Por uma série de motivos que nem vale a pena explicar, tenho uma data de posts feitos e agendados que dão jeito quando tenho outras coisas a correr. Aparecem automaticamente na hora e dia que estipulo e a coisa corre sobre rodas e sem stress. Para quem passa por cá nem nota, mas sai sempre um post novo as 20h30 daqui, terras lusitanas, e um de música três minutos depois. De vez em quando vão aparecer frases de filmes que gosto e que acho que tem algum significado. Outras vezes, como por exemplo agora, acho pertinente deixar um lembrete ou guardar, pelos motivos que só eu entendo, algo de nota. O blog também serve para isso. Para mim serve de bloco de notas do que penso, daquilo que tinha toda a validade na altura e que agora consigo enxergar outras perspectivas. É um bom termo de comparações. Um tipo de barómetro.
Parece que foi escolhido a dedo mas foi programado para sair às 20h00 do dia 20 de Julho aquela frase do filme Seven; e nestas estranhas coincidências que eu entendo se são mesmo coincidências ou antenas espevitadas, fico a saber do suicídio do Chester dos Linkin Park. Assim de chofre uma pessoa escuta dizerem isso, e dentro de todos os boatos que vivem matando gente por desporto, custou-me a acreditar. Na altura que o Chris Cornell fez a mesma coisa eu não postei nada, afinal, todos os dias as pessoas que nem sabemos quem são escolhem, por indiferença ao valor da vida ou desespero contínuo, a matarem-se; mas todo suicídio deixa-me um pouco consternada.
O que pode ser de tão grandiosamente intolerável, insuportável na vida de uma pessoa que a encaminhe para um fim tão...abrupto? Que luta interna, solitária, ansiosa ou depressiva seja essa que se sente encurralado ao ponto de preferir acabar logo?
Uns dirão que será o caminho mais fácil, o caminho dos covardes, dos que preferem sair logo de cena e deixar para trás e para quem fica; de tudo aquilo que já se tornava demasiado pesado para levar adiante. Outros dirão que não é um acto covarde, mas sim o único fim que enxergam ou então, mais prosaicamente, encurtar um fim que todos nós um dia vamos ter.
Não tenho lado a escolher neste tipo de situação, não consigo colocar-me dentro dos sapatos de quem está tão além, tão só ou perdido que precise fechar o pano e sair de cena logo. Já bem basta por os tais caminhos tortos do senhor, que crianças morram por doenças, pelas mãos dos pais ou em acidentes estúpidos; ou o que aconteceu hoje, em França com a morte em palco duma cantora de 35 anos de seu nome Barbara Weldens. Tudo indica que foi electrocutada durante uma actuação. Realmente, o Ceifeiro anda ocupado...
Na verdade, quando alguém diz que está tudo bem, mas esse "tudo bem" não lhe chega aos olhos, deixa-me preocupada. O sorriso ao dizer isso é mecânico, também não chegam aos olhos e sai a frase com o sorriso num suspiro tenso. O "tudo bem" genérico, aquele que serve mesmo quando tudo não está, tapa buracos, anestesiado com os drunfos que o sr.doutor passou, quando aquilo que realmente precisaria era de fazer uma consulta de análise, refazer todo o processo interior. Abrir comportas, deixar sair. Mas é mais fácil o "tudo bem", anestesiar-se, mascarar-se e a apatia funcional que coloca o indivíduo a funcionar no sistema: trabalha, socializa e quem sabe assim, consegue sair sozinho do buraco onde se encontra.
A vida não é fácil, não é uma cama de rosas nem um caminho fácil; realmente, as coisas que valem mesmo a pena na vida dão trabalho, mas acho que é um trabalho justificado. Só que nas horas difíceis, em que tudo sufoca e parece que não há porta que se abra, restar apenas pendurar uma corda na trave e dizer adeus, desmerece todas as pessoas dispostas a ajudar. E por cada pessoa que diz que ninguém consegue entender a sua dor e angústia, acredito que sim, haja pelo menos uma pessoa que pode dar-lhe a mão e ajudar. Mas primeiro que tudo, há que admitir que não, não está tudo bem e depois admitir que não é infalível, que não é assim tão forte e que precisa de ajuda. E saiba aceitar a ajuda.
Bom, a letra do tema Heavy é em todos os sentidos aquilo que o Chester estava a pensar e verbalizou; a gaita é quando apenas vemos o lado criativo ou o sentido rocker do assunto e desapegamos daquilo que saiu dele...um grande desespero. Um prenuncio.
Rakel.
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