A Crença No Invisível





Uma das facetas mais fascinantes da humanidade é a capacidade de acreditar nas coisas mais inverossímeis, paradoxais e incongruentes possíveis. Há uma base crédula do ser humano no incansável e escalões acima do nosso entendimento. Somos sempre pequenos demais para estas "verdades" filosóficas herméticas; somos sempre umas miseráveis e mesquinhas criaturas que nunca conseguem enxergar essa tão suprema "verdade".

Quando a Internet tornou-se a fonte do "saber" do mundo, quando a informação passou a ser partilhada e engolida como se fosse a pílula azul, qualquer pessoa pode tornar a maior fantasia num movimento cultural ou numa crença.

Em 1993, uma jornalista, Lisa Holst, resolveu soltar um boato na Internet para ver as voltas que daria e quão densa e cimentada tornaria-se esse boato. portanto, uma coisa inocente, mas que aterroriza tanta gente, como "por ano uma pessoa quando dorme pode comer até quatro aranhas" deu voltas, teve inclusive quem alegasse estudos, pesquisas de sumidades...e toda gente engoliu mais facilmente este boato do que as tais quatro aranhas.

Mais facilmente alguém acredita que foi noutra vida Helena de Tróia do que Messalina, mais facilmente acreditam que foram Rei Artur do que Hitler, e é nessa base que muitos ditos "médiuns" tem feito fama e fortuna. Os "mestres" Moamba da Kizomba encontram sempre um incauto desesperado na fase down da vida para fazer crer que a culpa será sempre de alguém com inveja que fez algum "trabalho" contra.
Pais que sempre foram pessoas que nunca conseguiram alcançar os seus objectivos (talvez uma candidata a miss t-shirt molhada que ficou em último lugar), pegam nos seus filhos e fazem deles "crianças índigo", "crianças de cristal" e outras coisas afins, dando assim algum sentido à vida pequenina e parada. Engolem e chupam os dedos em todas as descrições colocadas online sobre os sinais a ter em conta sobre estas crianças e depositam nelas não só um rótulo como toda a carga de esperanças e de objectivos.

Todas as crianças são especiais e preciosas, cada uma na sua maneira; serão um dia adultos felizes e capazes, mas isso se ao menos derem a chance de viverem como crianças, despreocupadas e inocentes durante a infância, sem cargas horárias de actividades extra escola. Sem andar de casting em casting e de programa de talentos para concursos de mini cantores/actrizes. É deixa-los brincar, sujar-se, ralar joelhos, romper calças e ter as mãos cheias de minhocas ou rãs.

No entanto, quando tudo o resto desmorona na vida adulta, quando nos sentimos presos e irrealizados na vida, parece que faz mais sentido acreditar que um eclipse abre portais arco-íris de energias positivas; que a nova era púrpura de Leontoni predita por um desconhecido estudioso, mas renomado e recomendado por nem se sabe ao certo quem é...fantástico!Ele é o alinhamento de planetas e a Lua Azul em quadrante em Sagitário que traz fortuna e amor para sempre. Ele é o Buda sorridente, que é uma crença MILENAR partilhar no facebook. Ele é os códigos decifrados do Mar Cáspio onde o apóstolo Tiago passou quando vinha a caminho para criar em Santiago a peregrinação máxima cristã. Onde, quem se perdeu de si mesmo, só se encontra lá.

E cada publicação em site cheio de estrelinhas e com música etérea dá cunho de garantia verdadeira em uma "entidade" fora do nosso plano terráqueo e miserável. Fazem-nos crer que somos uns patós, e que sim, se formos capazes acreditamos nos impossíveis; fazem-nos acreditar que está fora do nosso alcance a paz interior se não acreditamos em seres muito superiores a nós, mais perfeitos, generosos ao ponto de pegarem num transporte espacial e vir salvar-nos de nós mesmos.

Sem tocar no assunto cientologia e no gnomo Cruise que é o messias dessa crença, não só há quem acredite que estamos a ser vigiados por estes seres, como também que eles já cá estiveram antes e nos deram vislumbres de alguns conhecimentos. Muito mais avançados do que nós, parece que nos olham com aquele paternalismo de quem olha para um babuíno a coçar o rabo e a cheirar depois os dedos. Peraí, isso não era o "mister" da seleção da Alemanha? Enfim... Quem deu o pontapé de saída desta crença dos deuses alienígenas foi Erich Von Daniken, com um livro chamado "Eram os Deuses Astronautas" que fez furor na década de 70. Mostrando fotos e relatos, fez as comparações baseadas nas crenças de diferentes povos sobre seres "diferentes".

Mas pensando bem, e olhando as coisas de uma maneira racional e observadora, se "eles" andam mesmo entre nós e se deram ao trabalho de ir ao cinema ou ver televisão, viram que a nossa recepção a chegada deles não será a mais amistosa. No mínimo, levam com um balásio, são levados para uma qualquer base secreta e levam com um tubo nas ventas e outro no cu para serem "pesquisados". Ou então, são eles que chegam a matar cá no planetinha azul e somos chacinados e não salvos, servindo de alimento ou então de mão de obra escrava para um objectivo qualquer. Não me lembro de uma relação amistosa e o ET não conta, porque só as crianças é que gostavam dele, o resto... queria tubos e pesquisas. Ok, pronto... Contactos Imediatos e o filme com a Jodie Foster Contac.

No que toca aos crédulos dos mundos exteriores: a história da humanidade é uma repetição de factos. No que toca o hoje, já foi algures no tempo um facto acontecido. Repetimos as mesmas façanhas e cagadas sem lembrar que já não deu certo antes e que tem 98% de não ter chance de novo. Que da mesma maneira que hoje uma pessoa faz compras online na maior das facilidades, ainda há povos na Amazonia que nunca viram ou sabem o que é um rolo de papel higiénico. Convive-se neste planetinha azul as pessoas que usam microondas para aquecer a comida e outras que metem água aquecida na boca no cu das vacas para fazer clister quando elas estão doentes, pelo menos os Masai fazem isso em pleno século XXI. Sempre houve diferenças culturais, de crenças; esta diversidade terráquea faz de nós este tecido cultural interessante e desesperante.

E enquanto cientistas caminham em passos vagarosos e frustrantes na tentativa de conseguir o tele-transporte molecular, talvez a base num futuro bastante distante de uma viagem no tempo, há quem acredite mais facilmente que o gnomo Cruise é o messias de uma religião em que os povos de outros planetas são deuses e que nos vão salvar do Trump e dos terroristas. Que crianças que deveriam ser SÓ crianças, são portadores de uma centelha divina especial e que devem ser tratados como eram os pequenos faraós, deuses na terra.

Acreditar em algo é normal; que se suponha que somos um escalão mais baixo da criação divina, devendo eternamente vassalagem pelo simples facto de termos herdado não só a nossa criação, mas também a culpa dos nossos supostos pais primordiais, é que me mói o juízo. Acaba por ser cómodo jogar as nossas faltas, os nossos erros e o nosso lixo existencial nas costas de um outro qualquer superior a nós e que decide o tipo de vida que devemos levar; sem levar em conta que a lei da acção e reacção é a mais forte que já existiu. Fazemos, recebemos. E a culpa... é toda nossa.

PS: se o leitor em questão veio do planeta XPTO 432 Zorg, aconselho vivamente que dê corda aos amendoins e fuja...o quanto antes...já mesmo.  :)


Apareçam

Rakel

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