Os Significados Do Verão . Apanhar...




Verão na minha infância, coisa que durou até aos 12 anos, era uma alegria: os dias eram passados na rua a andar de bicicleta, comendo todas as porcarias possíveis e imagináveis, brigando e voltando para casa um bocadinho descabelada, suada, mas feliz de saber que no dia seguinte não tinha aulas.
De noite a conversa era outra, a rua ficava cheia dos vizinhos cá fora, sentados em banquinhos ou nos degraus da entrada, trocando fofoquices, piadas ou "causos" da vida. Pra mim era sair com a miudagem a cata de pirilampos. Eu sou do tempo, que ainda que mesmo que fosse na cidade, haviam pirilampos e eu, sempre munida de uma caixinha de fósforos vazia, ia enchendo a caixinha conforme podia. Desalojava então as joaninhas que havia apanhado durante o dia num terreno baldio do quarteirão, e para não ficar cá com manias, trazia junto uma colónia de pulgas e calças cheias de mato... e aí apanhava também uns ralhetes e uma chinelada.



Minha mãe contava então, da caça aos grilos que faziam na aldeia dela no Alentejo, lá longe em Portugal, que agora é o meu aqui. Falava das gaiolitas para fixar a estada do bicho para cantar de noite em modo de solista, e nem eu pensava que um dia, ia atar uma guita à gaiolita e desce-la pela janela da casa de banho, só para dar descanso aos meus ouvidos numa noite tórrida de Agosto em Santarém.



Já lá pelos 15 anos, (que como dizia a minha madrinha, eu já era uma mocinha, seja lá o que isso era) em plenas férias, já não me encantava tanto andar a cata de pirilampos e joaninhas, já que a viajar pelo sul do país, a minha diversão era o mar. Aí dava cabo dos meus alicerces cardíacos a olhar (ok, era a babar) os surfistas gaúchos, que eram simplesmente um colírio para os olhos.  Acreditem a Gisela Bündchen não é a única maravilha gaúcha, e se a memória não me falha, é a terra das maravilhas...Voltando para o parque de campismo, ao cair do dia, aí era um joguinho amigável de volei entre brasileiros e uma mistura de uruguaios, argentinos e todos os representantes dos países vizinhos. Não havia quem ganhasse ou perdesse, acabava tudo em conversas depois do jantar, namoriscos ariscos e o olhar de meter medo do meu pai...


Se calhar isto tudo pode parecer demasiado simplista, pacóvio, sem graça até. Mas eu ainda me lembro da cara das pessoas com quem conversava, e jogava volei, lembro dos meus amigos que comigo iam apanhar pirilampos...

...hoje a coisa é mais evoluída, mas não sei se para melhor.

Há 20 anos atrás, quando saiu a série animada dos Pokemons, coisa que só chegou aqui por terras lusas uns anitos depois começou entre as crianças uma febre de cartas, que enchiam os meus ouvidos e esvaziavam a minha carteira. Para a minha desgraça. É que havia aquela coisa das batalhas de cartas, as raras, e sabem lá a aporrinhação que era dois filhos, em modo estéreo, a pedir os famigerados pacotinhos de monstrinhos imaginários.  De certa forma, tirei proveito da situação, premiando ou retirando as ditas cartas conforme o comportamento ou melhor, a falta dele. os miúdos andavam completamente chanfrados com essa febre de cartas e batalhas.

Ok, vinte anos depois, pegam nesses bicharocos virtuais (que depois dos Tamagotchis e dos Digimons...venha o diabo e escolha) e pegam também nos viciadinhos dos telemóveis inteligentes e likes, para lançar novamente a febre de "vamos apanhar todos"...  essas coisas que não existem.

Transito parado, acidentes, brigas, invasões de lugares públicos e mais um par de botas...e tudo de olhar pregado no telelé, a procura do Pikachu ou de algum raro. Duas ou três da manhã, gente que se recusa a despejar o lixo no contentor no final da rua, que acha que ir até à esplanada tomar umas fresquinhas é chato e sem interesse se não tiver wifi, anda a deambular como naquele filme de zombis...não a procura de cérebros, mas de bichinhos virtuais. Tantos gatos e cães aí pelas ruas, abandonados, e ninguém liga ponta de corno. Não seria uma mundo bem melhor se apanhassem esses desalojados todos e achassem lares como devem de ser para eles.

Seria idiota e muito hipócrita da minha parte dizer que os jogos electrónicos são "perversos" e uma criação do demónio. Desde os 13 anos a jogar nos diferentes "aparelhos", saudosa do Spectrum que segundo parece, há-de sair uma nova versão estilo PSP (PlayStation Portable). Preferencialmente, a minha escolha recai na consola, quando não tenho outra coisa para fazer, quando a TV só tem lixo e novelas e quando não há saídas combinadas. Mas ficar pregada no pequeno ecrã do telemóvel, que já agora, sendo o terceiro em 25 anos, faleceu honrosamente em cumprimento do dever, não é propriamente aquilo que acho saudável fazer em tempo de ver amigos, apreciar o sol e o Verão.


Diga-se de passagem, ainda não tive o prazer de dar de caras com um pirilampo ou joaninha este ano; parece que as noites soalheiras não tem esses visitantes nocturnos que são os grilos e o os bichinhos de luz verde a chamar pelas suas donzelas. Mas ganhei uma cigarra na varanda, que não sei como veio cá para... e se gaja tem cá um pulmão do catano!!!


Divirtam-se

Apareçam

Rakel.

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