Fim do Mundo III - A Volta dos Quatro Cavaleiros



Da última vez que falei dos quatro cavaleiros, a carreira deles tinha sido abruptamente mudada; de temidos senhores do Apocalipse ao desemprego e lixados com f grande depois do "trabalho" com o Sr. Engenheiro. Seguiu-se uma curta, e de pouco sucesso, carreira no mundo da música com a banda de Doom Metal "Os Condenados", coisa que não correu bem por vários motivos.

Para já, a Fome andava de cabeça perdida com a menina Gula, um dos Sete Pecados, que por acaso também fizeram carreira na música numa girlsband e que tal como a deles, correu mal. Pois então a Fome e a Gula andavam sempre a bulha e naquele tipo de relação io-io do vai e volta, não bastando a incompatibilidade de génios, ainda por cima a Inveja metia achas na fogueira, acabando a Fome por deixar definitivamente de comer com o último rompimento de relação. Desmaiava em palco...

A Guerra, por seu lado, tinha o mau hábito de escaqueirar sempre os instrumentos da banda no final dos concertos quando o público não pedia encore, o que a bem dizer, era o normal de cada actuação. Só a despesa dessa destruição bastou para levar que quase entrassem na falência, não fosse a Morte. um senhor prudente e que via com uma certa distancia os imprevistos, e que judiciosamente amealhou uns trocos para os dias maus, estariam agora na fila da sopa dos pobres.

Ei-los de novo em terras lusas, cansados e a precisar de tomar novo rumo...

"Esqueci de passar na farmácia e comprar o proctetor solar factor 80; com este Verão, a minha pele de porcelana vai ficar toda engelhada..." dizia a Peste.

"Olha-me pra este mete nojo outra vez com as manias!! Então não paramos há 3 quilómetros atrás para comprar as gotas pra tuas ventas entupidas da renititi.!!??" perguntou a Guerra

"É renite, meu grande cabeça oca!! Sabes perfeitamente bem que tenho febre dos fenos e isto é só mato, sobreiros, oliveiras e pedras..." respondeu a Peste

"Tás a ver aqui este punho fechado? É a minha receita caseira de Vick, e vais ver que as tuas ventas ficam logo desimpedidas e bem ocas, meu anormal hipocondríaco!" resmoeu a Guerra

Já fazia parte deste grupo este bate boca entre a Peste e a Guerra, como acontece com a maior parte das pessoas que convivem diariamente umas com as outras; desdobrando isso num par de milénios...a tendência é só piorar.

A Fome, lá ia em cima do cavalo esquelético e tão famélico como ele, choramingando as saudades da sua fofinha/princesa Gula; dizia consigo mesmo que havia de conquistá-la de novo e que juntos seguiriam em frente, ultrapassando as dificuldades e logo logo estariam casados e felizes até ao final dos tempos...

"Morte, achas que devo mandar uma mensagem à Gula, pedir desculpas e que tenho saudades dela??" perguntou a Fome.

"Oh branquelo, manda mas é um leitão assado à moça, que ela não é cá das que comem palavras; com aquela circunferência toda de pança ela precisa é de chicha..." ria-se a Guerra

A Morte, que sempre teve uma certa simpatia pela Fome, por ser aquele que tinha a personalidade menos bélica e um ar mais inocente, percebeu que era hora de dar o golpe de misericórdia e cortar o mal pela raiz. Olhou para a Guerra, mal dizendo a falta de sensibilidade daquele cérebro de ervilha, que pisava nos sentimentos do colega e amigo de tantas andanças. Tinha chegado a hora...

"Olha Fome, eu sei que não queres perceber isso, mas tens que aceitar que a Gula está de casamento marcado com Baco e que os dois vão abrir um tasco depois do casório" informou a Morte.

A Fome parou de esticão o cavalo, arregalou os olhos cavados e já sem brilho, levou uma mão ao peito em gesto de dor. Revirou os olhos e caiu com o esqueleto no chão mais branco que o costume e completamente vencido...

