Um Passo Em Frente, Dois para Trás






A notícia saiu fresquinha e agradando muita gente, o velho 3310, comparável ao Chuck Norris na invencibilidade, volta mais uma vez ao mercado. Engraçada a forma como os telemóveis evoluíram entre o trambolho pesando 5 quilos, na exibição do tamanho mais pequeno, voltando novamente ao tamanho avantajado mas fininho. Telas partidas, sistemas que gripam, bateriam que se esgotam num instante ou explodem. Mas há quem diga que nada se compara ao velho  3310.



Não sou uma conhecedora do assunto, mas particularmente gosto de ter as coisas em separado: telemóvel servia para telefonar ou mandar mensagens. Agrupar tudo num lugar só é pedir desgraça. MP3 num lado (funciona portanto usa-se), máquina fotográfica do outro, e redes sociais é para quando não se está na rua. Opinião minha, claro. Quanto mais agrupado e mais se coloca num lado é uma desgraceira quando perde-se ou cai em mãos alheias. A pedido de uma amiga, fui desbloquear um telelé todo Iqualquer coisa e vi uma data de programas abertos e até fotos que tinha escusado de ver...informação a mais. Perguntei à ela se não tinha receio que alguém deitasse as unhas ao telelé e fizesse dela a próxima estrela do Red Tube e ficou a matutar no assunto, enquanto eu pensei no quão desprendidas são as pessoas com a sua privacidade.

Enfim, os tempos mudam e no que pensamos que a inovação e descobrimentos são o ponto essencial das novas tecnologias e preferências, estamos a dar passos gigantes para trás. Das duas uma, ou as ideias estão mesmo a ficar rarefeitas ou então as primeiras invenções são mais fidedignas.

Se por acaso o leitor chegou naquela fase de enxergar os documentos ou a conta da água em jeito de tocador de trombone de vara, naquele estica e encolhe o braço tentando focar aquelas miseráveis letrinha miúdas, temos novidades. Ou não. Enfim, no tempo da Rainha Vitória, as moças que enxergavam mal usavam a nova moda Lunnttes Pince Nez; um par de armações em metal ou casco de tartaruga com lentes que ficava ajustado na cana do nariz, proporcionando um ar intelectual à pitosga em questão. Tirando o facto de que aquilo ficava mordendo a cana do nariz e não oferecia grande mobilidade (e daí a fitinha a segurar o aparelhómetro) a novidade é que isso voltou.

Todo catita, em cores alegres e proporcionando ao indivídio que se recusa a usar óculos progressivos ou só precisa para ler, este utensílio foi buscar ao velho, antigo e do século XIX a novidade.








Não fica a coisa só por aí. A propaganda dizia que utilizando o sistema MP3 uma pessoa escusava de ter a chatice de armazenar tanto os CDs como o Vinil, coisa que parecia já um grande avanço antes de toda esta epopéia dos telemóvel com leitor de música. Uma coisa pequena, que cabia (e continua a caber no meu bolso) no bolso, comia pilhas baratas e permitia correr sem o trambolho do Discman a trambolhar no chão e ficar em fanicos. Adeus discos de vinil riscados, adeus colecção que ocupa tanto espaço. Num clique copia-se e ouve-se tantas vezes quantas quiser... até ao momento que o Vinil e a sua qualidade sonora voltam e de uma maneira crescente. Engraçado é ver tantas formas de revivalismo e escolherem também o gramofone como designe para a volta do vinil.







A oportunidade de ter um computador de bolso veio na boleia dos telemóveis, sem qualquer dúvida. A intenção de minimizar o espaço e oferecer as funcionalidades de quem precisa (duvido muito, mas tudo bem) constantemente estar a ler e-mails e estar a ler relatórios e mais o escambau, fez com que essa industria oferecesse várias formas de dar ao utilizador aquilo que precisavam. Tenho verdadeira admiração pelo utilizador duma dessas máquinas com teclas liliputianas e sem fazer erros com a ponta da caneta...é obra. Mas, lá está, o revivalismo ressuscita uma máquina que trabalha mesmo que não haja electricidade, obriga que a pessoa saiba escrever correctamente, e no caso de um erro modesto, era coisa de corrigir com aquela folhita correctora e despachar o assunto. Não havia cá papel encravado nos rolos da impressora, nem tinta que acabava na hora mais imprópria; nem aquela bagaça ficava piscando ERROR 4544 e a gente ali...olhando e sem saber se reza ou se chuta o aparelho.
Ainda não percebi a graça de ter uma máquina de escrever só por causa do teclado, mas há coisas que nem os deuses ousam indagar.



















Vida de mulher nunca foi fácil, que diga toda a paraférnália que nos acompanha e que depois recheiam malas e carteiras com infinitas bolsitas e demais compartimentos que levamos a tiracolo. Nos tempos idos, aquando do ciclo menstrual, diziam que as mulheres nessa fase, estavam com um "incómodo". A palavra adequa-se ao momento em que o corpo vacila nas hormonas, o humor não é dos melhores e as cólicas dão cabo da nossa resistência. E pingamos feito umas torneiras com defeito, o que é realmente incómodo. Passamos da mini fralda aderente a roupa interior à rolha servindo de tampão, até chegar ao copo colector, higiénico e reutilizável. Mas lá está, as inspirações do passado ressurgem com o velho "paninho" fugindo já da vergonha de estender na corda da roupa e secando no ferro de engomar, segundo a minha avó contava. E vem todo cheio de cor, botão para segurar aquilo no lugar...e meu me perguntando "mas pra quê???!!".




Deve existir uma explicação lógica para que tantas coisas antigas retornem com um ar novo e que melhoram a qualidade de vida. Ou há um cansaço claro em tantas coisas arrojadas mas frágeis e ao mesmo tempo sempre em mudança, ou as pessoas escolhem pelo facto de um certo saudosismo e montes de alergias. Tanto no contacto físico como tecnológico. Acho que de certa forma, tanta tecnologia acaba por cansar, deixar-nos dependentes e desconfortáveis. É a volta da bicicleta como meio de transporte, é o voltar das marmitas e da comida feita em casa e do som puro e limpo de um disco a girar na agulha. As motivações são diversas, mas tenho a impressão de que as primeiras invenções ainda carregam o seu charme e simplicidade. Que é o que anda faltando muito.


Apareçam

Rakel.


PS: não ganho um chavo ao colocar as fotos aqui existentes, nem de marca nenhuma... continuo a minha vida  na minha pacata e crónica carteira esvaída.

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