Há exactamente 25 anos atrás, estava eu sentada no sofá, meio zombie, com o meu primeiro filho no colo com quase dois meses de vida a amamentá-lo. Com o cérebro embotado de tanto sono (a peste não dormia nem por apelo divino) ouvia o telejornal das 8 quando o locutor disse alto e bom som: Morreu Fred Mercury, vocalista da banda Queen.
E um sonho meu morreu.
Pois, eu sei, em plena época do nascimento do Grunge, de ver a série acabar sem saber quem matou Laura Palmer na pequena mas pacata cidade de Twin Peaks, que já nessa altura a palavra crise andava na boca de toda gente, eu era uma fã dos Queen, uma banda que começou lá pelo começo dos anos 70.
No que toca em questões de música, o que está na moda nem sempre corresponde às minhas expectativas e admito que algumas coisas que gosto não se encaixem bem no que consideram bom ou normal.
Eu tinha esperança, antes da morte dele, de poder vir a estar num estádio lotado, esganiçando junto com o resto da malta todos os temas que acompanharam a minha adolescência. Mesmo sendo apresentada, nessa fase das descobertas, à outras bandas e músicos (David Bowie, Kansas, Led Zeppelin, Black Sabbath, Deep Purple, Pink Floy, Rick Wakeman e por aí vai...) eu me apaixonei mesmo pelos Queen. Escrevia no tampo de fórmica verde da minha mesa escolar uma das estrofes que mais gostava de alguma das músicas deles. E no dia seguinte, alguém do curso nocturno e que se sentava no mesmo lugar que eu escrevia a estrofe seguinte. Nunca soube quem era, mas sabia que não era a única. Meses depois, fiz as malas e vim viver para este cantinho a beira mar plantado e trouxe comigo as fitas com as cópias dos discos deles e outras lembranças de amigos em jeito musicado.
Aqui?
Enquanto meio mundo ficava a ver a Sabrina e a Samantha Fox a abanar as gigas mamas, eu ouvia Under Pressure; quando todo mundo ouvia Roxette eu ouvia I Want Break Free e Hammer to Fall; quando os Pearl Jam era símbolo de engajamento social, eu ouvia Innuendo. E como me dava nos nervos ouvir o Sting a cantar com sotaque jamaicano no tempo dos The Police. Ok, não ouvia só isso, mas era como que um vício difícil de largar. E o tempo passou e fui acompanhando a trajectória da banda e sempre a pensar que ia num concerto deles. E nunca fui.
Quando a notícia acabou, tinha percebido que aquela magreza toda do video do I'm Going Slightly Mad era justificada, que não ia melhorar e o resto iria ser Made in Heaven. Tinha perfeita consciência que ouvir The March of Black Queen, ou Nevermore iam se tornar nos meus ícones de adolescência e um gosto de saudade. Iria voltar uma e outra vez ao My Melancholy Blues e ao Breakthru. Voltaria ao Father to Son, ao Killer Queen e ao Liar.
Me pergunto hoje, passados 25 anos, se o Freddie faria um dueto com a GaGa Lady, se iria continuar a ser tão excêntrico ou baixaria o facho com a idade. Me pergunto se ele criaria novamente obras como os primeiros álbuns: Queen, Queen II e Sheer Heart Attack, ou se continuaria a apostar em outras vertentes e outros sons. Uma coisa é certa, mesmo com o Adam Lambert no que agora é o vocalista da banda, o certo é que nada volta a ser o mesmo com a saída do baixista, John Deacon e sem o Freddie.
Vinte e cinco anos depois, com mais um filho, nem por isso mais sapiente, nem por isso menos curiosa pelo que me rodeia e ainda muito parvónica em muitos assuntos, ainda assim, vou ao armário e retiro o CD Queen II e vou ouvi-lo com a mesma satisfação que há 30 anos atrás.
E não há substituto que o valha.
Apareçam
Rakel.
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