"Oh... coitado da Fome, não devias ter dito assim as coisas à ele, ainda acaba com uma depressão e visitas ao psiquiatra." jogou a Peste

"Ora aí está uma boa ideia, assim ias tu com ele e ficavam os dois internados numa casa de chafrados da corneta, e com sorte, ainda faziam desconto de grupo!!" disse a Guerra.

A Morte puxou da da gadanha e fez um olhar de gelar fogueira aos dois desbocados que não paravam de dizer alarvidades sem o mínimo de consideração à dor alheia. Resultou num olhar carrancudo e calado da Guerra e um com a Peste a olhar de esguelha para a Guerra a remoer um "cretino" entre dentes e vários decibéis abaixo do normal.

Com a sua proverbial paciência, a Morte desmontou do seu cavalo, foi até ao colega prostrado no chão e levantou-o.

"Fome, meu amigo, tenta ser mais realista, tu e a Gula...bem, não ia dar certo, aceita o facto, há tantas mulheres mais interessantes pra ti, que até fazem sacrifícios por ti."

"Lembras daquela Banshee, louca como o catano, que gritava assim que te via???" lembrou a Peste

"Mas todas as Banshee gritam, anormal..." picou a Guerra

"Enfim, vamos lá prosseguir a viagem, pois tenho vontade de vos mostrar a casa que comprei para passarmos uma temporada em paz e descanso antes de procurar uma nova carreira". informou a Morte

"Olha, boa ideia!!! Até porque aqui nestas bandas, andam a precisar de uma remodelação de hábitos e costumes, e não há nada melhor do que nós quatro para proporcionar isso mesmo. Anda tudo muito calminho depois do Euro 2016". disse a Guerra

Depois de todos ajeitados e empenhados a chegar ao lar doce lar, continuaram a marcha até um vilarejo do Alentejo. Mesmo antes de chegar a vila, uma casita isolada no meio dum monte, com alguns sobreiros e oliveiras convidava ao refúgio e ao descanso destes senhores.

"Sim senhor, muito bom, catita, isolado e com uma paisagem a perder de vista." disse a Guerra

"Ó valha-me Hades, então aqui com este sol todo vou ficar uma passa de uva seca e esturricada, nem com protector de factor 180 me safo!" dizia a Peste

"Não seja por isso, queres um lugar fresquinho e com pouca luz? Tem ali um poço, e bem podes lá fica que ninguém vai sentir a tua falta." apontou a Guerra.

Enquanto aqueles dois continuavam a trocar insultos e directas, a Morte abriu a porta da casita, deu passagem à Fome, que se jogou no sofá acanhado da sala simples, enrolando-se numa bola e a curtir a dor de corno mal crescido. A Morte viu no chão toda a correspondência acumulada e que agora vinha em nome do Sr. Boa Morte. Abriu uma que dizia FINANÇAS e, se a morte já era branca, ficou transparente ao ler o conteúdo.

Fechou os olhos e fez um esforço para lá do gigante para conter a fúria e a frustração, que por acaso até eram primas dele.

"Calem já com essa merda de bate boca vocês os dois!!! Há coisas mais importantes a discutir" disse a Morte em fúria contida.

Todos ficaram espantados e calados a olhar para a Morte, que sempre foi tido e havido como cortês, cavalheiro e diplomático.

"Mas que raios se passa? Nunca te vi assim..." disse a Guerra espantada

"As Finanças vão subir o IMI por causa da paisagem e do sol que as habitações tem como "privilégio", o que quer dizer que aqui, em terras lusas com mais de 250 dias de sol por ano...estamos mesmo fodidos..." disse a Morte.

Todos perguntavam aos seus botões, que raio de sorte havia calhado na rifa para ter tanto azar ao mesmo tempo. Perguntavam se realmente a própria existência deles era necessária, visto que Portugal permitiu o nascimento de uma Geringonça que, mesmo perdendo ganharam, e depois fazia alarvidades destas. Prometiam e depois descomprometiam-se. Fome? Doença? Guerra? Morte? Pah... quem precisa deles???

Os políticos estão mais aptos e são mais impiedosos do que eles...

...o que mais virá pelo horizonte?


To be continued


Apareçam

Rakel.


Comentários