Com Uma Candeia Na Mão






"Precisamos mas é de um novo Marquês do Pombal!!" Enquanto eu digeria as notícias da T.V e me desconcertava a passividade deste povo que já fez tanto com tão poucas hipóteses, olho então para o autor desta frase com a percepção que ele fala desta falta de liderança e de fruta (já que tomates são frutos e não legumes) e confiança que tem arrastado-se nestas décadas modernas.

É desconcertante pensar que cada vez mais a memória do país, do que fez e das suas capacidades, sejam constantemente esquecidas e apenas recitadas, sem pica, sem cor e só como um rol de acontecimentos nas escolas. Não é uma questão de nacionalismo cego, é a história de um país, um rectângulo, uma faixa de terra verde e ensolarada, a beira mar, beijado pela brisa amena do Atlântico e que aos poucos vai perdendo o orgulho, a confiança. Não, não vale apenas sentir orgulho quando se marcam golos e ganham-se campeonatos. Isso é triste.


Durante 200 anos, em plena Idade do Ferro, os romanos levaram tareias dos lusitanos, o  povo tribal  habitante aqui destas paragens, que cá pra mim inspiraram um tipo de Asterix e Obelix, já que demos luta ao poderoso Império Romano. Eles,os romanos, eram organizados, bem alimentados, bem armados e instruídos em táticas de guerra que deram de caras com um povinho que não percebia ponta de corno de ordem, lutavam com ganas e não tinham cá merdas de menina não entra na guerra. Lutavam todos por uma mesma causa sem distinção. Táctica? Bem, pode-se dizer que os lusitanos desconheciam por completo o que eram as tácticas defensivas, só conheciam as ofensivas e foram, creio pelo que pesquisei, os primeiros a fazer táctica agora chamada de guerrilha. O tempo passou sem dúvida, mas aptidão para lutar e não desistir continuou. E por aí vai...

Segundo consta, D. Afonso Henriques era um senhor largo de ombros, alto e suficientemente forte para lutar com um escudo num braço e segurar uma espada de punho e meio na outra. Mesmo com um exército de menor número, lá pelos idos de 1139, lutou contra as chamadas Cinco Taifas (digamos 5 chefes de clãs, mas no caso, árabes) mesmo que do lado português estivesse em inferioridade numérica, venceram a batalha, que levou o nome de Batalha de Ourique. Mas não foi caso único. Assim só por alto:

Entre 1383 e 1385 a inferioridade numérica nunca assustou os portugueses; em Aljubarrota, contavam nas linhas portuguesas 6 mil homens e mais uma centena de arqueiros vindos de Inglaterra contra 31 mil soldados num conjunto que abrangia castelhanos, franceses, e venezianos. Portugal saiu vitorioso. Na batalha de Valverde, aí já contando com cerca de 11 mil soldados (mais cinco mil que na batalha anterior) contra 39 mil castelhanos, apesar de serem menos, venceram.
Na dos Atoleiros   eram uns poucos 1.400 soldados contra 5 mil castelhanos, além de terem vencido, ainda por cima não é citada uma única baixa ou ferido nas alas portuguesas e...venceram.

Pulando mais um bocadinho e entrando em batalhas navais, segurando e protegendo as nossas possessões orientais, na batalha de Cananor, na Índia em 1506, do lado português eram 3 Naus, 1 Caravela e algumas Fustas (não encontro número exacto, e Fusta é um tipo de Galé, usando remos e uma vela bastarda, só que é um bocadinho menor que uma Galé) contra 200 embarcações  e dois canhões a juntar a uma coligação ao estilo Geringonça: hindus, árabes e turcos e uma mãozinha de soldados do Império Otomano. Não perdemos nenhuma embarcação, não há registo se houve ou não baixas e venceram.

E tivemos um senhor chamado Aníbal Augusto Milhais, que durante a Primeira Grande Guerra, sozinho, conseguiu segurar o inimigo e dar margem para que os companheiros de armas pudessem retirar-se para posições defensivas melhores. Ficou para trás ele e mais a Luísa, uma metralhadora, que foi atalhando as colunas alemãs conforme iam passando. Ganhou não só a alcunha de Soldado Milhões (só ele valia por milhões) como foi posteriormente condecorado com a maior honra nacional, a Ordem de Militar da Torre e Espada, do Valor, Honra e Mérito.

A pergunta que me faço é esta: se desde a Idade do Ferro e dos aguerridos Lusitanos, que deram 200 anos de suores e dores de cabeça à poderosa Roma e que mesmo sendo em menor número em várias batalhas soube vencer, o que falta agora neste povo que tão má imagem tem de si mesmo? A falta de um líder a sério, que perceba, viva  e lute as mesmas batalhas que os seus soldados? Alguém que faça, actue e nos consiga perceber e recuperar o nosso valor e dando exemplo disso? Ou o sangue aguou, esfriou e a alma desacreditou tanto a memória caducou e que tudo se resuma a chutes na bola e contratos e apitos e penaltis e... nome de aeroporto...valha-me santo pacotinho.

Gostaria de encontrar, mesmo levando uma candeia nessa escuridão de esquecimento e no meio de lamúrias, onde foi escondida a verdadeira alma lusitana. Não deve só servir para arrancar cadeiras de estádio e depredar autocarros de adeptos.


Apareçam

Rakel.

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