Mens Sana In Corpore Sano ou Vê Lá O Que Morfas

O corpo humano é a melhor máquina que existe, sabendo ou não dessa simples questão fazemos o melhor que podemos para garantir o seu funcionamento em pleno e nas melhores condições.
Pesquisamos e fazemos experiências com os exercícios físicos, com a nossa capacidade mental e a manutenção daquilo que colocamos na boca.

"Somos o que comemos"
"Mente sã em corpo são"
"Deitar cedo e cedo erguer, dá saúde e faz crescer"

Os factos são estes:
Somos feitos de 70% de água, temos minerais e sais a percorrer a nossa corrente sanguínea, nossos ossos e músculos, assim como as células, necessitam de combustível para queimar e transformar em energia e reposição de desgaste,para isso serve como alimento e sustento para todo o corpo. Nosso corpo funciona por um coração e um cérebro que usam de impulsos eléctricos para funcionar. Sem isso seria uma linha contínua a anunciar que fomos desta para melhor.

A nossa dentição é  onívera, o que quer dizer que foi feita de fábrica com a intenção de cortar e mastigar tanto vegetais como carne. Nosso estômago segrega sucos que tem como finalidade digerir e tornar mais fácil para o nosso intestino absorver todos os nutrientes. Não temos moela (senão seria comer pedrinhas para ajudar a moer), não temos como as vacas 4 compartimentos digestivos (e só assim elas tiram proveito da dieta estritamente vegetal). Temos um estômago funcional na medida do nosso corpo.

E qual a razão desta descrição resumida do nosso corpo? A pior coisa que uma pessoa pode ter em algumas alturas é ter tempo para pensar demais. E no meu caso levou ao pior sítio, a boca.
Uma pessoa vê os anos a passar e a querer ganhar mais alguns, já que a história da família não abona em nada nesse caso. Meu avô paterno morreu aos 60 anos, meu pai morreu com 60 anos e como eu tenho a propensão para só herdar porcaria, olho pelo binóculo essa idade com algum receio. Quem não teria? Pensei cá com os meus botões: Rakel, vê lá se não embuxas demais e vais pra cova como teu avô e pai. Então... corto no pão? No açúcar? Viro grilo e só como erva?

Então, numa pesquisa aturada e fazendo jus ao volume de informação, da lógica e bom senso, descobri algumas coisas interessantes nas questões da moda alimentar. De tempos em tempos jogam cá para fora de maneira alarmante os novos vilões alimentares, pessoas pegam em assuntos relacionados com doenças sérias do foro genético e metabólico para justificar que TODA gente deve evitar isto ou aquilo em prol de uma boa saúde. Há sem dúvida um mercado a precisar de mais impulso e que usa de estratégias para denegrir uns e favorecer outros. É uma questão de dinheiro, na maior parte das vezes. Dentro deste quadro, há uma discrepância tão grande quanto aquela que a imaginação pode dar. Aveia é agora um dos meninos bonitos da alimentação. Só que tem glúten. Mas não é o glúten um vilão? Então vamos ver como o nosso magnifico corpo é e funciona e como andamos a sabotá-lo por emprenhar pelas orelhas.

Se não sabem, ficam a saber: o nosso corpo não consegue metabolizar o arsénico. Até aí qualquer pessoa consegue chegar. Não metabolizando o corpo começa a acumular nos órgãos e sem saber deitar fora provoca doenças e por aí vai. Ninguém na sua sã consciência vai mandar goela abaixo uma dose de arsénico. Mas o que a maior parte das pessoas não sabe, é que o arsénico encontra-se em quase tudo que comemos. Nas verduras e frutas aparece em quantidade razoável, e como os animais que comem vegetais na ração acabam por também ficar com ele no organismo. Biológica ou não a fonte alimentar, a verdade é que não chove água mineral e o ciclo da água faz-se sem dar um chavo para as opiniões contrárias. Mas sabem o que faz o organismo ficar com níveis baixos de arsénico? O glúten.

