Parece que a Google vai fazer rastreio das notícias falsas, isso tendo em conta a dificuldade que é o jornalismo nos dias de hoje. Jornalismo e sensacionalismo vão quase sempre de mãos dadas, desde que no século XIX fosse mais popular ler o que publicava-se em questões mexericos sobre a pretensa vida privada duma nobreza nem sempre tão nobre; também de quem era quem nessa pirâmide social que começava na Dona Rainha (no caso os pasquins londrinos da altura deram o mote do actual The Sun) e iam escorrendo boatos e mexericos mais ou menos verídicos. Na verdade, pouco ou nada servia tal exposição, uma vez que podia acabar tudo entre bengaladas e pistolas ao nascer do sol, como o Dâmaso dos Maias arriscou a levar.
Como nos tornamos assim tão evoluídos, de smarts que explodem nas mãos e sempre em cima do acontecimento, o hábito é na verdade apenas uma mudança de veículo de informação. Ou da falta dela. Ou da forma como descaradamente é deformada em nome de números de visitantes de páginas e quem deu a primeira vez a notícia. Isto faz-me lembrar aquela época em que os meninos faziam as corridas e gritavam "PRIMEIRO!!" ao tocar na árvore ou poste que sinalizava o ponto de salvamento. O chegar primeiro, a dar em primeira mão uma notícia, mas francamente? Gostaria de dar primazia ao conteúdo honesto em detrimento da rapidez. Come-se cru e quente com as pressas.
Então, com essas coisas das pressas, muitas notícias e potenciais factos ficam a meio do caminho e a especulação ou possibilidade tornam-se facto. E parece que não há escrúpulo nenhum nem no tamanho nem na cor da escandaleira. Se por outro lado, isto tudo seja uma competição de tamanho de pilinhas e mostrar que ainda se superam nuns milímetros, que mal faz largar uma mentira bem contada e que faça agitar esse remanso pastoso e do lodaçal das redes sociais? Vale tudo, até mesmo até ao ponto de um ex director de dois jornais, lançar um livro (a epítome do livro, árvore e filho que todo serhumaninho decide realizar sem ver bem o que faz) que usa das confidencias de amigos o recheio de um livro que nem chega a destronar o livro da semana daquele tal canal. Este senhor que foi director de um jornal, sabe por acaso, assim só de leve, o que significa a palavra confidência? Bom, vá...não sabendo ou fazendo por esquecer isso, sabe o que é a apalavra ética? Amizade?
Há jornais então, e falo daquele com o nome do astro Rei que nos ilumina, que moldou-se pelo saudosismo e criou um novo tipo de informação. É uma ode do jornalismo dos anos 80 com a junção de um Jornal do Incrível (aquele onde apareciam todas as deformações que no mundo genético pode existir e de acontecimentos bizarros) com o Jornal O Crime (um pinga sangue com descrições minuciosas e horrendas) do Jornal de Sexologia e a Revista Maria (dizendo qual a melhor hora do dia par ter sexo, que cá pra mim é uma questão de vontade e não de hora certa, ou o tamanho médio do pirilau no mundo) e uma leve alusão à essa revista que alimenta a fogueira das vaidades a Trombas.
Hoje, as televisões fomentam o telespectador a ser um jornalista a ter 5 minutos de fama ao dar imagens de acontecimentos e de graça; muitas redacções limitam-se a ver o que os outros publicam e duplicam a informação, mesmo sem confirmar, mas prestando um serviço que mesmo que não seja o melhor e mais fidedigno, é o mais rápido. Aliás é um fenómeno que acho piada ver nas redes sociais, no caso no livro da tromba, O Daily Mail coloca uma notícia, logo a seguir é ver todos os outros a dar a mesma notícia. A pressa é tanta que nem revisão de texto leva, se é que há um revisor de texto, afinal o que interessa mesmo é ser o "PRIMEEEEEEIROOOO!!!"
E num mundo com 7 mil milhões de pessoas, tudo fica pequenino, todas as notícias padronizadas e resumidamente ao alcance daquele que primeiro consegue ler a notícia que outro publicou, traduzir e postar rapidamente. O que muitas vezes vale a pena ler, são os comentários do público. Isso sim, é daquelas coisas que servem de barómetro não só da cultura geral, da capacidade de discernimento, do bom senso e da inclinação social ou política que defende. Há aqueles que tudo é culpa da esquerda, há aqueles que dizem que tudo é culpa da direita; há aqueles que dizem que tudo é por culpa da falta da fé em deus e do ateísmo e há aqueles que culpam a cegueira da fé. Há um ou outro que se dá ao trabalho de ler e pensar com a sua propria cabeça e deitar cá para fora uma opinião que não tem a ver nem com o lado da cama política nem como a fé os afecta.
E foi a ver um comentário num artigo que falava sobre Portugal vir a ser um país de escolha dos americanos a fugir do Sr. Cenoura Agarra Pussies, vi um comentário curto, escorreito e que me deixa a pensar que tem seu quê de veracidade. Dizia então o artigo que os países que seriam bons para os "muricas" fugirem dos muros de fronteiras, das políticas de saúde a voltar à estaca zero, dos evangelistas sírios serem preferidos a entrar no país e os católicos ficam de fora...um comentador escreveu "Começo a questionar-me se o muro é para os Mexicanos não entrarem ou se é para os Americanos não saírem". E mostrou pelo menos um bocadinho de opinião e uma certa visão posterior que não se prendeu ao marca passo do esquerda-direita na marcha política e nem nos beáticos e anti fé.
e esta, achei interessante:
Se bem me lembro das aulas de Introdução ao Jornalismo, dado por uma professora baixinha, mal humorada e sem um pingo de paciência, dizia ela que um jornalista é aquele que relata factos de forma isenta e com precisão. Nunca falou em escandaleira ou na rapidez. Falou na força das palavras e na tal frase de que a pena era mais forte do que uma espada, numa alusão aos cronistas e jornalistas que expunham com ética as informações. Hoje basta pegar num punhado de "temporários" ter internet, pesquisar alguns jornais ou blogues para começar a fazer notícias. Dizer que todos são assim? Não, não todos. Há ainda quem defenda um trabalho digno, que faça frente às manipulações de alcance ou políticas vigentes. Há quem tire o cu da cadeira e faça trabalho de campo, pesquisa e que faça por documentar o que expõe ao público.
Mas bem pode o Google começar a contratar malta para revisar o tanto de gente a espalhar boato, notícia falsa, pois está praí paletes disso. Quanto ao jornalismo de microfones a voar e de cópias de texto, isso está apara durar.
Apareçam
Rakel.
* Gutenberg foi o inventor da impressão por moldes móveis, daí que a palavra imprensa serve também para denominar a profissão dos que trabalham no jornalismo; como devem de saber, os jornais eram feitos em impressoras com moldes móveis. Parem as prensas!!! era um grito nos filmes antigos dentro das redacções de jornais quando uma notícia importante aparecia. Agora é tudo digital mecanizado e desumanizado.
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