Como Tantas Vezes - A Ficção É Um Prelúdio da Realidade




Quem já teve a oportunidade de ler Frankestein -The Modern Prometheus (título original da obra de Mary Shelley) vê a pertubante relação entre criador e criação. O Dr. que resolve "criar vida" a partir de bocados que ia desenterrando no cemitério é que é Frankestein, a criação não tem nome específico, mas visto pelo criador como filho. E filho herda o nome do pai e assim, olhando pro tipo de olhos esgazeados, pele amarela e sem a noção entre o bem e o mal, temos o "monstro". Talvez a autora tenha colocado o dedo na ferida sobre aquela já conhecida arrogância humana de querer ter o controle sobre a vida e morte. Controle, ao fim das coisas.

Por um lado, o criador tão cheio de si que só percebia a capacidade de usar os conhecimentos que tinha para juntar esse puzzle macabro e fazer abrir os olhos. "IT'S ALIVE!!!!" gritava ele. Mas que raio de vida deu ele ao pobre desgraçado que mal aparecia em público provocava gritos e desmaios (não, estou a falar do Justin Bieber, isso é outro tipo de monstrinho) e fazia brotar nos corações dos camponeses o churrasqueiro que havia neles, danados pra andar com tochas nas mãos e queimar tudo e  todos?  Com tantas perguntas e dúvidas, a criação viu-se perante a repulsa e a rejeição do próprio criador.

Uma grande ideia, talvez uma ideia ousada, sim senhor, mas que pra variar acabou naquilo que coloquialmente dizemos: "deu merda".

Há uns tempo, numa conversa que começou em amendoins e acabou em Inteligência Artificial, me dizia um defensor desse novo tipo de criação, as vantagens e maravilhas de um mundo onde pensariam por nós, aliviando a carga de ter que fazer tudo e lembrar tudo. O grande problema em si, durante a conversa, era o tema cozinhar, ir ao supermercado e todas essas coisas chatas e prosaicas que uma pessoa tem que passar para comer. Já existem frigoríficos inteligentes que não só "percebem" que faltam ovos e leite, como também estão preparados para fazer a encomenda online desses produtos, conforme for a vontade do dono do frigorífico e a pré programação da lista. Já há vídeos de um par de braços, muito parecidos aos que vemos nas linhas de montagem da indústria automóvel, a picar cebola e a mexer a sopa.

Não querendo dar uma de ludista* (já que aqui a teclar, seria quase uma blasfémia) mas acho um exagero. Pensar por nós, fazer uns ovos mexidos por nós, escovar os cabelos por nós, máquinas em jeito de trabalho escravo. Há esse lado preguiçoso que apela aos quatro ventos por uma mãozita na lida da casa, no encarar os tachos e panelas (e há quem ajoelhe-se e agradeça pelas comida congelada), mas faz de toda gente um bando de dependentes electrónicos. Falta a luz e fica meio mundo sem saber o que fazer da vida, já que parece que sem televisão, ninguém vivia ou sabia o que fazer para passar o tempo. Livros? Sair? Jogos de tabuleiro? Tirar ervas daninhas e plantar algo nos vasos? Nossa!! conversar cara a cara com alguém ???Mas isso é tão...antigo.

E durante a conversa com este dependente tecnológico, que já via um mundo em que só o nosso pensamento faria o aspirador limpar o chão e umas mãos mecânicas limpavam a gaiola do periquito, eu via já um Skynet acordando uns robots de maus fígados e com forte sotaque germânico que diriam um I'll be back!! E o fim do mundo. Ok, tenho esse lado Nerd/dramático, mas com tanto hacker a meter o apêndice nasal aonde não deve...

Inteligência Artificial é algo que realmente assusta; aprende em velocidade matemática em expoente; o que quer dizer que aquilo que a gente aprende em um ano ele aprende em semanas... E suponhamos que essa "inteligência" que só conhece o termo compaixão e misericórdia por definição e não por sentimento, e vê as múltiplas cagadas que o ser humano anda a fazer no mundo e resolve queimar o nosso filme (silos atómicos, centrais atómicas fazendo BUM!!) e deixar que a Terra regenere depois? Bye bye humanidade...

A conversa acabou com estrelinhas e pés leves no defensor dum futuro mecanizado e padronizado, fazendo de cabeça uns comandos para o tal programa que estava a trabalhar de A.I, e eu a ver um futuro cheio de pessoas desempregadas, fui para casa pensando em como a preguiça aguça o engenho.

Passados uns dias, volto a conversar com esse defensor da Inteligência Artificial, que de olhos vermelhos, pele meio amarelada (falta de sol dá nisso) e ar cansado me disse que teve um pequeno problemita com o programa, que ainda está em fase de comando escritos, ainda falta um bocado para comandos de voz. Perguntei qual era o problema e ele me disse que tinha apresentado ao programa A.I uma emergência e que deixou ao critério desse programa a solução : "Desliga-te ou eu morro" foi o que digitou. Passados uns segundos, a resposta do A.I apareceu na tela e foi: "Considere-se dois palmos abaixo do solo"   -.-    Quer dizer, o Frankestein dele virou-se contra o "dono" ou então não sabe mesmo que matando o criador não lhe fica nada bem no currículo. Se nós, com consciência do certo e errado, com a ética e moral funcionando já faz cada erro Crasso (e um dia vou falar deste termo), imagine-se então o que não faria uma inteligência livre de qualquer tipo de ligação emocional e vendo as coisas apenas pela lógica e análise????

Eu não sei porque...mas gosto cada vez mais das coisas simples e nada de máquinas que pensem por mim. Aliás, foi coisa que nunca gostei que fizessem, fosse o que fosse ou quem fosse.

* Ludista é uma pessoa avessa à toda tecnologia e  a dependência dela. Anti-tecnológico.

Apareçam

Rakel.

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