3... 2... 1... BUM!





Post com o vernáculo em queda livre. E como diz aquela música dos Rammstein, "This is not a love song."

As tragédias pessoais tem o seu quê de interessante; cada uma ganha o tamanho e a importância de quem a sente embora, na maior parte das vezes, seja ridicularizado por aqueles que assistem de fora.
A unha quebrada, a malha que se escapa da meia, o para-brisas que fica tipo teia de aranha ou a net que se lembra na pior altura de dar chá de sumiço. Pequenas tragédias do quotidiano que não matam, mas moem o juízo. Não vou tocar no assunto das reais grandes tragédias que possam esboçar nos pensamentos de quem lê este post. Não há fita métrica no que toca aos sentimentos, muito menos nas tragédias.

Todos temos e vivemos com alguma intensidade as nossas tragédias pessoais e vendo bem, algumas são mesmo ridículas, mas é preciso ter o depois para achar alguma graça nisso e ter a capacidade de rir de nós mesmos. Algumas pessoas tem capacidade de aguentar bem os trancos da vida e ainda assim, encontrar um lado positivo, mais não seja, pelo aprendizado.

Mas uma coisa é certa, aquilo que aos nossos olhos e na nossa pele é algo de completamente trágico, nos olhos do resto do mundo não passa de uma bostinha sem jeito. Surgem num estalar de dedos as frases feitas e os conselhos sábios e com mais idade que a toalha aos quadrados onde Noé fez o primeiro piquenique pós Dilúvio. Entram a cem e saem a duzentos. Que se lixe, é a nossa hora de drama, tragédia e de que estamos de mal com o mundo cruel; este mundinho filho da puta que parece ter sido criado por um sádico lá nas alturas que escolheu a dedo foder com a vida de uns tantos "escolhidos". Eu tenho horror a povos escolhidos...

A gente aprende aos poucos a deixar-se de ilusões e a aprender que muitas vezes, o melhor é implodir do que explodir. Não foi preciso alavancar uma mochila nas costas com um par de peúgos e cuecas e mais o boião de Nutella para fazer a caminhada Damasco ou de S. Tiago pra encontrar o "eu" adormecido, absurdo, revolto, puto da vida e que perde os três nessa coisa de viver com esperança de... o tempo e no amanhã. Porque o crédulo, de fé e idealizado deu um chute na lata e mandou tudo pros quintos.

Digamos que uma pessoa tem uma resistência de mula com as perrengas da vida; a burocracia que falha, as dificuldades de trabalho; o dinheiro que não estica (e força-nos à uma ginástica económica e de ganhar 10.0 pontos em qualquer competição); a máquina de lavar que pifa ou a água que falta na hora que estamos debaixo do duche. Mesmo assim, afivelando o optimismo, a gente vai levando as coisas na esperança de que amanhã se resolve. A tal da esperança.

O caso é que durante uns tempos, uma pessoa vai implodindo aos poucos, com graciosidade e optimismo. Uma coisa de cada vez, mesmo que na hora que a coisa passa, fique a matutar que raio isso foi ou a razão; se é que há uma razão. E amanhã mais uma implosão controlada, daqui há um mês mais outra...ena, passou três meses e veio mais outra implosão... e por dentro, o cenário vai se modificando e ruindo. Passa um ano, mais um a seguir e as implosões vão abalando as bases e destruindo aos poucos aquilo que fazia dessa pessoa, uma alma simpática, boa onda e até positivista. Até que um belo dia, a pessoa bate literalmente na pedra dura e fica entre o "mas que porra?" e o "já não acham aí em cima que já chega?" E a ficha da realidade cai na ranhura com estrondo e percebemos que estamos a pontos de explodir e que não será nem divertido nem bonito de se ver. E é melhor explodir longe...

