O que de mais fascinante tem a noite é o luzeiro imenso que paira sobre as nossas cabeças, isso se conseguir ter a sorte de viver num lugar que permita contornar as luzes artificiais que iluminam as nossas ruas e avenidas. Era das coisas que mais gostava de ver quando passava os Verões na aldeia dos meus avós: o céu nas noites de Verão coberto de estrelas e brilhante.
É bem verdade que usava a desculpa de ver o céu nocturno para dar umas voltas com o meu avó, de quem eu cravava descaradamente os SG Gigante e fuma-los longe da vigilância e nariz de perdigueiro da minha mãe e avó. Aliás, tanto eu como o meu avô fugíamos dessas duas como o capeta da água benta. Chatas do catano.
E tínhamos grandes conversas sobre o espaço, o céu, as estrelas e todas as lendas e dizeres que o mundo vem tecendo em volta dos mistérios do que está acima de nós. Minha avó acreditava num todo poderoso, sentado num trono dourado e ao seu lado o filho misericordioso que morreu por nós, mais os anjinhos em estilo badocha barroco e todos os santos e santas. No máximo dos máximos tolerava a Lua e Sol e de resto as luzes das estrelas eram o hall de entrada das portas do mundo divino. Meu avô tinha outras perspectivas e via as coisas pelo lado mais lógico da história. Falou em primeira mão sobre a conquista do espaço, da disputa entre americanos e russos, e dizia ele, que tudo era possível.
E entre o cheiro das rosas bravas, do rosmaninho e alecrim a encher as noites dessa aldeia alentejana, perdia a noção do tempo a olhava para o pequeno campo de visão que me davam do espaço.
Ainda hoje a noite me fascina como sempre foi, remete-me à reflexão, do ler desenfreadamente e de apreciar os sons da noite, Quando toda gente vê o pôr do sol como o fim do dia, que vejo como um começo.
Hoje li uma notícia da Nasa a falar de uma descoberta a ser anunciado na próxima quarta-feira; um sistema de sete planetas e diz-se que será possivelmente um planetas ser como o nosso, que orbita numa estrela como o nosso Sol. O que quer dizer que possivelmente terá algum tipo de vida. Somos tantos, mais de 7 mil milhões a viver aqui, conectados por vários meios electrónicos, podendo alcançar o outro lado do planeta num simples bilhete de avião, ou no instante de um clique do rato. E mesmo assim, temos esta ânsia de não estarmos sozinhos.
Dá-me que pensar nos vários cenários daquilo que supõe-se de vida de outros planetas: formas humanas ainda em estágio evolutivo como os neandertais? Ainda a sair das águas e familiares dos lagartos? Um povinho unicelular ainda boiando no caldo primordial? Ou espécies completamente diferentes?
Eu sei que muita gente quando pensa em vida em outros planetas sente-se tentado a pensar em povos mais evoluídos tecnologicamente. É atraente pensar que vamos dar de caras com um povo que nos vai ensinar a combater os nossos pesadelos, curar os nossos venenos e mostrar o caminho certo. Mas, se até mesmo aqui, em pleno século XXI temos povos que vivem com diferentes conceitos sociais, que a convivência com avançado e primitivo ainda contempla a nossa colcha social no mundo, não será que temos demasiada fantasia na cabeça e possa ser o contrário? Nós os avançados e eles não?
Também li há uns tempos uma entrevista com o cientista Stephen Hawking, que apoiava fervorosamente a procura de outros planetas a serem colonizados por nós, mais ou menos como modo de resolver os problemas que temos por cá. Respeitando esse senhor no que toca em conhecimentos da física e demais coisas brilhantes e de linguagem quase hermética, apesar disso tudo, acho que é uma idiotice pensar assim.
É o velho hábito descartar e seguir em frente. Deitar fora quando uma das leis mais antigas diz que tudo se transforma. E de momento, enquanto muita gente esforça-se em tentar reverter os estragos ambientais, enquanto tanta gente esforça-se para encontrar outras fontes energéticas limpas, outros acham melhor continuar a destruir, pois sempre há a possibilidade de encontrar um outro lugar para colonizar e voltar a fazer a mesma coisa, criando um ciclo sucessivo de destruição abandono e nova procura. Acreditam num tipo de povo escolhido para uma nova terra prometida.
Temos um caminho feito de mais de 150 mil anos como bípedes, percorremos o mundo e espalhamos-nos por todos os lados; construímos pirâmedes e impérios; descobrimos formas de transformar as nossas vozes em letras e palavras; dominámos o fogo, construímos aquedutos e represas; aprendemos a orientarmos-nos pela posição das estrelas, a navegar e descobrir outros lugares. E tudo isso para depois dizermos: ok, foi bom enquanto durou, adeus.
Por muito espírito aventureiro que tenhamos, uma coisa é certa, temos sempre aquela perspectiva mais ou menos longínqua de voltar para "casa". E o nosso berço, a nossa ancestralidade é aqui, no planetinha azul. Não ponho de parte o fascínio das descobertas, do nosso verbo ir. Mas há sempre aquele profundo desejo de voltar. Nesse caso, não seria de desehar voltar para a nossa casa...mas mais arrumadinha?
Apareçam
Rakel.
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