Este é um post de gaja, acrescente à isso o facto de gostar de animais, gostar a sério e ter um coração mole à tudo que toque maus tratos (onde se inclui a negligência ou fazer de conta que não vê) aos animais. Sabia logo que não seria fácil dada a personalidade vincada e única dos gatos, principalmente quando vive num apartamento e é dono e senhor dele.
Depois de algumas reticências por causa do Ninja residente, e a minha falta de paz nocturna, resolveu-se pelo resgate da pequena criatura que é só pele e ossos, sobressaindo os olhos claros e as orelhas pontudas, ficando com aquele ar élfico e meio etéreo. Dentro da logística necessária para tirar um gato da rua (piolhos, pulgas e carraças) e o pouco peso da criaturinha, era preciso saber as dosagens de desparasitantes internos e externos, o tipo de comida e o equilíbrio entre a enorme boa vontade e a carteira curta. A gentileza de me terem dado as informações necessárias para tirar a menina da rua, dar-lhe banho e começar o tratamento de engorda foi crucial, senão seria piorar uma situação já de começo ruim.
Uma das coisas que aprendi, foi que é preciso deixar que o gato residente estabeleça a hierarquia de quem manda no feudo. As coisas ficaram mais fáceis já que parece que, desde que sejam de sexo oposto, e no caso concreto o que entra seja mais novo que o residente, as coisas correm melhor. Houve, como é lógico, a necessidade de arranjar um espaço de "adaptação" e a Elfa ficou num quarto com a comida e sua caixinha higiénica a adaptar-se aos sons e cheiros da casa. Mas é a criaturinha mais meiga e que já vi em tão pouca idade. Consegui saber que está provavelmente perto dos 3 meses pela dentição de leite, e isso quer dizer que daqui uns tempos teremos a saída dos definitivos e a rabuja normal do período de novos dentes.
O Ninja é que não tem achado muita piada dessa sombra desejosa de se esfregar nele, de querer brincar com ele e aquela mania de meter o pequeno nariz em tudo. Ele afinfa aquele ar sobejamente conhecido de homem com uma fã chata, e não lhe liga ponta de corno. Ela lá mostrou que, sim senhor, ele é quem manda, mas então a gente não pode dormir enroscado?
Agora estamos a testar os limites de território, que ela ainda não tem grandes forças para explorar, já que ainda se espetam na pele os ossos da anca e são visíveis todos os ossinhos da coluna. Dar-lhe banho foi um momento lacrimoso para mim, de perceber aquela fragilidade toda, de contar cada costelinha com os dedos enquanto as pulgas caiam mortas. Se apanho o desgraçado que anda a despejar filhotes em portas alheias...
A maioria dos cães e gatos dão pela marosca dos remédios disfarçados na comida, mas ela está tão faminta que não come, mas aspira a comida que vai com comprimido e tudo, não se rala lá com sabores estranhos. Com o Ninja a coisa pia mais fino e há todo um ritual de dar o desparasitante interno tantas vezes quantas aquelas que ele cospe fora. O mesmo comprimido vai e volta vezes sem conta até ao momento que conseguimos imobilizá-lo e fechar-lhe a mandíbula. O da seringa... esqueçam, fica mais no meu calção do que na boca dele e nunca sei se é o suficiente.
Estamos já na fase de ensinar o "não"; as cortinas não são treino de escalada, não se come do prato do Ninja, a caixa de areia dele também não é dela... e por aí vai. Leva tempo, paciência, mas já apresenta resultados animadores.
Ainda não temos noites calmas dos dois a solta pela casa, ficando a Elfa confinada ao quarto durante a noite e dando assim ao Ninja a sua paz e o espaço desejado. Ainda não estão a fazer trocas de afectos, mas já não há confrontos e ela percebeu que o Ninja é a patente mais alta. Embora o persiga como uma sombra.
Uma coisa é certa...
É preciso paciência para educar, acarinhar e ter um animal em casa; não é e nem será algo parecido com um brinquedo que se coloca de lado quando estamos chateados. Só temos um colo, mas é necessário saber gerir dois no mesmo colo com uma relativa paz. Animais dão trabalho e despesa, mas a compensação da companhia e das demonstrações de afecto são muito superiores aos incómodos.
No fim das contas, é em tudo parecido aos ter filhos e revejo algumas coisas nestes dois felinos, a mesma curiosidade e desconforto ao "maninho" recém chegado, as brigas, os ciúmes e até os amuos. Criar, educar, afectos e mimos, será só mesmo para quem tem para dar? Se criar um animal serve de espelho para futuros pais e mães, então tem realmente muita gente a precisar de entender que é tão errado deixar os animais à sua sorte só porque já não são bebés, como os filhos que um dia pensam ter. Criar é um acto pro resto da vida.
Faz-me muita confusão quando percebo que animais são abandonados à sua sorte sem que um peso se faça na consciência. E gostaria que, quem reclama tanto da solidão da vida, fosse menos egoísta e adoptasse um animal abandonado. Nem falo do acto religioso de respeitar e cuidar das criações divinas. É mais pelo facto de podermos fazer melhor do que apenas postar fotos e dizer que é errado abandonar ou fazer de conta que não vemos o que está na nossa frente.
Apareçam
Rakel.
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