É engraçado pensar na ironia desta frase tendo em conta a pessoa que a "produziu"; será o mais próxima possível da que temos no nosso país que diz "mais vale um desencanto na vida do que andar a vida toda enganado". William era um humanista, historiador e um pintor que, não achando em si mesmo grande talento, resolve ser um narrador daquilo que vê nas obras dos outros mestres. Descreve com tanto detalhe e lirismo que chega a igualar a própria arte da pintura.
Somos terrivelmente atraídos para aquilo que nos proporciona ilusões e devaneios fúteis, mas intensos; somos atraídos, pelo nosso instinto de auto-preservação, a olhar com desconfiança tudo aquilo que poderá nos magoar. Ninguém escolhe deliberadamente o lado amargo da vida. Sabemos que muitas das nossas escolhas não são boas, sabemos que são alegrias passageiras, sabemos que há uma chance em um milhão de poder dar certo. Mas arriscamos tanto a nossa confiança, como a nossa saúde emocional. É um acto consciente.
Não tiro o mérito de quem vive completamente entregue ao cálice cheio da amarga verdade; mas não enxergo o valor no sofrimento militante. De só encontrar na vida apontamentos de amargo sofrimento. O sofrimento não dignifica ninguém e deixa-me enfurecida a escolha de ser a "vítima" do sistema, do mundo e da vida. Ninguém em sã consciência escolhe só o lado que não é doce, de pedra e cal e sem o mínimo de cor e que só enxerga dois tons: a luz e a escuridão. Nada de cores, nada de pastéis ou cores garridamente luminosas. É luz e escuridão e o resto é pura ilusão. Todo o resto é uma derrota antecipada de uma batalha fabricada de ilusões. Lamento por vocês pensarem assim...
Como eu não acredito em destinos escritos em pedra, também não acredito nessa escolha estóica do sofrimento, da solidão auto-imposta, nem numa felicidade fabricada pela repetição constante de uma afirmação de que "vale mais só do que mal acompanhado e estou bem assim". E como eu não acredito também numa felicidade constante, mas em momentos felizes, faz todo sentido de que, com total consciência do risco que se corre, há que de vez em quando permitir-se ao fútil ou ao curto tempo de vida de prazeres superficiais. Seja o gelado que em duas mordidas vai à vida, seja a sensação de relaxe do abraço apertado de quem gostamos e de aproveitar o pouco tempo temos com eles, seja o breve sorriso que desperta da lembrança de alguém. Até a entrega dos nossos afectos à alguém. É pequeno, é efémero e de longe deixa mais vontade de repetir do que recusar. Mas é perfeito no sentido de que sendo tão curto o tempo de vida destes momentos, tornam-se preciosos no seu valor.
Pequenos, efémeros mas perfeitos.
Rakel.
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