Illusion & Dream - Quando a Tampa da Marmita Salta Fora





Todas as pessoas tem limites, uns mais elásticos e ginasticados do que outros, mas no geral temos aquela linha que estica até rebentar. E digamos que os meus limites tem tido a proeza de virem a ser esticados e testados de diferentes formas; tem sido esticado por mim e por outros que influenciam a minha vida.

Recentemente a minha linha estourou. Há coisa de dois dias levou uma guinada e pum! Partiu.

Digamos que uma coisa é estar chateada, outra será estar enfurecida e outra (que é a linha que parte o limite) é aquilo que na terra brasilis chama-se "completamente emputecida da vida".

Estou completamente emputecida da vida.

Estou-me nas tintas com os paizinhos vestidos de minions a clamarem pela escola privada, isso só me deu ganas de comer um pacote inteiro de Cheetos por associação de imagem; ou pelo Costa a dizer que os profes de português se safam melhor lá fora; por outras palavras saiam do país. Que se dane, quero lá saber. É aquilo que permitem fazer, que escolhem lutar e ter ganas pelo país, como essa fome de vencer... num europeu de futebol. O resto é só pra reclamar ao ver o telejornal das 8.

O que me dana o cérebro e que colocou as minhas duas neurónias em pé de guerra foi esse tomar de vitimização que deu espaço para dizer: eu sabia que ia acabar assim. E claro, mais do que certo dessa clarividência enorme do conhecimento da natureza humana, as atitudes foram previsíveis. Porquê isso aconteceu sozinho e sem ponta de intervenção, ou melhor, da falta dela.



A verdade acima de tudo

A sério? diria uma das minhas neurónias...

Toda gente gosta de dizer que prefere uma verdade pouco agradável a uma doce ilusão. Isso na teoria, na prática a coisa não corre por esse lado da vida. Na maior parte das vezes, o que realmente acontece é que nem sempre as verdades são bonitas, nem boas de engolir. Verdade não se veste de seda e usa pérolas. Dizer o que realmente pensamos poderia ser o paradigma duma vida melhor, mas não é. Chateia-nos a moca, fica-se respingado e manda-se umas bocas e colocam-se na pele da indignação sofrida. Mas é verdade. Uma pessoa se está triste não há de colocar o sorriso 46K e fazer de alegre. Eu não sou capaz disso, como sou incapaz de dizer que está tudo bem quando não está. Ora porra, mas então, dizer a verdade não é aquilo que se espera das pessoas? Pelo que parece não, o ideal é passar sempre uma imagem de tudo bem, não falar em problemas e aporrinhações e viver no mundo dos sonhos.



Nada acaba bem

Ohhhh, pelo amor dos deuses... diria a outra neurónia...

Se nada acaba bem é porquê não houve grande esforço para que corram bem. São preciso duas pessoas para isso. Mas não, pelo que parece é: deixar andar e assistir, apesar da insistência de uma das parte que um diálogo definhe e que tudo se transforme em monólogo. Aliás, é uma táctica bastante boa de vitimização: não se liga ponta, deixa andar, passar muuuuuuito tempo e depois dar o ar da graça como se nada fosse. E esperam que a reacção seja alegre e bem disposta. Pegando no tópico acima: dizer a verdade, por muito azeda que seja, não deixa de ser verdade. Aí passam para o tema: das palavras que magoam. A sério? E a falta delas? Fazem que efeito? Talvez eu e as minhas neurónias ainda não estamos assim avançadas o suficiente para perceber esse tipo de diálogo. Se escolho não responder, não dar largas ao meu geniozinho de merda e esta mania pérfida de dizer o que penso, aí temos uma nemisis que não se percebe.

Se há leve ilusão de que existe alguém perfeito neste mundo, deixem que vos diga que é um belo sonho. Toda gente tem defeitos, não estão sempre de bom humor, a vida... não corre sempre bem, há momentos intensos bons e terrivelmente maus. Mas quando isso tudo faz parte daquilo que se toma como relações humanas, é normal pensar que isso, por muito chato que seja é a vida das pessoas.

Chamam de egoísmo ao medo, de defesa a cagufa, aos hábitos de distância... como o assistir de uma derrocada anunciada. E espera-se que tudo faça luz na vida, pelo simples facto de ser mais fácil assim do que confiar, nem que seja por uma puta vez na vida. É tão mais fácil viver assim, na sempre evidência de um mau fim. Não se investe nada, não gerência-se por nada... porquê no final vai tudo mesmo acabar mal, não é? Esse lado fatídico lusitano tira de mim um vernáculo de camionista do Porto, onde caralho vira pontuação.

Mas verdade seja dita, uma vezes somos culpados de dar mais valor às pessoas do que elas no valorizam, e isso não é culpa de ninguém. São escolhas, e cada qual sabe perfeitamente conde encaixar os afectos de amizade, de pessoas importantes na vida. Até se tem afectos para dar.

A única coisa que não sou capaz de aceitar, é que não percebam que, nessa defesa impenetrável para que ninguém tenham a chance de magoa-los, acabam por afastar e magoar mais gente. Tirem essas ilusões de que estão acima de toda gente, parem de sonhar que haja alguém que consiga, a toco de picareta e força bruta, arrebentar esse muro sempre em construção. Aceitem o facto que não fazem tudo bem e percebam que, há quem aceite os defeitos, mas não a indiferença; e quando a indiferença tem consequências aí resolvem transformar em drama e do drama se transforma depois num "eu sabia que ia acabar assim".  Isso é premeditado e entristece.

Um drama tem pelo no máximo 3 actos. O final... depende do que realmente se quer ou não reescrever da história. Mas num país de fome da bola, onde toda gente se acha o mais esperto do mundo, o mais certo é desistir... porquê tudo vai acabar mesmo mal, não é? Bela filosofia de vida.

No entanto, como vem sendo apanágio da minha existência, nada esperta como os demais, o "completamente emputecida" acaba por aqui e respiro fundo. Continuo a ter fé nas pessoas, na capacidade de evolução e mudança, pois não acredito que só seja eu nesta linha de pensamento e conduta. Podemos ser melhores.  E sim, estou com uma dose de superioridade, só para variar.


Apareçam


Rakel.

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