Epidemia de Gente Boa, Mais As Latinhas Com Ar Santo

A imagem não é da minha autoria, com muita pena por isso, mas do Budista Nervoso


Dizem que as redes sociais são uma seca sem jeito nenhum, mas olhando assim da bancada:

...em chegando o 13 de Maio, mais ou menos um par de semanas antes, restabelece-se toda a fé no altíssimo e no seu filho, numa horda quase em êxtase espiritual...nas redes sociais. E como num tema do Chico Buarque, o mundo desabando e "deus dará, deus dará" é o mote dos fervorosos.

Tirando o facto dessa fé inabalável renascer por esta altura, nota-se em muito a necessidade de massagem no ego. Digamos que será também uma boa dose de dolce far niente, em que uma pessoa com um perfil onde aparece o nome como Sao ou Ceu (vamos Saramagar um pouco) consegue um significado, num daqueles sites muito convincentes, e é ver uma cascata de qualidades num sem fim de amabilidades e zero defeitos. De uma credibilidade que até incluem uma Luisinha (diminutivo são tão aceites como as outras sem acento, nisso são democráticos) e a sua doçura e paciência num coração doce e terno...

...e se não fosse Rita Lee, seria eu a única a achar que essa coisa de "eu sou tão boa" é de dar nos nervos?



Catano, nunca vi tanta gente boa e merecendo duplex lá no paraíso dos anjinhos, tanta gente respingando benesses e agradecimentos...

...e logo assim que passa o Maio e chegados ao Junho restabelecem-se os padrões de indirectas, cutucões e aquela coisa do "ninguém me ama" mas a lamparina acesa a procura e na certeza que vai encontrar no próximo ou próxima candidata; de cada post  republicado do Chagas Freitas, o nosso Nicholas Sparks ou uma Margarida Rebelo Pinto de calças. Ele está na moda... portanto esse Osho dos descompassos cardíacos é material para usar e abusar.

E dessa gente boa, verdadeira e que me faz lembrar os tipos a venderem a ponte sobre o Tejo em tempos idos, há latinhas com ar de Fátima, mais ou menos em jeito de vendilhões do templo (a sério Jesus, não voltes senão morres dessa vez de vergonha) e cada esconso espaço a ser usado para receber os peregrinos e ganhando bué de notas.

Desconfio sempre de gente muito boa, de gente muito doce, muito alegre e muito certinha, mas.... vá lá, pronto, é só o mês de Maio passar e a epidemia de gente devota, agradecida e largando tudo nas mãos do criador volta ao registo normal.

Depois dos desaires de um Verão mais ou menos conturbado e meio que desiludido, lá teremos o natal e o final do ano para restabelecer a fé no futuro, na humanidade, no amor e apostar na lista de realizações do ano seguinte.

Só agora percebi a sério o valor dos dias festivos e das datas santas no calendário: é para dar alguma paz e restabelecer a fé diante das duras realidades e renovar a cenoura à frente de cada um de nós dando o nome de esperança...

... há coisas do caneco, hein?!








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