Quando Tudo Faz Sentido




Falemos como se eu aí estivesse, com uma chávena de chá nas mãos, como se estivéssemos descontraidamente na conversa, como tantas vezes estivemos. A falar de tudo e mais alguma coisa, das nossas "coisas", deste mundo confuso ou das nossas aspirações.

Tantas vezes falámos que nada acontece por acaso,que tudo tem uma razão de ser e que, mais cedo ou mais tarde, todas as peças encaixam no lugar certo e percebemos o que custou-nos tanto a entender, compreender e aceitar. E tantas outras vezes duvidamos disso mesmo, porque naquela hora parecia tudo tão injusto, tão fora do lugar, tão irreal. Calhou-nos algumas vezes, umas muito poucas se formos honestas, a revolta, a tristeza e a desilusão. Faz parte do currículo de qualquer mortal. Mas estão a acontecer menos vezes,estamos a aprender pelos erros e ajeitando acertos. Ganhámos experiência com o passar dos anos e das rebordosas.

Não haverá no mundo duas pessoas tão diferentes entre si e ao mesmo tempo tão compatíveis e ajustadas. E por isso mesmo é que este tempo todo tem passado e continuamos a tomar chá com conversa pausada, quando calha um vinho, umas tapas e conversas chaladas ou então cerveja preta e andamos a bulha pelas pipocas e rimos de tudo que vemos. Há dias que pedem chá e conversas mais profundas e intimistas e noutros apreciamos o sol, os caracóis de aposta e o mar, o dia a descair no horizonte e puto que fazer.

Deixa-me dizer-te uma coisa a sério: a vida nos ensina tudo. Ensina-nos que temos que ser bons e honestos; ensina que temos que trabalhar para conseguir os nossos objectivos, sejam eles quais forem. A vida exige de ti sucesso, mais tarde, numa determinada idade, que assentes, que constituas família e que sejas feliz. Exige que cumpras as leis morais e sociais, que sejas forte, que aguentes até ao limite tudo. E toda gente tenta alcançar isto tudo apesar de que, pelo caminho, a questão da felicidade fique penhorada entre o que é exigido e aquilo que não se ajusta na vida prática.

A única coisa que a vida não te ensina e veladamente exige de ti, é que saibas viver bem contigo mesma. Nunca te deu uma pista, um vislumbre de guia prático de faça-você-mesmo. Mas fatalmente há de chegar o dia que parámos, respiramos fundo e nos damos conta que é hora de parar um bocado e fazer um téte à téte com o nosso myself. E aprendemos por escolha própria fazer esta paragem e tomar distância do corriqueiro, do estimado por tantos, desejado por outros e tomamos tempo de montanha. As nossas experiências, em horas diferentes, com assuntos diferentes acabaram por ser parecidos.

Por isso mesmo, não preciso de testes de compatibilidades, nem que me leiam nos mapas e estrelas, nem nos anos que duram as perfeitas e verdadeiras amizades, que o nosso encontro nesta vida não foi por acaso; que de tão acertado e honesto que é... causa estranheza à tantos e formam-se filmes e inverossímeis teorias. E estamos nas tintas.

Poderá ser que neste momento a distância física torne-se um impedimento para que os chás, conversas e risadas sejam mais frequentes. Mas não muda uma nica em nada do que anos, décadas de uma frontalidade honesta e aberta, do despojamento combinado por respeito mútuo, faça da nossa amizade um motivo de orgulho e de uma felicidade serena.  E para te dizer a verdade aqui escarrapachada em letras e num post dedicado à nossa amizade... é este o meu fito, meu objectivo de um homem perfeito.

Alguém com quem posso ser rídicula e estranha, abrutalhada por vezes e meio patética em outras e que não me julga condena e me coloca na prateleira da imperfeição. Que se sinta a vontade de ser honesto e como verdadeiramente é.  Que consiga enxergar o meu lado genial combinado com o absurdo e que mesmo assim, passe anos e anos e não se sinta intimidado ou ameaçado, nem menos nem mais. Mas por igual. Porque sim. Porque faz sentido. Primeiro um grande amigo...depois tudo o resto.

Tu, que vais a cada dia seguindo novos horizontes tens aqui a mana, a amiga, a chalada dos disparates e das bocas foleiras e ácidas, pro bom e pro menos bom, isso nunca há de mudar. Na diferença... eu gosto de raízes, de aconchegos. Tu tens rodinhas nos pés e asas na alma. Eu preciso dum lugar para ficar, tu precisas de horizontes abertos e por descobrir. E isso, apesar de parecer uma diferença, é no fim das contas o amortecedor de uma para outra.

E como nada disto foi por acaso, só posso sentir-me grata pelo facto de nesta vida ter conhecido à ti e que me apercebo o quão parvas são as pessoas nos seus conceitos de perfeição e felicidade. Nos já entendemos que estas coisas... são um bocado diferentes do que nos foi impingido. Só desejo para ti o mesmo que desejo para mim: muitas felicidades em tudo que faças e que venhas a ter.

Então... nada muda. Seja aqui ou na Conchinchina.

E este post fiz pra ti, porque sim e por fazer tanto sentido.


Rakel.



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