O facto de tirar por completo o glúten da alimentação de uma pessoa que não padece de intolerância ou alergia é o mesmo que mudar o peso da balança e fazer pior do que imagina. Por muitos seminários e workshops de comida saudável apregoem a maldade que faz uma nica de papo seco no organismo, a verdade que desde os tempos mais remotos o pão foi o alimento base da humanidade. Talvez de forma inconsciente sempre soubemos o que era bom ou não para nós, mas com o passar dos tempos e nesta era tão virada para o eu saudável e engajado nas boas condutas, acaba por fazer mais erro que acerto.

Li há pouco que agora andam em ataque directo ao arroz, mas não é um ataque assim tão leve, é no estilo, "o modo como fazem o arroz e o comem está a mata-lo". Assim, sem mais nem menos. Dizem os "entendidos" no assunto, que depois de cozer o arroz deve ser lavado em peneira fina e só depois comido. E lá se vai o arroz de feijão e coentros com molho malandro a acompanhar umas pataniscas lourinhas. E deve ser por isso que na Ásia a esperança de vida (no Japão e demais comedores de arroz) é maior, perdendo agora algum impulso desde a entrada da comida rápida que rima com Ronald. Pergunto-me qual será o substituto que apresentam como salvador deste grão tão vil e pernicioso. Deverá ser alguma coisa bem exótica e que garantidamente fará algum ecossistema ficar desequilibrado.

Só para ver a resposta do meu organismo ao que chamam de dieta correcta e de consciência animal, andei numa dieta puramente vegetal e... sem açúcar, sem pão, nada de fritos e diversão. É bem verdade que fiquei uma assídua companheira da casa de banho e com uma sonolência alarmante. Fome canina passada uma hora depois da refeição e uma falta de energia avassaladora. Por norma, nunca como iogurte com açúcar, nem coloco no chá e uso pouco nos sucos. Mas tirar completamente e deixar só nas mãos das frutas o pouco de doce que dão, foi um contributo para a letargia que me atacava. Onde raios arranjava eu coragem pra fazer um movimento no tapete de yoga com tanta fome e cansaço? Acabava esparramada no tapete a fazer uma soneca e olhe lá. Comigo não funciona.

Por muita consciência do mundo, do meu amor aos animais e tudo mais, tenho que ser fiel à minha natureza onívora e, se quiserem, decadente e pouco correcta. Eu gosto de um bom cozido à portuguesa, gosto de um bom caril de frango com arroz basmati, gosto de burritos e mais os rissóis que faço de frango e cogumelos. Do pão quentinho barrado com queijo que eu faço. E trabalho melhor, tenho mais ganas assim e sem sentir que vou desfalecer cada vez que me baixo para pegar um dos gatos.

Acredito que cada pessoa reaja de maneira diferente ao que coloca na boca como combustível, mas o que eu não acredito são nas restrições beirando o nazismo de algumas dietas impostas como saudáveis. Eu, por exemplo, não me dou bem com chá verde: me faz suspirar por sapatos vermelhos, comprar echarpes com borboletas e andar a caça de colar de pérolas que está encafuado em algum lugar desde o dia fatídico do casório.

Geneticamente falando carregamos um relógio biológico e com acerto e afinidade em muitas coisas. Não desacertem apenas por que ouviram dizer isto ou aquilo é bom ou faz mal, sem que haja uma base clínica e sintomática do vosso corpo. E cada vez que mandam abaixo um daqueles copos gigantes de bebida detox, lembrem-se de cada mícron que entra de arsénico, e que sem pão, aloja-se em si como uma lapa. E tanta gente a perguntar-se... como cargas d'água ficou com pancreatites e demais maleitas, se até fazia uma dieta tão saudável e detox...

Nosso corpo, feito à medida de todas as contingências sempre soube tirar proveito de todas as coisas que haviam na natureza para sobreviver. Foi feito assim, foi criado assim. E se a relação feita por antropólogos entre o desenvolvimento do cérebro humano e a sua permanência nas linhas de costa, onde abunda o peixe e os moluscos bivalves é comprovada, justifica que, se fosse nossa natureza andar a pastar, teríamos os tais quatro compartimentos estomacais e estaríamos de quatro a mugir.

Bom senso, exercício regular e não exagerar em nada, a receita mais velha e mais acertada para tudo.

Apareçam


Rakel.