbulento de vez em quando aquece demais, cria pressão, agita as placas tectónicas e abala aqui em cima o povo todo num balanço que leva casas, abre o chão e leva vidas. Noutras tem a sorte, dependendo do ponto de vista, de encontrar uma chaminé por onde exalar esse calor todo e pressão, dando origem assim aos rios de lava, pedra pomes e muita cinza.

A Terra nos seus muitos milhões de anos sempre fez isso; continentes formaram-se, outros foram engolidos pelo mar. De Pangeia , esse super contimente que há milhões (praí uns 500 e tal milhões) atrás fazia com que todos estivessem juntos, dividiu-se e afastou-se justamente pelos movimentos tectónicos e mudanças no eixo do planeta. Os abalos sísmicos desse tempo deveriam ser devastadores ao ponto de erguer o Everest e depois afundar, cortar e moldar continentes. E reparem, nem sequer uma fábrica chinesa existia, nem um carro movido a gasolina circulava. No máximo havia metano de dinossauro (imaginem lá só o tamanho das poias de um único Diplodocus, o que seria então de uma manda deles...) e alguns fogos espontâneos florestais. Nesse tempo não havia nem políticos nem outros com interesses em mandeira queimada.

Inúmeras conjecturas e teorias surgem para explicar a razão de condição de vida neste sistema de um sol e oito planetas (Plutão foi desclassificado, coitado), desde um deus que sabe-se lá por que cargas d'água, resolveu fazer vida só aqui até mesmo aos sonhadores que pensam que isto é um ex-colónia experimental alienígena. No que toca ao evolucionismo saímos de um caldo, arrastamos-nos para terreno seco e depois de várias mutações chegamos ao nível de hoje o Homo Sapiens-Sapiens. Mas a sapienciencia tem sido cada vez menor e está aos poucos a entrar em declínio, assim como a morte anunciada do cromossoma Y, e hoje vemos a idiocracia a proliferar com força e confiança.

Há um alarmismo grande sobre o facto de um enorme iceberg ter-se desprendido do pólo norte, mais ou menos do tamanho do Luxemburgo, e que isso é um aviso concreto do fim dos tempos. Na verdade, há ainda muito a fazer para equilibrar a balança entre progresso e protecção ambiental, mas certamente estamos no caminho, longo é verdade, mas certo. Os tratados de protecção ambiental, a consciencialização das novas gerações, são um processo moroso mas que vem dando resultados. Segundo as últimas pesquisas, os buracos na camada de ozono estão a fechar-se. Além de ser uma boa notícia, é prova de que há como reverter alguns dos estragos feitos pela omissão e desprezo humano pelos sistemas ecológicos. Há volta a dar.

Mas aquele iceberg desprendeu-se, o pólo norte anda a derreter-se na mesma, então como é isso? Bom, enquanto que a parte norte anda a derreter, a calota sul anda a aumentar, mas isso pouco ou nada dizem a respeito. Isso, segundo as pesquisas, deve-se ao facto do eixo da Terra ter mudado de posição: depois do último grande abalo, o Japão já não está na exacta posição geográfica em termos quantitativos. Todos os anos, por força dos movimentos das placas tectónicas, a Índia entra mais um bocado por baixo dos Himalaias. A Terra em movimento está aos poucos a mudar a sua face; sempre assim foi, e como planeta vivo que é, vai sempre continuar a fazer. Os poucos graus de nova inclinação que sofreu foram suficientes para expor mais a calota norte e colocar a sul mais distante da acção da luz e calor do sol. Faz sentido.

O grande problema nesse caso, é que ao mudar de posição do eixo e do derreter dos icebrgs, os animais que vivem à norte ou adaptam-se e evoluem ou extinguem-se como tem sido feito há milhões de anos. Essa talvez seja a lei mais imutável e inexorável do mundo, cruel ao primeiro golpe de vista, mas aquele que tem feito a selecção natural. O mais forte e adaptável fica, o que permanece sem mudança acaba.

Podemos, com toda a certeza, fazer todos os esforços para poluir menos, estragar menos e melhorar mais; no entanto aquilo que não podemos interferir são com os processos naturais: abalos sísmicos, vulcões e eixo terrestre. Naquilo que existe e possa ser preservado, que seja feito; de qualquer maneira o planeta, balançando no seu eixo em cada sacudidela, vai mudar de cara. Toda gente sabe que onde hoje é o deserto do Saara já foi uma floresta, o deserto de Gobi teve vida com dinossauros a passear, viver e a reproduzir-se. Os planetas em que tudo está sempre igual e não muda nada são os planetas mortos, e isso é um facto.

Agora que temos uma réstia de possibilidade de reverter os estragos, continuar a fazer melhorias é o trabalho a fazer. Aquilo que deveria ser urgente a fazer é limpar os oceanos do lixo plástico que vão deitando a socapa. Reciclar e reaproveitar. Gastar menos, sujar menos.

Deixo aí em cima um tema de Ludovico Einaudi, um tema que é no fundo um assistir do derradeiro suspiro do pólo norte. Veremos se ele vai fazer uma exaltação ao pólo sul ou se sabe que ele está a aumentar.

Rakel.

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