Imagens Pré-Concebidas - Até Alice Conheceu O Outro lado Do Espelho






Madrugada adentro e eu na conversa com um dos homens da minha vida; tenho a sorte de ter alguns, uns poucos, que nem sempre são por laços de sangue, uns são laços de alma. desta vez foi o meu irmão caçula, do outro lado do Atlântico numa conversa que começou por um amor comum: a música.

Dizia ele que nós, quatro irmãos, temos gostos tão diferentes uns dos outros nesse termo musical; no caso parece que o deixei um pouco confuso pela variedade de géneros que costumo postar aqui e noutro lado. Expliquei que, apesar de ter aquelas bandas que me são muito queridas e para mim culto, tenho a liberdade de gostar de várias coisas diferentes sem me sentir culpada de não fazer parte de uma determinada tribo. Acho que conquistei a liberdade não me sentir pressionada a ter um género, de pertencer à um grupo restrito de "conhecedores" e de puristas do som.

O que achei engraçado nesta conversa madrugadora foi que, o que realmente nos separava não era o fuso horário, nem era o vasto oceano. Eram as histórias que contam (ainda) de mim lá no meu país natal. Parece também que avaliam o grau da nossa proximidade pela frequência e intimidade das nossas conversas. De facto, parece ser uma obrigação taxativa que uma verdadeira amizade ou uma verdadeira família faça-se como picar o ponto na chegada e saída do trabalho.

Daquele lado do espelho, nem sequer imagino o todo o folclore que gira em torno da minha humilde pessoa, embora possa fazer um breve esboço tendo em conta a minha adolescência nada pacata. Mas a imagem que ficou é dessa menina de 16 anos, que agora já está mais do que crescida e noutra realidade de vida.

Na verdade, eu e este meu irmão falamos pouco, ele por eu ser um "mistério" envolto em folclore e eu por achar que não devo cobrar dele algo de que não se sente confortável. Somos irmãos, mas somos diferentes. De qualquer lado do espelho, a imagem que precisamos enxergar, muitas vezes é aquilo que concebemos antecipadamente: uma soma do que nos dizem e aquilo que lembramos. Mas é sempre a música a nos aproximar de qualquer pessoa, (e por isso acho a linguagem mais importante de todas) e ele me deu a conhecer uma banda que faz um som hardcore em português. Com tanta letra de bosta escrita em inglês em tantas músicas de sucesso duvidoso, por que não na nossa língua mandar umas bocas? Ainda há preconceitos da nossa língua por ultrapassar em vários aspectos, e espero bem que com o passar do tempo as coisas melhores. A banda chama-se Pense e foi na letra, longe do habitual do hardcore que conheço, que me fez começar a ouvir o que faziam.

E quando falávamos destas coisas de ter liberdade de escolha, de sentir-se na obrigação de achar conversa para ser certo (seja lá o que isso for) e imagens pré concebidas, eu ia escutando o Revitalizar dos Pense que, numa determinada hora diz: "Convivência vai além de saber de histórias de vida. É saber quando falar e quando respeitar o silêncio." E foi essa coincidência (que eu não acredito nelas) que foi um "na mouche" daquilo que falávamos. Caiu certinho no lugar exacto.

A banda, no meu ver de simples ouvido ecléctico, tem pernas pra andar e tem conteúdo de letras. O género, pode ser uma faca de dois gumes, pode seguir sem problemas ou ficar empacado na mesmice. Mas as letras... tem força e não são só aquele apelo ao mother f*cker fácil e o down do costume. Se é pra passar uma mensagem de revolta de necessidade de mudança, que sejam assim como estão a fazer, digam realmente o que pensam e aquilo que querem. Peguem na realidade que vivem, não lá doutros países que não é vossa, e digam tudo. O que vai na alma, o que desencanta e o que deixa puto da vida.

Espero que não seja mais uma banda a ficar pelo caminho, e Tiago, passa-me mais coisas para ouvir que a mana tá aqui de orelha limpinha e cabeça atenta.

Quanto ao folclore... deixa isso aos ranchos e bailares aí dos saudosos da santa terrinha e faz a tua própria imagem de mim, ok?


Rakel.




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