Lusos São do Verbo Ir e Das Saudades




Dizem que está no sangue, este bicho carpinteiro que faz com que o lusitano olhe para o horizonte e se pegue a magicar o que estará para além dele. Foi essa necessidade embora que, não colocando de lado as comerciais, resolveram descobrir novos mundos e outras paragens. Foram os primeiros europeus a contactarem os filhos da nação do sol nascente, terra de Shoguns e Samurais. Deixaram palavras e armas, infelizmente, a religião e uma gota de sangue talvez. Não fosse o lusitano aquele que mais gostava de se misturar e que sempre teve boa boca para as beldades das terras longínquas.

Dividiram o mundo ao meio com os espanhóis, fazendo o mapa do país alargar cada vez mais, de velas enfunadas rumo às conquistadas terras, trazendo desses lugares histórias de sol, verde de matas sufocantes ou os cheiros orientais de cravo e canela. De Goa à Macau, de Angola ao Brasil...meio mundo percorrido e calcado pelos pés destes homens que decidiram procurar lar fora de casa, sonhos e ambições por realizar. Mas sempre guardando no peito o cheiro do tacho ao lume com o cozido, o gosto dos enchidos, das ruelas tortuosas da cidade invicta ou da menina e moça a beira Tejo. A saudade de casa, do abraço dos que lá deixaram, da luz quente da lareira e dos afectos; sem saber muito bem quando haviam de voltar.

O lusitano sabe conjugar o verbo ir, sabe lutar, decidido a aguentar os sacrifícios impostos pelo trabalho e parcimónia para alcançar algum conforto na velhice e a segurança de um tecto sobre a cabeça e uma mesa sem que nada falte. O lusitano, tem a consciência do passado, mas tem a gana do futuro, mesmo que isso signifique ter que deixar tudo aquilo que lhe-é de referência. Planeia fazer ambições novas e aprender, desenrascar-se noutra língua, amar noutra gramática ou clima.

Não havia Costas, Coelhos ou Cavacos a mandar ir embora, iam por que precisavam ir, já que o que que havia não cabia nem um pouco no que precisavam.

Pensamos sempre que nestes casos, estas coisas só acontecem aos outros, que nunca nos toca, nem nos nossos, Dessa necessidade genética de sair e correr mundo. Ou até, por que não outra opção senão ir mesmo, pela falta de onde começar ou continuar a fazer pela vida.

Entre todas as coincidências que a vida nos presenteia, e sem aquelas merdas do "o meu também" que muitos pais gostam de fazer...o meu puto mais velho e o da minha mana de coração estão com o verbo ir. O meu para trabalhar e conseguir alcançar os objectivos a que se propôs, (e escolheu um daqueles países gélidos) contando com o apoio da namorada, pois está claro, leva o desencanto de não encontrar cá onde nasceu a oportunidade que qualquer pessoa merece. O da minha amiga, vai para estudar e alargar os horizontes, e quem sabe, uma oportunidade futura de um país que investe no crescimento e não nesta bosta de "vamos inventar mais um imposto" ou vamos fazer de conta que caiu o desemprego contando para estatísticas que as formações obrigatórias sejam "ocupação".

É difícil uma mãe olhar para o filho já adulto e saber que vai ficar distante...sabe-se lá quanto tempo. Deseja-lhe sorte e que nada lhe falte. Amarfanha-se o coração de saudades, mas sei também que não há outra hipótese neste momento. É verdade, eu fiz o mesmo, tomei como meu o país onde não nasci, mas é onde cresci, trabalhei e criei os meus filhos...e vejo assim continuar esta senda do verbo ir e as saudades...

Boa sorte, rapazes...

Apareçam

Rakel

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