O primeiro monstro que tenho gravado na memória é o monstro das bolachas da Rua Sésamo; aquele boneco que devorava todas as bolachas em vez de contá-las ou reparti-las e que criava alvoroço. Uns anos mais tarde, era então o Godzilla destruindo Tóquio em cada episódio na luta contra uma mariposa gigante ou até mesmo contra o Kong, King Kong. E eu, a ver os prédios ruindo e as patazorras esmagando carros e nem percebia que era um senhor vestido naqueles preparos; e sentia pena daquela gente que tinha que, em velocidade nipónica, reconstruir tudo de novo. Era o efeito castelo de areia que as ondas ou os pés do incauto turista destruía, depois de tanto esforço e pinha ao sol.
O tempo e as telas foram oferecendo os diferentes monstros que povoam a imaginação das pessoas ou então o recuperar das lendas e tradições do mundo. É de notar que nunca fizeram um filme em honra do "Homem do Saco", esse ser mítico que obrigava-me a comer, mesmo contrariada, a sopa toda e ir para cama a horas decentes. É também verdade o mau gosto da minha mãe de mencionar esse senhor, que é o oposto do Pai Natal, antes de eu ir para cama. Era ou não motivos para gritaria e pesadelos numa pobre criança? Eu acho que sim.
Daí passar aos vampiros, lobisomens, a criação do Dr. Frankestein (o monstro não tinha nome), as múmias a saírem das tumbas malditas aos Pesadelos em Elm Street foi de rajada. O género terror é apelativo tal como eram as histórias contadas ao redor das fogueiras, das caçadas e dos animais mortíferos que faziam parte da vida dos nosso ancestrais das cavernas.
É bem verdade que com o passar do tempo, a literatura emprestou enredos e ideias paras as grandes e pequenas telas; na falta de mais, os nipónicos também emprestaram inspirações (the Ring originalmente é japonês) variadas de sustos e monstros que, do lado do Ocidente, adaptou em novas histórias. O problema é que este surto de poucas ideias e de uma boa história ficou penhorado pelo crescimento do efeito visual e os truques tecnológicos. Já me debati aqui sobre o assunto algumas vezes, com grande pena minha, por causa do efeito visual que só existe para tapar um argumento fraco ou ausência completa de conteúdo ou história. E nisso, os filmes do género Gore usam e abusam não dando pica mental nenhuma. Mas, lá está, há que respeitar o género e os seus seguidores fieis de carnificina gratuita.
Aí uma pessoa, nesse caso eu, espero que o fim de semana me dê um filme jeitoso para espairecer as ideias e levar-me para um mundo ficcional por pelo menos uma horita e dá de caras com um filme em que um tubarão gigante luta contra um robô estilo gigantone como os antigos filmes do Godzilla. O desperdício de película e meios doeu-me lá no fundo. Honestamente, onde param os bons argumentos? Ou estamos perante os remakes dos remakes ou então no 7º ou 8º seguimento de um argumento que foi bom em trilogia, a partir daí é mugir uma vaca seca. Ou então argumentos que não lembram ao capeta. Alien é exemplo do filme que foi bom em 3 capítulos, pelo amor do santo pacotinho, não estiquem mais... E NÃO MEXAM NO MATRIX!!!
Lara Croft saiu dos comandos da Sega e pulou para a tela dos cinemas; antes dela, Mortal Combat (e valha-me santa paçoca, mas que coisa hedionda) saiu dos comandos da consola e foi mostrar até que ponto podem estragar o nosso imaginário; depois foi o Tekken, o jogo e mais uma vez, na falta de melhor argumento, e foram mexer com um dos mais emblemáticos jogos de porradaria e coloca-lo na tela. Digamos que a facada nas costas foi aquela coisa horrenda que fizeram com o Dragon Ball, onde um Son Gonku era estudante universitário (um gajo que mal sabia direito a diferença entre meninos e meninas, deu em estudante e conseguiu chegar à Universidade) e uma desconstrução total dos personagens. Embora tenha o maior respeito pelo actor que fez de Tartaruga Genial, o primeiro mentor do Gonku, um senhor com décadas em filmes lá na Ásia e muito respeitado de seu nome Chow Yun-Fat (O Tigre e o Dragão, por exemplo), me perdoe, mas faltou, não por sua culpa, toda aquela personalidade encantadora de velho a espichar o olho nas meninas. O filme todo não tem ponta por onde se pegue.
Estragando um e outro símbolo da B.D ou dos jogos chega-se a conclusão que os roteiristas estão atrofiados ou então sendo "levados" a adaptar grandes malhas para a tela. E nisso, os jogos tem argumento para dar e vender, sendo talvez uma tentação enorme pegar em uma boa história, com uma legião de fãs acérrimos e com paisagens de sonho e escarrapachar tudo na tela e arrecadar uma boa maquia das bilheteiras.
Para já gostaria de ver o filme Logan e o Assassin's Creed, ambos por motivos diferentes; o Logan pelo simples facto de ter sido um dos personagens que acompanhei e tive uma certa simpatia nas revistas de B.D, esperando que o atormentado e solitário personagem tinha um fim digno e bom. O Assassin's Creed, tem uma boa história e como jogo é apelativo não só pelas missões como também pela parte visual. E parece que os produtores deste filme resolveram esmerar-se nesse ponto, embora eu não sei até que ponto vão chacinar o argumento original. Uma das cenas colocadas e como poster do filme é de um dos locais mais belos e que povoam o meu sonho dourado de viagem: Duomo di Milano ou melhor dizendo, a Catedral de Milão. A grandiosidade do estilo gótico perante os nossos (meus) sonhadores olhos.
Nem que eu passasse um dia inteirinho olhando para ela, não veria tudo; é o tipo de lugar de ir todos os dias só para entender e apreciar a fachada, e levaria semanas a ver, com olhos de ver mesmo, toda ela e interiorizar os padrões, os movimentos, e tudo aquilo que foi esculpido por mãos hábeis e quase mágicas. O interior então... é de deitar no chão e absorver aquela grandiosidade toda em silêncio e cuidado.
Parte da fachada |
Lá em cima |
Interior |
Só espero que isso não seja uma camuflagem para tapar mais um esventramento de uma boa história e que faz parte de toda uma mítica do jogo. É que há um talento imenso em destruir, em nome de lucros, aquilo que de raiz foi feito de maneira inovadora, original. Por mais velas que eu coloque no altar a pedir um bom filme, se não me socorro dos antigos, os de culto e que ainda servem de base para os novos argumentos, não me safava e fico-me pela animação, bonecagem. E por muito ridículos que sejam agora no aspecto visual esses filmes antigos, na altura fizeram arrepiar nucas e temer a escuridão. Hoje, o que me resta em termos de terror é abrir a conta da luz (a mais cara taxa de luz da Europa, quem sabe do mundo) e que faz parte, infelizmente, do meu mundo real. E no mundo real, há praí monstros de verdade, que sem base ou argumento matam, maltratam de verdade e nem sempre levando a punição que merecem. E nisso, os filmes dão a solução que precisamos para apaziguar a nossa alma. Pois a justiça real e dos homens é aquela que pesa mais para um lado do que outro e nem sempre favorece a vítima, nem lhe faz justiça.
Apareçam
Rakel.
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