Millennials - No Banco dos Réus



Como mãe, poderia fazer um post todo catita e engraçado sobre ser mãe, filhos e isso tudo. Ou poderia apelar ao sentimento sobre a maternidade, pés inchados, andar de pata choca e as noites sem dormir. Meus filhos já não são bebés, são jovens adultos e as preocupações são outras. Por isso...

Sei lá se é um assunto genético, se é um mau hábito ou apenas uma maneira fácil de apontar culpados. Mas em cada época há uma chamada "geração perdida" ou como se costuma dizer de uma maneira mais prosaica aqui em terras Lusas, "sem nada entre os cornos".

Estas "gerações perdidas" são a visão de um futuro condenado que estes mais velhos e sábios profetas do tempo culpam de tudo e mais um par de botas. Uma coisa é certa, se há uma geração, houve uma gestação para que nascessem estas crias.

O fim da Segunda Grande Guerra Mundial encontrou a maior parte da Europa de rastos economicamente, socialmente e com tudo para reconstruir. Do outro lado do Atlântico, esse "farol da democracia" chamada América também começava a emergir não só economicamente como crescia a olhos vistos a segregação racial. Estes paradoxos fazem da América essa máxima do "faça o que eu digo, mas não faças o que eu faço".
É por isso normal que a geração pós guerra na Europa, a que recebeu os contrastes de crescimento económico e desigualdades sociais fundassem um movimento socio-cultural que foram os Beatniks. Encurtando a história, digamos que seria um movimento que pregava um modo de vida anti materialista, de troca cultural sem olhar cor de pele, e que foram apontados como uns "não fazem nada da vida". Uma geração que foi a primeira, se assim podemos chamar, semente da cultura Hipster. O lado espiritual, por assim dizer, era a cultura e os diferentes modos de filosofar.



Regra geral eram apontados como vagabundos, idiotas, que não sabiam nada da vida e que parasitavam na sociedade. Podemos afirmar que esta geração "Beat" (batida, deitada abaixo) não teve grande influência no esquema mundial, já que logo a seguir a Guerra Fria, ao Vietnam (e aí foi muito tudo democrático, com o sorteio de datas de nascimento para os "voluntários" que serviriam nessa guerra como soldados pela democracia), as primeiras convulsões no Médio Oriente surge o movimento chamado Hippie, que prega o amor a paz e voltar à natureza. As comunidades desta nova causa perdida, de uma geração que "não presta" e que se rebelava contra os princípios estabelecidos começou nos anos 60, ganhando força nos 70 e acabando logo a seguir. Bob Dylan e as suas músicas foram reconhecidas em modo Nobel como marco cultural.








Mas a geração que nasceu na geração perdida anterior, cresceu, envelheceu, tomou o poder e formou outra, acusada agora de ser a Geração Millennial ou Geração Y.

Segundo uma senhora chamada Kathleen Shaputis, uma socióloga que pensa perceber deste assunto, esta geração actual que anda na casa dos 20 é uma geração da procrastinação e que é mais nova detentora do título Geração Perdida.  Adiam a passagem dos rituais para idade adulta vivendo na casa dos pais tempo demais, sem progredirem  ou a tomar a sua independência a qualquer custo. Chegam a chamar de geração Peter Pan, com a visão do rapaz que não queria crescer. Embora o conto seja uma alegoria às crianças que morriam graças a intoxicação de gás, no tempo da iluminação desse tipo por vezes acontecia e levados por "anjos" para a terra onde nunca envelhecemos.

A questão não é não querer crescer. É não ter como fazê-lo.



Bem vistas as coisas, herdaram tudo o que restou das anteriores : da bomba atómica e todos os doidinhos de dedos nervosos a querer apertar o botão,mais outros doidinhos que por causa do ouro negro fomentam guerras em nome da democracia, como a indústria da guerra que se sustenta com as drogas e nos jogos de poder. Da informação manipulada e da facilidade de obter novas tecnologias e fazer uso disso como a chucha emocional da solidão e da baixa auto estima. De não concretizar objectivos para os quais preparam-se.

Os que cresceram entre gerações dos finais dos 50, 60 e 70 que queriam mudar o mundo só perpetuaram os mesmos hábitos e jogos. Descobriram que, quando mais emburrecida é uma geração, quanto menos se investe na educação e na conservação do ambiente, tornando o jogo profissional numa competição feroz e sem regras, só os tubarões mais fortes sobrevivem e esses tubarões vão trabalhar para eles. Criam-se elites e classes de privilégios que nem sempre são fruto de um verdadeiro brilho ou rasgo de inteligência.

