No Laboratório Musical - DNA do Rock



Se fosse possível pespegar uma amostra biológica do Rock e colocássemos essa amostra num descodificador genético (imagine-se um laboratório ao estilo de série CSI) e teríamos as respostas tal qual o nosso DNA é feito.

Portanto, o Rock, por assim dizer, é a junção da carga genética do Folk com a do Jazz nascendo lá pelos finais dos anos 40, num pós guerra mais ou menos optimista (apesar da Guerra Fria e tal) e de toda a reconstrução social inerente ao facto. Filho de um pacato contador de alegrias e da sua Darling, aquela bipolar que tanto caía em tristes estados Blues como conseguia fazer descolar os saltos dos sapatos em tanta energia. Óbvio que o Rock, herdando esta carga genética teria que ter um bocado dos dois, só que completamente electrizado.

Sejamos francos, o Rock quando apareceu foi tratado como a forma mais fácil de parar com os costados no Inferno sem passar pela casa da partida. Fazendo parte de uma geração cansada de tantas imposições morais, raciais, comportamentais e outros ais, o Rock seria um sinónimo de rebeldia e de uma juventude sem eira nem beira (e haviam de ver hoje perto de 300 mil jovens cá no país, sem estudar nem trabalhar, e à isto chama-se progresso).



Das suas estrelas mais pontiagudas e mais conhecinhas, temos o tio Chuck Berry, Bud Holly, John Cash, Bill Halley, digamos os papás do Rocakabilly; não esquecendo de Elvis e a sua pélvis bamboleante e aquele olhar de goraz mal amanhecido. Eles desafiaram os trâmites dos bons rapazes de cabelinho curto e bem acachapado à cabeça a calça puxada até perto dos sovacos e com aquele ar de moço de sacristia.

James Dean e Marlon Brandon deram então a deixa para o ar de rapazes mau comportados, de uma juventude a beira de uma ataque de nervos e a rocar!! No que os anos 50 foram o crescimento e vida adulta do Rock, lá mais para finais dos anos 60 nascia então a primeira cria desse decabeçado Rock, os gémeos Progressivo e Psicadélico, era a altura dos Doors, dos Yes, Pink Floyd, Emerson, Lake and Palmer; o pai Folk volta dessa vez mostrando que ainda tem meias solas para gastar e faz com que Joan Baez e Bob Dylan misturem o pai e o filho em poemas assertivos com sons pungentes. E já nos anos 70 nasce o filho que mais misturadas : o Metal. Esse poderemos dizer foi aquele que mais crias deitou ao mundo; digamos que foi aquele que nunca teve pejo de misturar-se com todas as possibilidades possíveis. E fez coisas fantásticas!!!



Como em todo material genético, uma coisa é percebível: quanto maior for a mistura genética, melhor serão aqueles que sairão dessa mistura. A repetição e uma certa promiscuidade entre a mesma carga genética acaba em maus lençóis e mais facilmente nas posteriores deficiências surgirem nas gerações seguintes. Raça pura é mesmo uma ilusão, doce, mas uma ilusão.

Do Metal surgiram outras vertentes que foram herdando sempre dos ancestrais alguma carga e misturando com as demais: as regionais e a menina Pop. E aqui bate o busílis da questão. Há uma raça metaleiros criada nos anos 80 que chega aos dias de hoje pensando que só nessa época, das bandas com cuecas de couro e ar de lenhador da Malveira, são os genuínos herdeiros do rock e que nada mais além disso presta. O grande alvoroço tem sido a participação da Lady Gaga com os Metallica, que tanto quanto sei, ao nível de estatuto que chegaram, podem fazer TUDO quanto lhes dê na gana. A Gaga, apesar do Pop que assume, tem uma boa voz, e acho que seria bem vinda a sua entrada em outros caminhos e já tem base que chegue. Os dois juntos, para a maior parte dos fundamentalistas, foi mau.

O facto de apontarem o dedão aos Metallica por serem, e passo a citar, "mais comerciais agora" é factor para dizerem que já não prestam. Esquecem o facto de ninguém que ser pobre e toda gente almeja ter a vida que eles tem. Para isso acontecer, além do rock que gostam de fazer , precisam vender e ninguém apanha moscas com vinagre. Já foram malhados quando lançaram o Lulu, junto com a lenda Lou Reed. A verdade é que ninguém mais a partir desse trabalho vai fazer qualquer coisa mais com o Lou, a não ser que vá desta para melhor e vá tocar lá no outro mundo com ele. Daqui umas décadas, provavelmente esse trabalho terá alcançado o nível de culto, até lá ficam os puristas a balir... isto é maaaaaaaauuu...


Ai ai ai a participação nos Grammy's foi horrenda e uma vergonha e mais o catano...a maior parte de quem critica nem campainha tocam, nunca pisaram num palco nem enfrentaram uma plateia. Usam o colete pejado com nomes e símbolos de bandas, cabelo desgrenhado mas pelam-se de medo que lá no trabalho descubram que são do Metal. Há uma hipocrisia, tão grande nessa família que deveria ser mais abrangente e menos preconceituosa, dada a origem do Rock, que me leva a pensar que ignorância expandiu-se para além dos limites da leitura. Vai apara além da alma.

Roqueiro e metaleiro não estão limitados a t-shirt preta e gadelha pré-histórica. É coisa de alma, mas de alma livre que não se sente ameaçado de ouvir Bach ou Depeche.

O meu obrigado pelas opiniões do grupo Heavy Metal Thunder (Portugal) e pelo manancial de matéria prima em cada comentário  que vejo. São uma fonte de inspiração.


Apareçam

Rakel.

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