Há uns anos atrás, os ovos eram os grandes vilões da saúde e as restrições foram mais que muitas; o azeite foi, antes dos ovos, visto como uma gordura nociva e o café um deusmálivre do estômago e o chocolate, a desgraça para o corpo e pele. Conforme a ciência (essa cena tão exacta que vai mudando conforme as descobertas são feitas) vai descobrindo cada molécula e o que fazem esses pedacinhos de informação, vai mudando o panorama da alimentação.
Os ovos contém lecitina, algo verdadeiramente importante para o cérebro e para quem estuda; o azeite é uma das melhores gorduras que ajuda a fortalecer a estrutura óssea além de conter uma data de vitaminas importantes contra o raquitismo; o café ajuda os movimentos peristálticos do estômago e intestinos além de activar o cérebro e fazer com que os neurónios acordem; o chocolate segundo os recentes estudos, protege o coração. Mas tudo em doses racionais...
...mas
Agora toda gente, sem saber ao certo, sofre de doença celíaca e decide abolir o glúten em nome da saúde. Daqui uns tempos, há de sair um estudo provando que afinal só uma pequena percentagem de pessoas são REALMENTE intolerantes aos glúten e que é saudável integrar na alimentação. Mas a moda passada em cada ginásio, em cada workshop alimentar é que deve-se retirar o glúten da alimentação. Pergunto quem lucra com isso? Os donos das lojinhas de produtos saudáveis?
Você que me lê, e que até come um pão caseiro gostoso e feito sem processos industriais, vê-se agora encurralado num clube visto de esguelha pelos "saudáveis da moda". "Ela come pão", sussurram pelos cantos...
Quem não pode REALMENTE (por que se provou através de exames) comer por que que é intolerante ao glúten, fica inibi do de comer trigo, aveia, cevada, centeio (e seus derivados) e se desunha na farinha de arroz que, nutricialmente falando não tem nada, e achando que faz a coisa certa.
Depois tem a história do leite, outra encruzilha: leite animal não pode, isso vai então levar ao leite vegetal, certo? Aí não digerem bem o de soja, o de coco é gordo (e para quem agora pegou a moda de estaca de substituir o azeite pela gordura de coco, fica a saber que uma colher de sopa dessa maravilha tem tantas calorias quanto uma lata de leite condensado) o de arroz é água branca, o de amêndoa fica num preço proibitivo. Em como ficamos? Lucra a lojinha dos tais produtos saudáveis.
Abolição total da carne é tido como o correcto de alimentação saudável e ecologicamente melhor... sem crueldade animal. E só há pouco tempo descobriu-se que as plantas comunicam, o que quer dizer que tem um tipo de inteligência, embora nós, os superiores humanos, ainda não temos a capacidade de "ouvir" e entender essa linguagem. Mas sofrem na mesma quando os arrancamos do solo ou das árvores, morrem aos pouquinhos na fruteira ou no frigorífico, mas a nossa consciência fica apaziguada pelo facto de não os vermos sangrar ou ouvimos os gritos. Fala sério...
Em primeiro lugar, nós humanos temos uma dentição ornívora, que corresponde aos que comem alimentos tanto vegetais como animais. A nossa própria estrutura molecular é feita para aceitar tanto uns como outros e ainda não houve quem evoluísse uma dentição e sistema digestivo de um ruminante. Não arrancamos as ervas com os beiços e usamos os dentes planares para esmoer as ervas que ficam a fermentar longamente na tripa. Temos dentes para cortar, arrancar e moer. Um verdadeiro robô multi funções.
Mas aí vem um tipo armado em esperto, de seu nome Pierre Dukan que pega numa dieta da década de 70 e introduz um pequeno detalhe (que é retirar TODA a gordura) e faz a milagrosa e perigosa Dieta Dukan. Se emagrece? Claro que sim, mas perdem-se uma data de vitaminas e sais minerais pelas inúmeras restrições. Fica-se com um corpo de deusa mas com umas análises do sangue pavorosas.
O falecido Steve Jobs tinha como dieta de anos a aparente saudável dieta da fruta, então o actor que fez o papel do Steve para o cinema, o Ashton Kutcher, tentou fazer a mesma coisa num tipo de "criação de laboratório de personagem" e acabou no hospital com os primeiros sintomas de pancreatite. É que fruta tem arsénico, em pequenas doses é certo, mas digerida e expelida quando é ingerido em quantidades racionais. Se exageram... acumula-se no fígado e pâncreas... e o Steve morreu do quê? Pois é...
RACIONAL é o exercício menos feito pelas pessoas que podem e devem exercer o uso da lógica, num mundo de informação e de escolha pessoal. Infelizmente, nós ainda não conseguimos viver de fotossíntese, daí que é melhor repensar no que é vida, ecologicamente correcto e o que é saudável.
Imagine-se há mil anos atrás, nas festividades pagãs das colheitas, à roda da fogueira, a comemorar a abundância que a natureza e o trabalho árduo proporcionou... e a donzela ao seu lado recusa a comer o pão de centeio acabadinho de se fazer porque tem glúten, e ai não pode, e recusa comer o javali, ai credo é carne gorda e o bichinho sofreu e fica-se pelos nabos e rabanetes cozidos e com zero energia para atravessar o inverno que há de ser rigoroso e penoso. Ou então o Gluk, o homem das cavernas que andou dois dias atrás de uma caça e trás uns pardais, vê a Guna, a sua companheira recusar o alimento e a chama-lo de cruel por ter matado os pobres animais na base da pedrada. Não teríamos chegado até aos dias de hoje sem uma alimentação variada.
Mas chega-se no agora e temos um povo informatizado e que emprenham pelas orelhas e acabam por ser uns hipocondríacos funcionais apenas por terem ouvido dizer que há uma doença que não digere o glúten e que os faz sentirem-se logo muito mal com uma nica de pão.
Minha mãe, alentejana de gema, num belo dia tirou uma licenciatura em nutrição e resolveu impor o lacto-vegetarianismo com os meus irmãos... que logicamente comiam o que ela punha na frente e depois se acabavam nas pizzas, grandes bifes com batata frita, e a minha mãe sem saber ou ver (nos dias que dava consultas até mais tarde ou saía para conferenciar) e era um rega bofe. Até que ela lá percebeu que não se impõe uma dieta, da mesma forma como não se impõe uma fé ou um gosto.
O povo indígena de qualquer território consegue ser mais saudável que qualquer ginasticado e dietético homem civilizado. Comem fruta na mesma proporção dos vegetais, carne e peixe, com uma incidência muito menor de problemas de peso ou cancro. Basta pensar que os que não aderiram à civilização não sofrem de obesidade...
E eu me pergunto, se as pessoas que lançam estas modas e critérios alimentares e de vivências, tem o real conhecimento no impacto que fazem nas vidas das pessoas. Se sabem até que ponto podem prejudicar mais do que ajudar e que cada caso é um caso e que é tão ruim favorecer uma indústria igual à demais que apenas tem um rótulo de saudável.
Mas parece que todos querem ser saudáveis à viva força, sem saber balancear direito o que entra pela boca. Pois estar satisfeito não é a mesma coisa que sentir-se empanturrado e a ter que desabotoar as calças depois do almoço.
Bom senso, bom senso...se faz favor.
Apareçam
Rakel
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