Antes, Depois e Agora



Quando chega numa determinada altura em que os nossos filhos começam a ler o que já lemos, mais ou menos na mesma idade deles, a ouvir as mesmas músicas que costumávamos ouvir e a trocar ideias sobre isso...percebemos que o tempo passou depressa.

Por um lado é fascinante e divertido, mas por outro percebemos que já não são as nossas "crianças", aquela cena piegas de mãe, que acham que conseguem prever e proteger de qualquer coisa. Estão na gloriosa entrada da vida adulta, a fazer cagadas, a limpar os estragos e voltar a tentar fazer algo diferente para melhorar e avançar naquilo que querem fazer da vida deles.

E se houve da minha parte a franqueza de dizer aos meus filhos que adultos também erram, também tem de que limpar as porcarias que fazem e assumir as responsabilidades, acho que foi o melhor conselho que dei: de assumir a nossa incapacidade de perfeição. Usei sempre da frontalidade e da sinceridade, evitando camuflar os erros ou as minhas explosões (e despejar o lixo é sempre o pomo da discórdia) ; expludo e depois passa. Como sempre. A teimosia que me caracteriza tem eco num deles, e como diz o ditado, um teimoso nunca teima sozinho. E nisso de discutir livros, filosofias e perspectivas de visão de vida, acaba por ser um exercício para que eles nunca aceitem, só por que todo mundo faz, o que lhes aparece na frente. Combatividade e traquejo de argumentação.

Concordamos em discordar em muitas coisas, e só por isso, acho que fiz um bom trabalho.

Quanto mais tempo passa, percebo que antes, os rapazes perguntavam muitas coisas e digeriam as respostas que lhes dava para depois fazerem mais perguntas; no agora eles defendem os pontos de vista, mesmo que alguns dele caminhem entre o lírico e a destruição total da raça humana, deixando o mundo apenas para a fauna e flora. Um já percebeu o que é viver junto de alguém, mas infelizmente com a mãe e avó atreladas, e num país que não é o dele... não, eu sei que não é fácil. Eu vivi algo parecido e sei de cátedra. Outro percebeu que o mundo do trabalho é complicado  e que muitas vezes o factor C consegue suplantar melhor a falta de competências.

Felizmente perceberam que rir de nós mesmos pode ser uma forma de nos conhecermos melhor, que surja a sabedoria de dizer um "vá lá, podia ter sido pior" e dar a volta por cima. Que por vezes, temos que esperar algum tempo para que surja a oportunidade perfeita para voltar ao que tínhamos colocado em modo de espera. O tempo não era o melhor, não estávamos no nosso melhor e muitas vezes é preciso parar um bocado antes que  estragos maiores sejam feitos, daqueles que nem com toda ciência e sabedoria dá para conserta, nem pedindo desculpas. É dar um tempinho e saber explicar as coisas como devem e merecem ser ditas.

A infância das doenças, dos dentes e fraldas já foi. O depois com a idade escolar e a entrada estrondosa na "aborrecência" correu como toda gente e passou. Agora tenho dois adultos que vão fazer asneiras, vão saber pedir desculpas e saber explicarem-se. Que nunca vão fazer mal à um animal só para descarregar frustrações, nem em ninguém mais fraco do que eles. Felizmente aprenderam que cozinhar não é só abrir embalagem de pizza ou comprar comida já feita. E por muito chata que eu tenha sido durante tantos anos, hoje perceberam que mãe não é escrava ou empregada; que não é só porque eu amo as minhas crias que vou passar a mão na cabeça deles e relegar tudo só para não "traumatizar". Há praí tanto analista a precisar de clientela, que se tiverem traumas há-de haver um que os trate.

Quando chegar a altura (espero que a vida proporcione isso à eles) que cada um vá viver a sua vida independente, pelo menos vão com a bagagem certa: usar a cabeça para encontrar soluções e nunca seguir o rebanho. Discutir  e procurar culpados de algumas decisões que tomamos não é a forma mais correcta de resolver tudo. Assim como assumir erros. E quando o cérebro falha e as emoções tomam rumos que magoam ou confundem as pessoas, é tomar um tempo, reflectir e depois ter a frontalidade de explicar-se e pedir desculpas. Mas tenho a certeza que eles vão saber fazer boas escolhas.


...e uma coisa é certa: é divertido ver a Teoria do Big Bang na companhia de quem já percebe o lado caricato e patético da vida.


Apareçam


Rakel.,


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