Quem Dá O Que Tem A Mais Não É Obrigado





Quando coisas verdadeiramente más acontecem, percebemos do que somos feitos; aquilo que somos capazes de suportar, ultrapassar e sair disso com alguma saúde e ilesos. Percebemos também as pessoas que nos acompanham nesse período menos bom das nossas vidas. Há sem dúvida nenhuma situações irreparáveis, daquelas que não há como reconstruir ou reviver.

Digamos que no meio da tragédia toda que foi o mau começo de Verão, com um incêndio daquele tamanho e levando tanta gente com ele além do verde, o retrato que se tira depois é tristonho. No entanto, e movidos justamente pelo lado que a maior das pessoas, fizeram por ajudar como foi possível. Tanto quanto sei, além de todas as ajudas monetárias, juntam-se também as materiais de quem perdeu tudo, a casa, o emprego (e há quem tenha oferecido trabalho para estas pessoas), mas acho imprescindível que também façam acompanhamento psicológico.

Só quem viu o fogo de perto, de ver alguém a pegar fogo, percebe o que eu digo. Não é fácil, e é das memórias que ficam tatuadas na nossa memória até o dia que abalamos daqui.

Por muito que possamos gastar o nosso tempo em auto criticas, e nisso não há povo que mais reclame de si mesmo que o latino, temos sempre um bom coração. Como já disse antes, ninguém é totalmente mau nem totalmente bom. No caso, muita gente escolhe como meio de defesa (e até foi uma conversa looooonga sobre o assunto) essa máscara afivelada de meter uma t-shirt preta, ar de mau e poucas palavras na intenção de passar uma imagem de durão ou durona.

As duronas geralmente são criticadas pelo mau feitio, o verbo mandar em execusão plena e de uma certa inflexibilidade. Conheço-as bem, percebo o X da questão. Como também percebo a mesma coisa dos tipos armados em badass, os ouriços cacheiros da vida. Por fora é aquela espinheira toda aguçada e feita mesmo para quem quer que chegue perto ficar logo picado, mas escondendo aquela barriguinha macia, os olhos amorosos e aquele arzinho inocentão.

Ninguém arranja tantas defesas se não tivesse nada de tão importante a defender.

No entanto, no que toca a esta situação em si, mostrou-se (para além do concerto e todas campanhas) que o anónimo que deu o seu pequeno contributo, o que talvez na vida já também perdeu demais, viu-se compelido a ajudar. E é sempre assim, nos piores momentos, mostramos aquilo do que somos feitos, da nossa propensão, a nossa inclinação natural. As escolhas são sempre naturais, próprias de cada um, pode ser ajudar como pode ou excluir-se totalmente.

Compensa, de facto, de todas as vezes que quando há mostras do pior que um ser humano pode fazer, que não é este o único lado que a raça humana produz. Há quem faça o melhor que pode, sincera e honestamente. Cada um dá aquilo que tem ou que consegue colocar para fora.

E nesse ponto, o meu optimismo consegue aguentar-se nas canetas.

Rakel.



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