Os que são agora da Geração Y, a que se escondem nos perfis sociais, que conseguem alguma atenção em cada selfie, de cada cocó que fazem, de cada unha partida a ser acontecimento e que comentam o vestido ou a celulite de outra desocupada como eles... é também aquela que decide que mesmo com o canudo de licenciatura nas mãos e um mestrado por acabar, mais vale virar hambúrguer numa chanfarrica do que fazer parte do milhentos desempregados. É um jogo de frustrações a serem deitadas fora em twiters e faces.  Mesmo ganhando uma miséria, essa miséria que nem permite alugar, nem que seja, um T-Ovo do tamanho de uma caixa de sapatos e comer mais do que massa instantânea. Mesmo assim, começar por algum lado. Vivendo com os pais, ganhando miseravelmente e não trabalhando naquilo que se propuseram a estudar e especializar.

Outro dia, uma amiga minha que já passou  a casa dos vinte, portanto será alguém que já se estabeleceu profissionalmente, teve que voltar à casa dos pais, morar num anexo (dando assim alguma pertença de independência) e fechar o consultório no qual investiu mais de 10 anos.

A maior humilhação não é não conseguir sair da casa dos pais, é ter que voltar para lá depois de derrotados.

Todo o investimento pessoal e no caso dessa minha amiga, é não ter fins de semana, férias e demais direitos de quem trabalha, é ver tudo ir por água abaixo no panorama económico construído pelas sucessivas gerações que não eram perdidas, que apontava os dedos aos que queriam mudanças, e que sabiam exactamente o que deveria ser feito.

Em terras Lusas, a chamada Geração Rasca deveria ser rebaptizada para "Geração À Rasca"; é aquela que tem estudos e que se vê entre sair do país para trabalhar, se tiver sorte, virando hambúrguer num país menos atacado pela economia ou então vivendo a custas dos pais tentando achar um part-time ou estágio. No que antes um estágio era uma possibilidade de emprego, hoje é a peça chave de muitas empresas a funcionar sem pagar um tostão e numa troca rápida de mão de obra desejosa de conseguir provar o seu valor e dando o máximo que podem.

Pude constatar por outras fontes que o mesmo se passa em países desenvolvidos, como no caso da Alemanha, em que jovens licenciados andam ao tapa por um emprego de caixa em supermercado. Aliás, e falando de casos específicos de quem reclamou do assunto, na Alemanha, um jovem que seja licenciado e que não consiga arranjar trabalho na sua área, não vai conseguir arranjar outro de menor qualificações também, visto que, para muitos supermercados, cafés e afins, são jovens com qualificações a mais, e por consequência, inaptos para esse tipo de empregos. Não é um fenómeno de países ao sul, que gastam dinheiro em putas e vinho verde. É mal geral.

E se há algo que me revolta de forma visceral, é quando uma carcaça qualquer manda a boca de que "esta gente só quer viver do subsídio de desemprego do que trabalhar". Desafio qualquer um deles a pagar renda, conta da água, luz, gás e comer com 419,23€ com dignidade. Se viver com salário mínimo é o que se sabe, imaginem assim. Quase a maioria dos desempregados ganham isso, depois de terem cumprido com os seus descontos e de terem trabalhado anos. A grande força motora do país é feita de trabalhadores de salário mínimo. Perdoem-me se não acredito nos relatórios governamentais, afinal se pessoas em cursos o IEFP são consideras como factor a baixar os números dos desempregados, também não acredito que sejam poucos a ganhar o salário mínimo. Se assim fosse, não teria o alarido todo aquando da miserável subida. No que toca à chamada justiça social, há muito para fazer. No que toca às chamadas gerações perdidas, aceitem o facto de que foram as incubadoras delas. Cada um que subiu no banquinho e que disse que sabia o que era correcto e apontou dedos aos que apresentavam alternativas, formaram estas gerações. Aliás, na minha óptica, até fazem-lhe jeito estes desgarrados sociais. Justificam-se assim meios pouco correctos para chegarem à um fim.

Como mãe de jovens adultos que ficam a mercê de uma economia espancada, de um poder político pouco ou nada credível, à mim fica-me aquela sensação de maior responsabilidade e de desilusão, pois não era este o mundo que eu pensava que seria o futuro deles.

E não sobra muita vontade para comemorar a minha parte "mãe" quando o futuro deles é tão incerto. Já lá vai o tempo que eu acreditava que, o facto de dar-lhes ferramentas emocionais, estrutura de educação e uma visão de responsabilidade ajudaria a mudar o mundo para melhor. Um mundo que seria para eles continuarem a melhorar.



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Rakel.


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