Em termos de variedade musical, olhando para lá do horizonte riscado pela ditadura das etiquetas discográficas e das apostas nas carinhas larocas, ficam ao longe, numa terra distante, os projectos alternativos.
Há uns anos atrás, e a bem dizer, no século passado, enquanto o Grunge destilava a sua incompreensão deste mundo capitalista e descartável, outros sons despontavam e resgatavam sons entre o santo e o profano. Misturaram as crenças e devoções juntamente com a luxúria e o pecado, fazendo então nascer uma outra sonoridade e uma nova linguagem que deu espaço para que outros se juntassem ao estilo.
Bem no começo dos anos 90, Michael Cretu deu o pontapé de saída nesta miscelânea de sons com o projecto Enigma; usando o canto gregoriano e o latim misturado com o francês como toque de originalidade para falar dos nossos lugares obscuros, proibidos, mas sempre procurando a luz.
Foi uma pedra no charco e fez sucesso... depois avançando com o projecto experimentando outras sonoridades e cenários.
Logo a seguir, o projecto de Eric Levi viu a luz do dia sob o nome de ERA, mais uma vez buscando entre o latim e juntando o grego, o canto gregoriano e letras que significam seja lá o que ele pretendia, chegou a fazer parte, com o tema Enae Volare, da banda sonora do filme francês Les Visiteurs. Engraçado será também uma certa mística que envolve grupos que realizam e fazem este tipo de música, onde sugere-se que eles, os músicos, fazem parte de determinadas vertentes espirituais. Na verdade, tanto faz aquilo que acreditamos ou não, mas sim aquilo que a música nos transmite e aquilo que conseguimos sentir com ela.
No encalço deste frades cártaros seguiu-se vindos da Alemanha os E Nomine, um projecto que saiu do estilo New Age ou Downtempo para entrar num Trance/Techno e visivelmente virados para os lados dos anjos e demónios...quem é anjo, quem é demónio? Valeu-lhe alguma visibilidade fora de portas a ousadia de rezar o pai nosso em ritmo Techno... mesmo que quem dançasse nem percebesse a letra.
Mesmo já a entrar no ano 2000, entra em cena E.S.Posthumus, já no estilo épico e meio pé no New Age a fazer as delícias dos realizadores de filmes e afins. Digamos que sem pejo ou vergonha fazem música do mundo e com fito na grandiosidade de grandes telas de cinema.
Estas bandas, ou melhor dizendo, projectos musicais, mesmo não estando a desovar um álbum novo por ano, continuam activas e persistentemente a tentar sobreviver neste mundinho complicado musical. Ou somos fiéis aos nossos ideais e seguimos teimosamente contra a maré, ou jogamos a toalha no chão e decidimos virar para outra linguagem. A única destas bandas que fechou portas, foi o E Nomine, que agora pela mão do fundado, o Sr Weller, entrou numa de Heavy Metal e com uma banda chamada Schlafes Bruder (santinho!!). E lá começa a minha habitual birra com os vídeos que estas bandas fazem...sempre a mesma coisa, nem ponta de originalidade...
Lamentavelmente, aqueles que fizeram músicas que abalaram uma certa moral arcaica a falar de satanás, anjos e deus, decidiu enveredar, com muita pena minha, por essa via conhecida do "pai, perdoa-me, sou um pecador e quero ir para o céu" (mas quem no seu juízo perfeito escolhe ir para o céu quando tem tanta gente interessante, mesmo que pecadora, no inferno???). E voltamos ao género da capa e espada, somos os defensores da cruz e do santo nome... e pronto. No tema Heiling socorre-se mais uma vez dos coros e de um antigo cheiro a E Nomine, mas sem o som techno...
Da minha parte, acompanho como posso estas e outras bandas que teimosamente seguem dentro ou um bocado fora dos parâmetros que escolheram como marca de origem o seu caminho difícil mas original, na maior parte dos casos. Pelo menos dá a escolha de sair da meninas rebolantes de bunda grande ou dos temas "tu e eu e eu e tu" que estão longe das letras complexas e que até hoje estão tatuadas no nosso imaginário.
Este post foi um pedido directo de um/a leitor/a que chegou à este blogue por meio de um título que o enganou e pensou que seria uma matéria sobre os E Nomine. Espero sinceramente que o tenha ajudado e que, mesmo com as mudanças do projecto, continue a gostar deste mundo diverso, interessante, desconhecido mas convidativo que é o dos sons alternativos.
Apareçam
Rakel.
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