Uma pessoa capacita-se que não sendo cristã, não tem razão nenhuma para montar (salve seja) o presépio mal avizinham-se as propagandas de pescoçudas e poposudas. A onda é outra, festejos do tempo que não havia cá dessas coisas de céu e inferno e bolachinhas na missa. Então faria todo o sentido ter uma árvore até chegar ao Yule, certo?
Errado.
Bom, mas sendo a matriarca cá do apartamento no 3º andar, pelo menos posso considerar-me a alpha da matilha; a que apita e ninguém respinga; a que decide em conjunto com o resto dos lobos o que é melhor e como devemos de fazer. Durante a infância dos meus filhos, nunca tirei um único objecto do lugar por medo que mexessem ou estragassem. Pintaram paredes com lápis de cera, sabão em pó espalhado no chão da cozinha em lugar de neve...ok, o mais velho estourou o quadro da luz aos 5 anos por tentar (já nessa altura era inventivo) fazer com que um brinquedo de pilhas funcionasse com fio na ficha, uma poupança, pensava ele. Que atire a primeira pedra quem nunca fez uma arte deste tipo...eu não atiro. Mas a bom termo respeitavam a autoridade da mãe e ia tudo bem.
Pensei seriamente em ir lá em baixo na garagem buscar a árvore, imitação de pinheiro, para dar já o ar de festejos de Yule. Mas aí, a meio do corredor pisei num Winnie the Pooh que havia desaparecido em combate fazia uma semana. Mais além, bato com a ponta da pantufa numa bolinha saltitona que, pelo que me lembrava estava num local de difícil acesso. Chego na sala e vejo bocados de espuma de enchimento duma almofada do sofá servindo de brinquedo. Um rolo de papel higiénico todo esfanicado e artisticamente espalhado pelo chão. No nicho devido, uma estátua de Bastet em pedra sabão tombada, um porta incenso, peça única moldada por uma artífice, representando o lado masculino ou Yang feito em cacos, decapitado, com a espinhela partida e cada pedaço para um lado; com um ar absolutamente inocente e singelo vejo uma bolinha branca com um par de olhos azuis vesguinhos a brincar com um bocado de barbante...Todos os clichés de terrorismo felino ela abraçou, sem falhar nenhum.
Falei aqui antes sobre a adopção de uma gatinha de rua, falei da sua doçura, da magreza excessiva; um montinho de pelo, ossos e pulgas de olhar triste. Dei-lhe o nome da elfa do Senhor dos Anéis, aquela dama branca feita pela Cate Blanchett, a Galadriel, abreviou-se para Gala. Pensei cá com os meus botões que a serenidade inicial seria uma característica da personalidade dessa menina.
Mais valia ter dado o nome de Xena, a Princesa Guerreira, ou Sonja, a companheira do Connan, o Destruidor, pois não há nada por onde aquele bocadinho felino passe que fique inteiro. Nem Gengis Khan conseguia ser mais devastador do que ela.
O Ninja residente, ainda não aceita bem nem a presença nem o desplante com que ela se aboletou de todo o espaço e nem da bagunça constante que ela provoca. Mas que raio, então não é de dormir pelo menos 20 horas por dia? Bastou uma, apenas uma vez ela ver o Ninja a subir pelas cortinas em sinal de rebeldia, para aprender a fazer o mesmo. A sorte é que lhe falta ímpeto para subir até ao varão como faz o gato mais velho, mas ficam ali os dois, a darem espectáculo digno do Cirque du Soleil.
Não podemos descuidar um bocadinho que seja quando comemos, pois ela tem artes de roubar comida dos pratos, mesmo que já esteja a arrojar a pança cheia pelo chão (come feito um exú); acho que a cabeça dela não codifica o sinal de que acabou de comer. Sobe pelos móveis e acha piada deitar coisas ao chão para depois brincar. Como o começo de vida dela foi na rua, usar o caixote das necessidades equivale a deitar cá pra fora pelo menos 1/3 do conteúdo de areia antes para o chão, e mais um tanto depois; cava como um cão, por outras palavras.
Quando eu só tinha o Ninja, bonacheirão, calminho e boa onda, nunca foi problema ter uma peça nova na sala, ou a consola ligada ou deixar aberta a porta da casa de banho...
...agora?
Mas nem morta vou buscar a árvore e os enfeites pra montar na sala! Se já tenho Cirque du Soleil nas cortinas, imagine-se o número de "vamos brincar de desflorestação" com bolinhas a rebolar pela casa e demais enfeites feitos em cacos. E seria rica por cada 0,02€ que ganhasse de cada vez que digo NÃO! pra essa imitação de diabo da Tasmânia. E sim, ela percebe. Palavras como: não, anda cá, e vamos comer são comandos que ela percebe, mas prefere escolher ficar surda ao não.
Mas... quando lhe dá pra ser mimenta, é o anjinho mais fofo que há...mesmo que o Ninja a olhe com desprezo de irmão mais velho destronado do lugar de único.
Enfim...
Apareçam,
Rakel.
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