Há coisa de mais ou menos um ano, houve um momento que não era meu, mas de certa forma também era, bastante difícil. O que toca aos que são dos meus afectos, o que acontece à eles, acontece comigo. E nessa hora complicada de lidar com o medo, com essas coisinhas ridículas que são as nossas "tragédias-melodramáticas", o normal será procurar o ombro onde chorar as mágoas e o mesmo com quem contava as boas notícias, aquele que sempre se disse disponível e amigo, para que, mais não seja, depois ter um "há de correr tudo bem" genérico e comum. Mas uma pessoa precisa de ouvir isso, pelo menos para apaziguar a alma. E foi falar com o vento...mesmo.
Se queremos jogar gramática ao alto e fazer-nos caros, foi um "solilóquio" giríssimo e que me deu a real dimensão do "cageuite e andeite. Digamos que foi ver uma postura que seria de esperar com qualquer conhecido, mas surpreendente nessa pessoa elucidada. Acabou por ter o mesmo M.O criticado. Foi tão mau como bater de trombas no chão, ficar com a boca magoada, o nariz a sangrar e cortado e sem parte de pele na cara. Afinal, fazia parte dos meus afectos há já uns bons anos, na base pura e simples da amizade. Isso magoou-me a sério, já que não foi uma questão de... "ahhh, foi falta de tempo" ou "nem andava por cá".

A pessoa por quem eu temia a saúde recuperou bem, melhorou e , felizmente está realmente numa excelente fase da vida. Mesmo longe, mesmo não estando ali ao lado, está bem e é tudo quanto eu preciso de saber. Tive que gerir isso tudo por minha conta e a vida foi correndo com as implosões controladas, o optimismo férreo e a crença no amanhã esperançoso.

Até ao dia que o número de implosões ultrapassou o limite suportável. E juntou tudo no mesmo saco, graças à esta memória filha da puta, que não sabe deitar fora pessoas e situações. Tomara eu saber ter essa frieza de caráter  de saber descartar tão bem as coisas e pessoas. Explodi feito rojão em dia de festa na aldeia.

Que raios, então já crescidinha e madura (embora os infantes cá de casa digam que caminho pro estado fóssil) ainda tive a desfaçatez de cair na esparrela de crer em palavras. Pois foi, e por mais que eu procure a maneira de deletar esse episódio de desilusão, não tive êxito até agora; e foi talvez o pontapé inicial da actual situação de pura descrença. Em tudo. Depois da explosão, restou muito pouco que se veja. Os tais 15 minutos que eu sempre tinha estipulado para ter uma birra voou junto com tudo resto. E por mais que eu tente formatar o sistema, a porra é que tá tudo igual.

É uma merda, mas é que quando me fizeram, esqueceram de instalar o botão de Delete. E se há coisa que realmente me dana o cérebro, é quando tiram um bocado daquilo que fazia desta escriba desbocada  uma pessoa de bem. De crer no que se fala e entende; das trocas de ideias e pensamentos, mesmo que não leve à lado nenhum, mesmo que tudo seja tão frágil como palavras de uma conexão feita de 100100111110000.

No 3,2,1 BUM! custou-me segurar décadas de entendimento, construção ética, moral e espiritual - isso tudo ardeu junto com a capacidade de acreditar.

Decide-se então que, dado o actual panorama catastrófico e corrosivo o melhor é resguardar as poucas pessoas que estimo, sabendo que por muita boa vontade que tenham em ajudar-me a ultrapassar esta fase descrente, não conseguem deitar antídoto no assunto, nem consigo encaixar o que me dizem, não por culpas delas, mas pela minha incapacidade de gerir e juntar as peças. E pior que tudo? No actual estado sou capaz de dizer algo altamente prejudicial dado o grau de corrosividade. Como dizia a minha avó, boca fechada não entra mosca nem sai asneira.

De momento o "não acredito" e o "que safoda" estão como meus motes mais fortes. Passado um mês, a verdade é que a poeira ainda não assentou, e não consigo encontrar de novo aquela tipa que até tinha uma boa onda e que gostava de pensar que o amanhã está por fazer. Ela está a achar tudo sem sentido e pouco produtivo. Será sempre assim? É que realmente, se estou a aprender alguma coisa, certamente é o lado mais frio e absoluto que não dá espaço para suposições.

Não tenho resposta ainda... e nem sei se passa e se em algum dia volta  a tipa boa onda e cheia de graça.

Apareçam


Rakel.



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